sexta-feira, 9 de março de 2007

VISITA DE BUSH - BUSH, LULA , ETANOL, BIODIESEL

BANCO DE INVESTIMENTO WESTLB

O banco de investimento WestLB, coordenador da oferta da Infinity, corre atrás de projetos em todo o País.
coordenador da oferta da Infinity, corre atrás de projetos em todo o País.
Parece ser a crença que carrega boa parte de quem vem aqui investir em usinas de álcool, e que eleva a disputa por ativos no Brasil. A própria Infinity tentou comprar quatro destilarias do Grupo Tavares de Melo. A francesa Louis Dreyfus, que tinha três usinas, bancou a oferta da Infinity e ficou com os ativos. O banco de investimento WestLB, coordenador da oferta da Infinity, corre atrás de projetos em todo o País.
Segundo Angélica Wiegand, vice-presidente-executiva de operações estruturadas do banco, o 'apetite' do setor financeiro para financiar operações desse tipo no Brasil é 'enorme'. O banco estrutura cinco operações de compra de usinas ou de construção no País.
A Clean Energy Brazil (CEB), empresa criada para operar no mercado sucroalcooleiro brasileiro, obteve no fim do ano passado o equivalente a mais de R$ 400 milhões, numa oferta pública na Bolsa de Londres. A empresa negocia a compra de 49% das ações do grupo paranaense Usaciga. A Etanalc, do empresário do ramo imobiliário Áureo Luiz de Castro, já anunciou parcerias para projetos, num total de US$ 4,2 bilhões, para a construção de usinas em Estados sem tradição na produção de etanol, como o Tocantins.
É difícil ainda avaliar quais planos são de fato economicamente viáveis, mas a febre é inédita. E a explicação é simples: 'Claro que depende de cada projeto, mas as expectativas são de que o retorno sobre o capital não é menor do que 20%', avalia Luiz Eduardo Costa, sócio da Brasilpar, consultoria especializada em fusões e aquisições no setor de açúcar e álcool.
(Publicada domingo)

BRASIL BUSCA APOIO DOS EUA PARA FAZER DO ÁLCOOL "COMMODITY" .
AMERICANOS SÃO IMPORTANTES PARA A PADRONIZAÇÃO DO PRODUTO, O QUE É NECESSÁRIO PARA QUE TENHA COTAÇÃO EM BOLSA DE VALORES
CELSO AMORIM ADMITE QUE LULA NÃO VAI CONSEGUIR ARRANCAR DE BUSH O FIM DAS BARREIRAS ÀS EXPORTAÇÕES DE ÁLCOOL COMBUSTÍVEL AGORA

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo tem uma expectativa ambiciosa para o encontro dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush na próxima sexta-feira, em São Paulo: a de que os EUA sejam a principal alavanca da pretensão brasileira de virar exportador mundial da tecnologia do álcool combustível e de transformar o produto em "commodity", com cotação em Bolsa.
Ainda que por trás do interesse econômico da visita esteja a busca de um antídoto ao protagonismo de Hugo Chávez na América Latina, dificilmente haveria clima na diplomacia para uma conversa tão explícita sobre o tema.
Objetiva e diretamente, os dois deverão tratar das pretensões mútuas sobre biocombustível. Os EUA são importantes para a definição de uma regulação internacional sobre uso e distribuição do álcool e para a padronização do produto, medida necessária para torná-lo "commodity". Além disso, os EUA são decisivos para financiar a propagação de usinas de álcool na América do Sul, América Central, Caribe e África.
"O Brasil tem tecnologia e pouco capital. Os EUA têm muito capital e um enorme interesse estratégico na questão do biocombustível", disse o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia.
A intenção dos EUA é substituir cerca de 20% dos combustíveis consumidos internamente por álcool. Brasil e EUA invocam quatro argumentos a favor da parceria:
1) Independência na área de energia, crucial para os EUA;
2) Reequilíbrio no comércio exterior nos países-alvos, que diminuiriam as importações e aumentariam as exportações;
3) Geração de empregos em grande escala, com a expectativa de redução do fluxo migratório aos EUA; 4) Os efeitos no meio ambiente, que mobiliza a sociedade americana.
O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) admite que Lula não vai conseguir arrancar de Bush o fim das barreiras às exportações de álcool de imediato. "Se será insinuado ou cobrado, de alguma maneira será discutido, mas sem a expectativa de que seja resolvido agora", afirmou.
O Brasil é o principal exportador do combustível, com 3,5 bilhões de litros/ano, dos quais 2,5 bilhões vão para os EUA.
Segundo o embaixador Everton Vieira Vargas, subsecretário de Assuntos Políticos do Itamaraty, as exportações do combustível para os EUA subiram de US$ 70 milhões (2005) para US$ 750 milhões (2006).
O Brasil já está incluindo a Petrobras no projeto de regulação, produção e distribuição do álcool. Após a conversa com Bush, Lula espera ter trunfos para atrair a iniciativa privada brasileira a se lançar no mercado internacional.O país produz cerca de 17 bilhões de litros/ano de álcool de cana-de-açúcar e planeja pular para 30 bilhões em cinco anos. Em caso de parcerias, o Brasil entraria sobretudo com a tecnologia e os interessados, com subsídios e infra-estrutura.Quanto aos países desenvolvidos, caso especialmente dos EUA, a intenção é que entrem com o capital pesado. O que pode ocorrer, por exemplo, na construção de uma fábrica de álcool combustível no Haiti.(Publicado domingo)

DORA KRAMER
ESTADÃO
De olho na vizinhança
Por mais que a expansão da produção de etanol como fonte de energia alternativa ao petróleo e, por conseqüência, a possibilidade de abertura de novas parcerias comerciais com os Estados Unidos estejam no topo das expectativas, a visita do presidente George W. Bush ao Brasil e outros países da América Latina na semana que vem tem caráter essencialmente político.
Na visão de dois ex-ministros das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia e Celso Lafer, o interesse principal do governo Bush no momento é ver o que pode fazer para reduzir o antiamericanismo crescente na região.
Ambos concordam que o fato de a preservação ambiental e a busca por fontes de energia alternativas ao petróleo estarem na ordem do dia no mundo cria um excelente “gancho” para a retomada da agenda latino-americana, abandonada pelos Estados Unidos nos últimos anos e importante para o governo falar ao público interno hispânico, um eleitorado de muito peso.
A pauta comercial serve também para evitar quaisquer ilações de subserviência política.Mas, na substância, Lafer e Lampreia acreditam que o objetivo central de Bush seja o de se aproximar de governantes que funcionem como contraponto ao crescimento de lideranças francamente hostis ao seu país na região: Hugo Chávez (Venezuela) e seus discípulos da Bolívia, do Equador e da Nicarágua.
“O fenômeno mais novo, e preocupante para os americanos na América Latina, é a emergência de Chávez e o aparecimento de seguidores como Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador) e Daniel Ortega (Nicarágua). Quando vem ao Brasil e vai ao Uruguai, Bush busca valorizar os presidentes Luiz Inácio da Silva e Tabaré Vázquez, mas Lula em particular, na condição de interlocutores mais modernos e moderados”, diz o embaixador Luiz Felipe Lampreia.
Na opinião dele, pode ser até que o governo americano alimente a idéia de que Lula exerça alguma influência, em algum nível, junto à banda antiamericana da América Latina, principalmente no tocante aos planos de nacionalização de empresas.Para Lampreia, é claro que nada disso será pedido ao presidente brasileiro, que também não deverá alterar suas relações com os vizinhos. “Mas nesse tipo de visita o simbolismo é tudo e, neste aspecto, parece clara a intenção de consolidar a percepção da existência de um diálogo diferenciado”, diz ele.
Lafer acha que essa diferenciação interessa muito ao Brasil, a despeito de cacoetes antiamericanos vigentes no Itamaraty e apontados - “com propriedade” - pelo ex-embaixador do Brasil em Washington Roberto Abdenur.
Na interpretação de Lafer, Lula aproveita a visita de Bush para fazer uma “manobra diplomática” com vistas a pontuar distanciamento em relação a Hugo Chávez sem, no entanto, precisar contestá-lo e muito menos confrontar-se com ele.
“O movimento é bom para os dois lados”, diz Celso Lafer, lembrando que o governo brasileiro já tem feito algumas ações nesse sentido: o discurso de Lula no encerramento da cúpula do Rio, exaltando a importância da preservação de princípios democráticos, o patrocínio do Dia do Holocausto junto com a ONU e a adoção da resolução do Conselho de Segurança sobre proibição de exportação de tecnologia nuclear para o Irã, enquanto Chávez faz o alinhamento inverso.
“São pequenos gestos, que no conjunto adquirem relevância, marcam uma identidade.”Sobre as expectativas em relação à expansão da produção do etanol, da redução de imposto de importação do produto nos Estados Unidos e das parcerias em projetos de pesquisas, os dois embaixadores vêem perspectivas concretas em relação ao último item e, por enquanto, nada mais.
“O etanol é um tema que tem atualidade política e comercial, mas não se deve esperar nada muito mais que a assinatura de alguns acordos de cooperação. Nem de longe pode se imaginar que os Estados Unidos estejam dispostos a substituir uma dependência (de petróleo) por outra”, analisa Luiz Felipe Lampreia.
Há, na visão dele, “ângulos limitados” nessa discussão, todos eles relacionados à preponderância dos interesses americanos, seja na questão tarifária ou na produção agrícola do país. O comércio, nessa viagem, seria, para Lampreia, uma espécie de “balangandã”. Importante para colorir, mas um acessório dentro de um objetivo maior.
Celso Lafer adota a mesma linha de raciocínio. “Como os Estados Unidos sempre trataram com a América Latina de temas específicos, que já foram o combate às drogas, a lavagem de dinheiro e a imigração, a retomada da agenda agora se dá a partir do meio ambiente e das alternativas energéticas. Mas o alvo primordial não é esse.”O ex-chanceler faz a seguinte ilustração para dar a idéia da dimensão dos aspectos comercial e político da visita de George W. Bush ao Brasil: “Se fôssemos comparar com uma escola de samba, a política seria o enredo, o fio condutor de todo o desfile, e o etanol a grande alegoria no carro abre-alas.”
Publicada domingo)
PAINEL
FOLHA DE SP
RENATA LO PRETE
SP E O ETANOL
O governo Lula não é o único a se agitar diante do interesse dos EUA pelo etanol, item estratégico da pauta que trará George Bush ao Brasil nesta quinta-feira. Em São Paulo, único Estado no roteiro do presidente americano, responsável por cerca de três quartos da produção nacional de álcool combustível, o governo Serra acaba de formar um grupo de trabalho para cuidar do assunto. Ele terá à frente o físico José Goldenberg e, entre seus integrantes, o ex-reitor da Unicamp Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Independente das iniciativas do governo federal, o programa paulista do etanol se inspira no que foi implantado pelo Estado da Califórnia.O dinheiro. A tropa do governo paulista encarregada da missão etanol teve conversa recente com o ex-presidente da Petrobras Phillipe Reichstul, que pilota um fundo de cerca de US$ 2 bi para investimento em álcool combustível.
O MELHOR DOS NEGÓCIOS

THE NEW YORK TIMES

Brasil e EUA querem promover etanol no ocidente, diz New York Times
Acordo poderia resultar em um crescimento significativo na indústria do etanol no Brasil.
Políticos dos EUA temem que projeto sucateie a produção norte-americana.
Do New York Times

BUSH QUER PROMOVER PRODUÇÃO DE ETANOL NA AMÉRICA LATINA.
O presidente Bush, na esperança de reduzir a demanda de petróleo no Ocidente, está se preparando para fechar um acordo com o Brasil na semana que vem com o objetivo de promover a produção e o uso do etanol em toda a América Latina e Caribe, segundo representantes de sua administração.
O acordo poderia resultar em um crescimento significativo na indústria do etanol no Brasil, à medida que a tecnologia e os equipamentos de fabricação desenvolvidos naquele país forem exportados para outros países da região.
A maior parte do etanol produzida no Brasil origina-se da cana-de-açúcar e sua produção é muito mais barata se comparada à do etanol de milho, incentivada por tarifas protecionistas e comissões governamentais nos Estados Unidos.
Mas o acordo já começou a receber reclamações dos políticos das regiões produtoras de milho dos Estados Unidos. Eles temem que o projeto leve a um aumento nas importações de etanol estrangeiro barato e sucateie a produção norte-americana.
Aumentando a produção e o consumo de etanol, sobretudo nos países que produzem cana, as autoridades da administração Bush esperam reduzir a dependência geral da região em relação ao petróleo estrangeiro e aliviar parte da pressão dos preços do petróleo. Como efeito colateral, argumentam as autoridades norte-americanas, o programa poderia também diminuir a influência de Hugo Chavez, presidente da Venezuela, país rico em petróleo.
Bush deve tratar disso na reunião em São Paulo com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. As autoridades da administração norte-americana esperam concluir um protocolo de entendimento que proclame a cooperação entre os países em pesquisa e padrões comuns em relação aos biocombustíveis, assim como na ajuda a outros países para que se inspirem na competência do Brasil na produção do etanol a partir do açúcar.
O acordo é, em grande parte, um plano geral, e oferece alguns detalhes, segundo autoridades que receberam um resumo do acordo mas que preferiram não ter a identidade revelada, pois o acordo ainda não foi concluído.
As autoridades do governo brasileiro confirmaram o acordo. Funcionários do alto escalão do governo brasileiro disseram que o efeito mais importante de uma colaboração com os Estados Unidos seria a promoção de um mercado internacional mais amplo para a tecnologia do etanol brasileira.
O Brasil e os Estados Unidos são responsáveis por mais de 70% da produção mundial de etanol. O intuito do acordo é incentivar outros países, sobretudo os produtores de cana-de-açúcar pequenos e pobres no Caribe e na América Central, a tornarem-se produtores.
“Isso é mais do que um documento, é um ponto de convergência no relacionamento que é mais denso e mais intenso do que tudo que vimos nos últimos 20 ou 30 anos”, disse Antonio Simões, diretor do departamento de energia do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, em entrevista por telefone de Nova York. “O Brasil lucrará, os Estados Unidos lucrarão e os países fora da União Européia também. Trata-se de uma situação em que todos os envolvidos saem ganhando”.
“A vantagem é que um país pobre pode reduzir o que paga pelo petróleo importado e ganhar dinheiro exportando o produto”, disse Simões. “Assim, terá mais dinheiro para investir em programas sociais e a produção de energia será democratizada no mundo, com cem países produzindo energia em vez de apenas 15 ou 20”.
Futuramente, os dois países esperam usar o acordo para impulsionar a produção de combustíveis renováveis além do ocidente. O Brasil está interessado em incentivar a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar na África, com quem possui um comércio amplo e laços culturais, e em países asiáticos como a Tailândia.
As exportações brasileiras diretas de etanol atingiram um recorde no ano passado. Mas a demanda pelo combustível está crescendo tão rapidamente no Brasil que a prioridade imediata do governo é atender ao mercado nacional.
Mas os grupos comerciais brasileiros vêem oportunidades comerciais na distribuição de equipamentos de ponta para outros países estabelecerem suas próprias destilarias de etanol. “Queremos que o etanol se torne uma mercadoria global e, para que isso ocorra, o Brasil não pode ser o único produtor”, disse José Luiz Oliverio, vice-presidente de operações da Dedini Industries, líder brasileira na fabricação de equipamentos para engenhos de cana-de-açúcar e etanol. “Produzimos e processamos açúcar há 500 anos, e temos certeza de nossa capacidade em manter nossa liderança nesse setor”.
As autoridades norte-americanas demonstraram entusiasmo semelhante em relação à fabricação do etanol e de equipamentos de fabricação do etanol em larga escala. A maior área de cooperação, segundo eles, será ajudar os países a identificar e remover obstáculos para criarem sua própria capacidade de produção de etanol.
Cientes dos protestos dos produtores nacionais de etanol e do poderoso lobby de produtores agrícolas americanos, não se espera que as autoridades da administração dos EUA sequer sugiram uma redução nas tarifas americanas sobre o etanol estrangeiro. Nem a administração parece preparada para oferecer dinheiro ou empréstimos para a construção de fábricas de etanol em outros países.
Em carta ao presidente Bush na quinta-feira, o senador Charles Grassley, republicano de Iowa, afirmou que não conseguia compreender “porque os Estados Unidos iriam considerar o gasto de dinheiro do contribuinte norte-americano para incentivar novas produções de etanol em outros países”. A proposta parceria, alertou Grassley, poderia se tornar uma maneira secreta de o Brasil escapar da tarifa sobre o etanol importado que atualmente protege os produtores norte-americanos.
Os Estados Unidos impõem uma tarifa de US$ 0,54 por galão sobre o etanol importado, mas os países do Caribe e os países membros do Acordo de Livre Comércio da América Central ficam isentos desses tributos se produzirem o etanol a partir de produtos fabricados em seus próprios países. Usando a tecnologia brasileira de refinamento do etanol a partir da cana-de-açúcar, esses países poderiam, com o tempo, tornar-se exportadores para os Estados Unidos.
Além disso, os países caribenhos podem exportar uma quantidade limitada do etanol que chega indiretamente do Brasil e de outros países. Segundo a Caribbean Basin Initiative, em vigência há anos, os países podem obter o etanol parcialmente processado de um país como o Brasil e executar a última etapa de processamento antes de embarcá-lo para os EUA. Mas a região tem permissão para exportar esse tipo de etanol apenas até um limite de 7% do consumo de etanol dos Estados Unidos.
No ano passado, os Estados Unidos importaram cerca de 600 milhões de galões de etanol e aproximadamente 200 milhões de galões chegaram indiretamente do Brasil por meio do Caribe, segundo Robert Dineen, presidente da Associação de Combustíveis Renováveis, grupo comercial que representa os produtores de etanol. O total das importações de todos os tipos de etanol representou pouco mais de 10% do consumo norte-americano no ano passado.
Por enquanto, os produtores de etanol norte-americanos estão observando com cautela, mas sem protestar. “Não creio que o objetivo fundamental da administração seja produzir etanol no Caribe para exportação para os Estados Unidos”, declarou Dineen. Mas, como ele acrescentou, as empresas norte-americanas ficarão atentas para ver se a iniciativa não acabará se tornando “incontrolável”.
A interlocutores, Bush diz que considera venezuelano mais perigoso que Fidel; Lula quer respeito ao Mercosul e destravar Doha
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
NYT
Quando anunciarem oficialmente o memorando bilateral de biocombustíveis em São Paulo nesta semana, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush estarão divulgando apenas uma parte dos objetivos reais do primeiro dos dois encontros que terão num intervalo de menos de um mês.
O álcool combustível, cuja produção mundial é dominada pelos dois países, é a estrela da "agenda positiva" citada pelo número três do Departamento de Estado, Nicholas Burns, e confirmada pelo chanceler brasileiro, Celso Amorim. Foi o ponto encontrado por Brasil e EUA para forjar uma nova aliança. Mas será usado como moeda de troca por ambos.
No caso americano, o principal interesse numa região relegada a segundo plano nos seis primeiros anos de mandato do republicano é neutralizar Hugo Chávez. Com ele, a ressonância cada vez maior na região que encontra seu discurso antiamericano movido a atos populistas bancados por petrodólares.
Apesar de Burns ter dito recentemente em Washington a jornalistas brasileiros que os EUA não ficam "acordados à noite só pensando" em Chávez, pessoas que estiveram recentemente com Bush dizem que ele está obcecado com a ascensão do venezuelano. Segundo esses interlocutores, Bush acredita que Chávez seja "mais perigoso" para a América Latina que Fidel Castro, pois conquista com dinheiro o que o cubano conquistava com ideologia.
Na quinta, o congressista republicano Dan Burton, do subcomitê da Câmara para a América Latina, traduziu a preocupação da Casa Branca: "Chávez usa a pobreza da região a seu favor ao usar vastas quantias do petrodólar que está ganhando para conduzir governos lá debaixo para a esquerda, e acho que isso é ruim para os EUA e para a região, no longo prazo".
Mercosul
Reservadamente, Bush pretende cobrar de Lula uma posição mais clara -e mais dura- em relação ao venezuelano. Em troca, acenará com uma espécie de moratória ao ataque que o escritório de comércio exterior tem feito ao Mercosul ao tentar firmar tratados de livre comércio com países do grupo.
Reforçará ainda a idéia de uma aliança Brasil-EUA contra a União Européia como maneira de destravar a Rodada Doha, ambos assuntos caros ao governo Lula. Vem daí o anúncio de última hora de que Susan Schwab, titular do escritório de comércio exterior, acompanhará a comitiva presidencial.
Segundo diplomatas envolvidos na preparação do memorando, Lula baterá em público na tecla do fim da tarifa de importação que os EUA cobram ao álcool vindo do Brasil, atualmente de US$ 0,54 por galão (R$ 0,30 por litro), mesmo sabendo que é causa perdida.
Causa perdida porque a derrubada é atribuição não de Bush, mas do Congresso, hoje nas mãos da oposição. "E, mesmo se a tarifa fosse derrubada", diz um empresário do setor que pede anonimato por estar entre os que se encontrarão com a comitiva americana, "o Brasil não teria como atender à demanda do mercado dos EUA".
Outro ponto de barganha será o desejo brasileiro de ter assento entre os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.
Os EUA declaram apoio à entrada do Japão e evitavam se posicionar em relação à América do Sul. Temiam alienar a Argentina ao apoiar o Brasil, e vice-versa.Com o distanciamento do governo de Néstor Kirchner dos EUA e sua aproximação de Chávez, a Casa Branca pode indicar posição favorável ao Brasil. Não por acaso o giro de Bush pela América Latina não tem parada em Buenos Aires.Não é por acaso, também, que Kirchner e Chávez têm reunião na capital argentina na sexta, dia que Bush passará a manhã e a tarde com Lula e o começo da noite com o uruguaio Tabaré Vázquez.(FOLHA DE S.PAULO, domingo)
BUSH INDICA 7 PAÍSES PARA PROGRAMA COM ETANOL
CONSIDERADOS ‘ESTRATÉGICOS’, PERU, COLÔMBIA, EL SALVADOR, HONDURAS, HAITI, GUATEMALA, SÃO CRISTÓVÃO E NÉVIS E REPÚBLICA DOMINICANA TERÃO RECURSOS
PATRICIA CAMPOS MELLO, CORRESPONDENTE WASHINGTON
O governo Bush indicou sete países do continente que considera “estratégicos” para o programa Brasil-Estados Unidos de cooperação em etanol, segundo uma proposta da Casa Branca enviada a integrantes do Congresso americano. De acordo com um alto funcionário republicano que teve acesso ao documento, esses países devem ser o destino de investimentos conjuntos para construção de usinas de etanol. Os recursos viriam do governo americano, da missão americana na Organização do Estados Americanos (OEA), do Banco Interamericano de Desenvolvimento e da Fundação das Nações Unidas.
A LISTA TEM PERU, COLÔMBIA, EL SALVADOR, HONDURAS, GUATEMALA, SÃO CRISTÓVÃO E NÉVIS, REPÚBLICA DOMINICANA E HAITI.
Ontem, depois de uma audiência na Câmara dos Deputados americana, Thomas Shannon, secretário de Estado assistente, afirmou que “o governo ainda não está falando em volume de recursos para o programa de biocombustíveis”. A questão entrou na ordem do dia depois que o Departamento de Estado informou que a viagem que o presidente George W. Bush fará ao Brasil na próxima semana tem como foco a questão dos biocombustíveis, com ênfase no etanol.
“O setor privado terá um papel realmente importante nessa cooperação”, disse Shannon, responsável pelos assuntos do hemisfério ocidental, que virá ao Brasil junto com o presidente americano. Na viagem, a cooperação entre os dois países na produção de etanol será discutida entre os presidentes e também entre técnicos. A idéia é começar a definir padrões que permitam transformar o etanol em commodity internacional e ampliar o leque de países produtores na América.
Como parte desse esforço, o presidente Bush também estaria estudando convocar uma reunião ministerial com países do continente para discutir biocombustíveis. TARIFAS No Congresso, o senador republicano Richard Lugar deve propor, nos próximos dias, legislação para estimular o mercado de etanol no continente. Entre os pontos sendo estudados pela equipe de Lugar estaria uma redução da tarifa de importação de etanol, atualmente em US$ 0,54 por galão (no caso americano, equivalente a 3,78 litros). Na legislação, seria proposta uma redução escalonada na tarifa antes de ela vencer, em 2009, ou a simples extinção do imposto após o vencimento do prazo.
A iniciativa vem ao encontro do que vai propor o governo brasileiro nas conversações sobre biocombustíveis. Anteontem, o chanceler Celso Amorim adiantou que, embora sem fixar prazos ou exigir reduções imediatas, o Brasil irá negociar reduções nas tarifas do produto exportado para os EUA. A equipe do senador Lugar também estuda aumentar as quotas de exportação sem impostos da Iniciativa da Bacia do Caribe (CBI, na sigla em inglês). Hoje, países da América Central e Caribe que fazem parte da CBI podem exportar sem sobretaxa o equivalente a 7% do volume de etanol produzido pelos Estados Unidos. O Brasil tira proveito do CBI, exportando via Jamaica, por exemplo. Na legislação a ser apresentada no Congresso, pode haver uma proposta de aumento do tamanho da cota sem impostos do CBI para até cerca de 10% da produção doméstica dos EUA. Também pode ser proposto aumento da porcentagem da mistura de etanol na gasolina americana, hoje de 10%.
Está em estudo ainda a criação de fundos de financiamento envolvendo instituições multilaterais para estudos de viabilidade de produção de etanol e para infra-estrutura de biocombustíveis em países do Caribe e América Central.
VISITA DE BUSH

EDITORIAL: GRAÇAS A CHÁVEZ
A Venezuela e seu presidente demagogo, Hugo Chávez, não receberão a visita do presidente Bush. Mas o apelo de Chávez estará na mente de Bush quando visitar a América Latina no curso da próxima semana.
Este, na verdade, é um desenvolvimento saudável.
Se você é do tipo que gosta de discursos de três horas, engano da democracia e um culto de personalidade de classe mundial, Chávez é seu homem. Porém se o objetivo é tirar milhões de pessoas da pobreza opressiva, somente uma grande iniciativa feita pelos Estados Unidos - maior economia e democracia do hemisfério - pode fazer diferença. E se for preciso a demagogia de Chávez para impulsionar Washington em direção à políticas mais iluminadas nas Américas, assim seja.
Preocupações sobre a popularidade de Fidel Castro inspiraram as políticas pró-democracia e pró-desenvolvimento da Aliança para o Progresso durante as administrações Kennedy e Johnson, um dos períodos mais felizes das relações inter-americanas.
Nos últimos anos, Washington enxergou a América Latina com uma visão afunilada. Procupou-se seletivamente com questões que possuem importantes eleitorados políticos nos Estados Unidos, como tráfico de drogas, imigração, cooperação militar e liberalização de comércio e investimentos. Porém, negligenciou muitas questões que importam muito aos latino-americanos, como desenvolvimento, redução de pobreza, acesso ao crédito, educação e saúde.
Bush deveria usar esta viagem, que passará pelo Brasil, Uruguai, Guatemala, Colômbia e México, para iniciar uma nova versão da aliança, concentrada em reforçar a democracia na região. Deveria se comprometer a assegurar que os benefícios do comércio e investimento expandido atinjam milhões de pessoas pobres das áreas rurais e urbanas na América Latina, não apenas as elites.
Necessita enfrentar a desigual performance de direitos humanos de aliados como Colômbia e Guatemala. O padrão duplo de Washington dos direitos humanos enfraquece sua credibilidade quando aponta à intimidação e perseguição dos críticos de Chávez.
A Casa Branca está promovendo esta turnê como parte de uma nova iniciativa para estimular a justiça social no hemisfério, e cita um suporte do que chama de novas iniciativas da administração para este fim. Porém, um exame mais cauteloso revela que muitas destas iniciativas consistem numa repaginação de programas existentes, incluindo fundos para HIV/Aids, alívo de dívidas externas, o programa do Desafio do Milênio e acordos comerciais.
Mesmo assim, a lista incluiu algumas idéias novas e potencialmente proveitosas, como ajuda adicional no financiamento de hipotecas acessíveis, empréstimos para pequenas empresas e treinamento de saúde. Tais idéias necessitam ser expandidas significativamente. Bush merece elogios por dobrar sua assistência à América Latina para US$1,6 bilhões ao ano. Porém, a maioria deste dinheiro foi destinado à programas de segurança na Colômbia. Muito mais verbas serão necessárias se a promoção da justiça social realmente for mais do que fogo de palha.
Quando Bush se candidatou à presidência pela primeira vez sete anos atrás, disse que como governador do Texas possuia entendimento e empatia especiais pela América Latina. Com a reputação de Washington no hemisfério beirando o chão, não poderia ser melhor hora para colocar tal empatia e entendimento para funcionar.


YANKEES GO HOME?
POR PEDRO DORIA -
ÚLTIMO SEGUNDO/NO MÍNIMO
George W. Bush vem fazer duas coisas na América Latina, as duas têm igual importância em sua política externa e uma não tem nada a ver com a outra. A primeira é assuntar o assunto etanol. A segunda é ver se consegue neutralizar a presença de Hugo Chávez na região.
Etanol é o papo com o Brasil.
A derrota nas eleições parlamentares do ano passado e a perda de maioria na Câmara e no Senado mudaram a política interna, em Washington. O resultado foi que as petroleiras tomaram um chega para lá amistoso e a questão do aquecimento global apareceu no discurso anual do presidente a respeito do Estado da União.
Etanol é o único combustível não fóssil que funciona bem, cuja tecnologia é conhecida e amplamente dominada. Os únicos grandes produtores dele são Brasil e EUA e a produção dos gringos não chega ao pé da nossa. Além do quê, o deles é de milho. Etanol de milho rende dez vezes menos que o de cana. E, como eles não têm terra o bastante para expandir a produção, é cana brasileira mesmo que vai ter que produzir os primeiros resultados.
Muita gente sugere que o Brasil será a Arábia Saudita do etanol. Otimismo. Serão muitos os produtores no mundo e, no exterior, ninguém quer depender de um único país ou região. O que o Brasil pode ser, isto sim, é o maior produtor mundial. Tem a tecnologia pronta, espaço para plantar, gente que manja do assunto como não há lá fora. É muita experiência desde o Proalcool dos militares.
Mas isto demora a acontecer. Aos poucos, fábricas começarão a produzir carros movidos a álcool e maquinário pesado movido a biodiesel. Frota e equipamento serão ainda mais lentamente substituídos. Nos EUA, na Europa, em toda parte. Coisa para dez a vinte anos.
O que Lula e Bush discutirão é subsídio agrícola. O etanol brasileiro já é comprado pelos EUA e a quantidade só aumentará. A questão é que, por enquanto, ele entra caro por conta das taxas e dos subsídios que recebem os fazendeiros de milho. (Livre comércio nos olhos dos outros é que é resfresco.) A vitória que pode sair da conversa dos dois presidentes é alguma abertura por parte dos EUA. Para que o etanol seja barateado lá de forma a estimular a fabricação de carros e máquinas, isto será necessário.
É papo de alto nível. Bush vem e fica pouco. Quem já veio e continuará vindo para reuniões muito mais discretas é outro Bush. O irmão, Jeb, que foi governador da Flórida. Etanol virou assunto de família. Prioridade.
Hugo Chávez, coitado, vai tomar rumo da Argentina na sexta-feira para falar num estádio a 40.000 pessoas – custo da brincadeira: 200 mil dólares – contra Bush. Vai espernear, só. A turma que, por aqui, se juntar a ele em espírito para protestar contra o presidente dos ianques é só boba. Vender álcool tupinambá é bom negócio. Para o Brasil e para o planeta.
Néstor Kirchner, anfitrião de Chávez, não receberá o presidente norte-americano. Não foi sua escolha, foi a Casa Branca que decidiu quem será visitado. Não está claro se os norte-americanos se incomodam ou não com sua gentil cessão de espaço para que os gritos de Chávez ganhem maior repercussão. Mas os EUA compreendem que é ano eleitoral na Argentina e que a presença de George W. faz candidato perder votos.
No Uruguai, Bush quer um acordo bilateral que não acontecerá de todo. Semana passada, em sua rápida visita, Lula azeitou o presidente Tabaré Vazquez. Mas com isto os EUA não se incomodam, é uma vírgula na viagem. Fora do Brasil, Washington circulará a carteira e o charme. A visita a Vazquez oferece prestígio, dá algum dinheiro e mostra que quem não está com Chávez ganha um quê.
Ninguém acha que o Brasil se inclinará em direção a Chávez, o problema por aqui é puramente econômico. O resto da viagem tem mais de político. Chávez sabe disto e tentará angariar o velho clima yankees go home para fazer um burburinho. É certo que conseguirá. Ele tem dinheiro para distribuir por aí, os EUA também têm. O leilão de fidelidades seguirá sem que, na verdade, tenha qualquer importância para qualquer um!!!


BUSH ESPERA AVANÇAR EM NEGOCIAÇÕES SOBRE DOHA COM LULA
Por Adriana Garcia WASHINGTON (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, espera que ele e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva consigam chegar a um acordo para avançar nas negociações comerciais da rodada de Doha quando se reunirem esta semana.
Bush terá um encontro seguido de almoço com Lula nesta sexta-feira em São Paulo, a primeira etapa da viagem de Bush a cinco países da América Latina em meio a críticas de que ele ignorou a região desde os atentados de 11 de setembro de 2001.
O Brasil lidera um grupo de países em desenvolvimento que luta pela redução de subsídios agrícolas dos países ricos na Organização Mundial do Comércio (OMC), que deve retomar as negociações da rodada de Doha sobre o assunto.
'Um dos problemas (a tratar) é o comércio', disse Bush a repórteres latino-americanos numa entrevista concedida em Washington na terça-feira, mas embargada até esta quarta-feira.
'O presidente Lula e eu vamos dedicar tempo à Rodada de Doha para determinar se conseguiremos ou não avançar em Doha de uma maneira construtiva que beneficie a nossos países e, igualmente importante, os pobres do mundo', disse Bush.Para o presidente norte-americano, a relação entre ambos os países é forte. Lula deve visitar o norte-americano no final do mês na residência de Camp David, um convite que busca reforçar a liderança regional de Lula num continente em que Washington vê com desgosto a crescente influência do venezuelano Hugo Chávez.
O mandatário norte-americano disse que não sabia o que esperar quando encontrou Lula pela primeira vez no Salão Oval da Casa Branca.
'As pessoas têm reputações que as precedem na vida. E, ainda assim, depois que passamos um breve período juntos, ambos percebemos que partilhamos as mesmas preocupações -- particularmente em relação aos pobres', disse Bush.
'E ambos representamos países grandes e influentes, e (vemos) o trabalho que podemos fazer juntos para atingir objetivos comuns', acrescentou.
Um desses objetivos é desenvolver um mercado global para o etanol, já que ambos concentram mais de 70 por cento da produção mundial do produto. Os Estados Unidos fabricam etanol a partir do milho, enquanto o Brasil o faz, com custo muito mais baixo, a partir da cana-de-açúcar.
Para os Estados Unidos, a idéia é incentivar o uso do etanol para reduzir a dependência do petróleo, não só no mercado norte-americano mas também na região.
Bush disse ter ficado impressionado com o progresso que o Brasil fez na indústria de etanol.
O norte-americano não tocou no tema da tarifa que os Estados Unidos cobram para as importações de etanol brasileiro, de 0,54 centavo de dólar o galão, mas outras autoridades têm dito que o assunto não estará sob negociação neste momento.
Bush disse que a agenda sobre o biocombustível está mais que 'robusta' agora que os Estados Unidos tornaram obrigatória uma redução no consumo de petróleo para os próximos anos.
'A dependência de petróleo expõe as economias ao capricho dos mercados', disse Bush.
Na medida que a demanda por petróleo por parte da China continua, acrescentou, a China afeta os países da América Latina, que precisam gastar mais dinheiro com a commodity já que o preço sobe, daí a importância do etanol.
'Tornar-se menos dependente de petróleo vai aumentar a segurança econ6mica da região', disse Bush.
'E a prosperidade na região é importante para os Estados Unidos. Nós queremos que nossos amigos e vizinhos sejam prósperos', acrescentou.
Bush espera que ele e Lula consigam chegar a um acordo para avançar nas negociações da rodada de Doha. O Brasil lidera um grupo de países em desenvolvimento que luta pela redução de subsídios agrícolas dos países ricos na Organização Mundial do Comércio (OMC).
"O presidente Lula e eu vamos dedicar tempo à Rodada de Doha para determinar se conseguiremos ou não avançar de uma maneira construtiva que beneficie a nossos países e, igualmente importante, aos pobres do mundo", disse Bush.
Um dos objetivos de Estados Unidos e Brasil é desenvolver um mercado global para o etanol, já que ambos concentram mais de 70% da produção mundial do produto. Os Estados Unidos fabricam etanol a partir do milho, enquanto o Brasil o faz, com custo muito mais baixo, a partir da cana-de-açúcar.
Para os EUA, incentivar o uso do etanol é importante para reduzir a dependência do petróleo, não só no mercado norte-americano, mas também na região. “Nós queremos que nossos amigos e vizinhos sejam prósperos”, disse Bush.

MENSAGEM DE BUSH CORRE O RISCO DE NÃO SER OUVIDA, DIZ 'FT'
O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, inicia nesta quinta-feira em São Paulo uma visita de uma semana a países da América Latina para buscar conter a perda de influência americana sobre seu tradicional “quintal”, mas suas promessas correm o risco de “entrar por uma orelha e sair pela outra”, na avaliação de comentário publicado pelo diário econômico britânico Financial Times.
O artigo, assinado pelo editor de América Latina do jornal, Richard Lapper, observa que, seis anos após assumir a presidência e com sua credibilidade em frangalhos, Bush “tenta recuperar o tempo perdido” com sua mais longa visita à região, com passagens por Brasil, Uruguai, Colômbia, Guatemala e México.
“Seu objetivo é restabelecer a confiança nos Estados Unidos em um momento no qual a influência do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, maior opositor de Bush na região e arquiteto da nova filosofia do ‘socialismo do século 21’, está em ascensão”, diz o texto.
Na avaliação do jornal, a mudança de foco “reflete a sensação em Washington de que os Estados Unidos estão perdendo influência em uma região sobre a qual reivindicava domínio desde o início do século 19”.
O artigo observa, porém, que os críticos afirmam que os esforços americanos, com o anúncio de um pacote de ajuda aos países da região, na segunda-feira, “são poucos e vieram tarde demais”.
“Enquanto Chávez e seus aliados cubanos estabeleceram uma rede permanente de clínicas nas áreas pobres da Venezuela e da Bolívia, a resposta dos Estados Unidos dá a sensação de um esforço emergencial sem continuidade”, diz o jornal.
O artigo diz que “tal é a escala da desilusão latino-americana que parece serem necessários muito mais atenção e dinheiro para mudar a maré em favor de Washington”.
O jornal conclui dizendo que a viagem de Bush corre o risco de se transformar num fiasco parecido ao da viagem do então vice-presidente Richard Nixon à região, em 1958, quando sua comitiva foi apedrejada por manifestantes em Caracas.
“Cenário de Hollywood”
A perspectiva da chegada de Bush transformou São Paulo “em um cenário digno de Hollywood” na quarta-feira, segundo reportagem do diário argentino La Nación.
“Tropas do Exército nas ruas, uma frota de helicópteros de guarda, esquadrões de choque e de patrulhagem e franco-atiradores armados com fuzis preparados para acertar uma pessoa a um quilômetro de distância foram parte da nova ‘decoração’ da cidade”, relata o jornal.
A reportagem observa que o esquema de segurança mobiliza 4 mil homens das forças norte-americana e brasileira e que teve até mesmo um sentido ‘estético’, com a derrubada de um barraco que abrigava três famílias a poucos metros do hotel Hilton na zona sul de São Paulo, onde se hospedará Bush.
O jornal diz que a operação de segurança converteria muitas cidades menores em “verdadeiras cidades sitiadas” e que “plantará o caos” em São Paulo, apesar de “se diluir entre os seus 18 milhões de habitantes”.
“Durante mais de 20 horas, os motoristas terão que encontrar vias alternativas para seus trajetos diante do bloqueio de ruas que, para preservar os planos de segurança, não serão divulgados”, observa a reportagem, afirmando que o segredo sobre o itinerário e os horários da visita de Bush visa evitar a possibilidade de um ataque contra ele.
Diplomacia do etanol
Reportagem publicada pelo diário espanhol El Mundo afirma que a viagem de Bush à América Latina caracteriza o etanol como “nova arma diplomática dos Estados Unidos” na região, como “contrapartida à diplomacia do petróleo promovida por Hugo Chávez, inimigo de Washington”.
Segundo o jornal, o irmão do presidente Jeb Bush, ex-governador da Flórida, que estará na comitiva de sua viagem, teria sido “o cérebro” por trás da estratégia de apostar no etanol.
“Em novembro de 2006, quando começavam os preparativos para a viagem presidencial, Jeb se fez convidar para a Casa Branca, onde insistiu no fato de que o desenvolvimento dos biocombustíveis poderia ser a chave para um entendimento com os governantes de Argentina e Brasil”, diz a reportagem.
O jornal observa que a Argentina, apesar de não ter uma produção de etanol desenvolvida como a feita a partir da cana-de-açúcar no Brasil, é um grande exportador de milho, matéria-prima do etanol produzido nos Estados Unidos.
Porém o país acabou excluído da viagem de Bush “e da equação proposta pelo seu irmão” por conta de sua aproximação com Chávez.
“Dadas as circunstâncias, o colosso amazônico passou a ser o único aliado factível com que contaria Washington para contrapor a ameaça do neopopulismo na região”, diz o jornal.
A reportagem afirma, porém, que as propostas que Bush oferecerá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva “têm dois lados”.
De um lado, a oferta de criar um fundo de US$ 5 bilhões para “desenvolver tecnologias que permitam reduzir os cursos de produção e avançar no processo de adaptação da indústria, sobretudo do parque automobilístico, ao novo combustível”. “A potencialização do combustível verde criaria centenas de milhares de postos de trabalho no Brasil, o sonho dourado de Lula”, diz o jornal.
Por outro lado, porém, Bush não deve atender à principal demanda brasileira, pelo fim das tarifas de importação ao etanol brasileiro, por causa do lobby dos agricultores americanos. “Eles advertiram Bush de que se reduzir um centavo das taxas alfandegárias às importações brasileiras, bloquearão as avenidas de Washington com seus tratores”, diz a reportagem.

BRUNO GARCEZDE WASHINGTON
PARA EUA, CHÁVEZ TENTA COMPRAR APOIO DE VIZINHOS
Os Estados Unidos avaliam que os programas de assistência oferecidos pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, a outros países latino-americanos têm como principal objetivo criar uma relação de dependência.
Segundo Thomas Shannon, subsecretário de Estado americano para o Hemisfério Ocidental, o anúncio de uma série de investimentos feito pelo presidente George W. Bush não é uma resposta aos projetos de Chávez.
"Isso não é uma competição. Não estamos tentando comprar favores ou criar uma relação de dependência, que é o que Chávez quer fazer", afirmou.
De acordo com Shannon, os investimentos americanos na região, por outro lado, têm por objetivo primordial "criar oportunidades de comércio e construir uma infra-estrutura que permita investir nesses países".
O representante americano diz que os Estados Unidos e os países latino-americanos podem "trabalhar juntos para construir mercados abertos e governos transparentes".
Comitiva
O representante americano integra a comitiva do presidente George W. Bush, que parte para o Brasil nesta quinta-feira. Em seguida, Bush vai para Uruguai, Colômbia, Guatemala e México.
Segundo Shannon, o propósito da viagem é o de passar uma "mensagem positiva, de cooperação'', segundo a qual os Estados Unidos procuram "entender as necessidades de cada país, de modo a preservar suas democracias e combater a pobreza e a exclusão social".
Shannon afirmou que os americanos contam com uma agenda positiva e estão preparados para discutir quaisquer temas, inclusive a redução de tarifas ao etanol importado pelos Estados Unidos, tema que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve levantar quando se encontrar com Bush na sexta-feira.
"Não haverá assuntos que não poderão ser apresentados na mesa de discussão. Sabemos que os brasileiros falarão a respeito disso. Mas esse é um tema que é determinado pelo Congresso. E não cabe a nós uma resolução a esse respeito neste momento", disse.
O representante americano afirmou ainda que "especialistas brasileiros têm dito que o Brasil mal conseguirá suprir sua própria demanda (por etanol)". Por isso, acrescentou Shannon, a discussão no Brasil relativa à sobretaxa que os Estados Unidos cobram sobre o etanol que importam é uma discussão ultrapassada.
"Parece ser algo que reflete uma compreensão antiquada do próprio mercado brasileiro e que não leva em conta o momento atual ou o futuro", comentou.
A viagem de Bush será a oitava do líder americano à América Latina. Será a primeira vez que o presidente vai à Guatemala e ao Uruguai.
Países membros do Mercosul temem que se ameicanos e uruguaios levarem adiante o projeto de discutir um acordo de livre comércio, isso poderá prejudicar o bloco sul-americano, mas Shannon diz não haver motivo para temores.
"Compreendemos os desafios regionais enfrentados pelo Uruguai. Mas também compreendemos que o Uruguai precisa, dentro do contexto do Mercosul, aprofundar seus compromissos com a economia global. Mas não vamos tentar impor nada. Nós estamos indo lá para ouvir", concluiu.
DIREITOS HUMANOS ESTÃO NA AGENDA DE BUSH NO BRASIL

BRUNO GARCEZ
da BBC Brasil, em Washington
O subsecretário de Estado americano para o Hemisfério Ocidental, Thomas Shannon, disse em Washington nesta quarta-feira, durante uma coletiva na sede do Departamento de Estado, que a situação dos direitos humanos no Brasil deve ser um dos temas discutidos durante a visita do presidente George W. Bush ao Brasil.O líder americano chega ao Brasil nesta quinta-feira e se encontra com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia seguinte. Ele virá acompanhado da secretária de Estado, Condoleezza Rice, e do próprio Shannon.
''Os direitos humanos são um importante componente da democracia. E direitos humanos sempre integram a nossa agenda. É de se supor que esses temas poderão e provavelmente serão levantados'', afirmou Shannon, em resposta a uma pergunta da BBC Brasil.
Na terça-feira o Departamento de Estado divulgou o seu relatório anual sobre a situação dos direitos humanos em diferentes países mundiais. Segundo o documento, o Brasil conta com um elevado número de mortes e torturas cometidas por forças policiais; demonstra inabilidade em proteger testemunhas de crimes e não pune policiais acusados por supostas ações criminosas.
O documento lista ainda como práticas corriqueiras ataques contra membros da imprensa cometidos por autoridades locais e pelo crime organizado e atos de violência praticados contra mulheres, crianças e representantes de minorias. ''Inaceitável''O Itamaraty classificou o relatório americano de ''inaceitável''. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, "relatórios elaborados unilateralmente por países, segundo critérios domésticos", em muitas ocasiões seguem "inspiração política".Leia mais sobre a reação do Itamaraty
Na terça-feira, Barry F. Lowenkron, o secretário-adjunto do Departamento de Estado responsável pela área de direitos humanos, disse à BBC Brasil que a trajetória dos direitos humanos no Brasil é ''positiva'', em contraste com a da Venezuela, que, segundo ele, vem se deteriorando.
Segundo Lowenkron, o Departamento de Estado não espera de nenhum país uma conduta ilibada em termos direitos humanos. De acordo com ele, o que a secretária de Estado americano, Condoleezza Rice, busca é que os países demonstrem estar no caminho certo em termos de direitos humanos.
Lowenkron disse que ''mesmo estando ciente de todos os problemas com o Brasil, o país permanece sendo um de nossos principais parceiros e amigos''.
Em editorial publicado na edição desta quarta-feira, o jornal The New York Times diz que o presidente Bush precisa apontar ''os desempenhos desiguais em direitos humanos de aliados como a Colômbia e a Guatemala''.
De acordo com o jornal, se Washington não criticar Colômbia e Guatemala, poderá ser acusada de usar dois pesos e duas medidas ao criticar a política de intimidação e perseguição de adversários promovida pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez

Para Brasil, relatório dos EUA sobre direitos humanos é 'inaceitável'
O Itamaraty divulgou nesta quarta-feira um comunicado em que afirma não reconhecer a legitimidade do relatório de direitos humanos divulgado pelo Departamento de Estado americano no dia anterior.
No trecho dedicado ao Brasil, o relatório americano afirmava que forças policiais "cometeram uma série de abusos de direitos humanos" no país em 2006.
O Ministério das Relações Exteriores diz que "relatórios elaborados unilateralmente por países, segundo critérios domésticos", muitas vezes têm "inspiração política".
"Atitudes e avaliações unilaterais sobre tais temas (direitos humanos) são inaceitáveis, pois contrariam os princípios da universalidade e da não-seletividade dos direitos humanos", afirma o comunicado do Itamaraty.
O relatório americano denunciava "abusos, espancamentos e torturas de pessoas presas ou detidas por forças policiais" e comentava também que houve "um elevado número de pessoas mortas pela polícia" no Brasil.
Clique aqui para ler mais sobre o relatório americano
A nota do Itamaraty, divulgada no dia anterior à chegada do presidente americano George W. Bush a São Paulo, reafirma que "o Brasil está aberto ao diálogo com todos os mecanismos internacionais e regionais de direitos humanos".


JORNAL AMERICANO CRITICA AÇÃO DE BUSH NA AMÉRICA LATINA
DA ANSA, EM WASHINGTON
DA FOLHA ONLINE
O presidente norte-americano, George W. Bush, que chega amanhã ao Brasil ao iniciar um giro pela América Latina, tomou alguns passos "modestos" para combater a influência do presidente venezuelano Hugo Chávez na região, mas isso "não foi o suficiente", afirma o influente jornal americano "Washington Post".
Em um editorial, o periódico afirmou que Bush "nunca poderá ganhar uma guerra retórica com Chávez", e adiantou que a viagem do presidente norte-americano será "obscurecida" pelos atos antiamericanos que terão a presença de Chávez.
O "Post" destaca que o presidente venezuelano liderará, um ato antiimperialista nesta quarta-feira em Buenos Aires, quando Bush for visitar o Uruguai, a poucos quilômetros da outra margem do Rio da Prata.Popularidade baixa
"Chávez pagou bem" por sua presença em Buenos Aires, afirma o jornal, que lembra que o presidente comprou recentemente US$ 1,5 bilhões de dólares em dívida argentina com "petrodólares venezuelanos".
Apesar disso, Bush deveria aproveitar que as "pesquisas mostram que a popularidade de Chávez na América Latina é tão baixa" como a do presidente norte-americano. As iniciativas anunciadas nesta semana por Bush, como o envio de um barco-hospital e programas de assistência para a construção de residências foram "modestas", reforça o jornal.
"Bush não está fazendo o suficiente" pela América Latina, escreve o editorial. O "Washington Post" requer, por exemplo, que a Casa Branca estimule a confirmação parlamentar para os acordos de livre-comércio com o Peru e a Colômbia e aprove uma reforma legislativa sobre imigração, que abarque a situação dos irregulares e as preocupações do vizinho México.
"Faz seis anos que Bush prometeu prioridade para a região [da América Latina], mas ainda não é tarde para concretizar" o compromisso, completou o jornal norte-americano.
SegurançaAs Polícias Civil, Militar e Federal, além do Exército, participarão da segurança e policiamento durante a visita do Bush ao Brasil. O americano chega a São Paulo nesta quinta-feira, onde se reúne com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sexta-feira.
Para a segurança da primeira-dama dos Estados Unidos, Laura Bush, também serão alocados homens da 1ª Delegacia de Proteção de Dignitários da Deatur. A equipe ficará responsável pela checagem de todo o credenciamento, além de cuidar da segurança a primeira-dama.
A Polícia Civil de São Paulo disponibilizará 300 homens, 50 viaturas, uma delegacia móvel, além de seis atiradores de elite. A Polícia Militar de São Paulo alocará mil homens, 300 veículos --entre carros, motos e veículos pesados--, além de 24 cavalos para cuidar da segurança de Bush.
A PM deve ficar responsável pelo policiamento do hotel onde o americano ficará hospedado --provavelmente o Hilton, na zona oeste--, pelas visitas de agenda, e segurança dos deslocamentos e do aeroporto.
Além do Brasil, Bush visitará também Uruguai, Colômbia, Guatemala e México.
Plano anunciado por Bush para América Latina é reciclado

da Folha Online
Levantamento feito pela Folha de S.Paulo mostra que parte do plano assistencialista para a América Latina anunciado anteontem por George W. Bush é reciclado e junta iniciativas já em vigor, informa nesta quarta-feira reportagem de Sérgio Dávila, em Washington.
Uma das medidas divulgadas pela Casa Branca apresentaria números menores do que iniciativa idêntica de 2005, como o texto "Novas Iniciativas para o Hemisfério Ocidental", que trata da realização dos 62 Exercícios de Treinamento Prontidão Médica em 14 países.
Há dois anos, segundo depoimento do chefe do Comando Militar do Sul, general Bantz. J. Craddock, teriam sido realizados 69 exercícios.
Já o programa "Novo Esforço para Ajudar a Construir um Mercado para Moradia Acessível" seria uma injeção de dinheiro no Overseas Private Investment Corp., agência federal americana criada em 1971.
Segundo a reportagem, no pacote, Bush anunciou US$ 75 milhões a serem gastos em três anos com o programa de estudantes estrangeiros e US$ 385 milhões a serem injetados no programa de moradias. No orçamento de 2008 do Departamento de Estado, o total destinado para 34 países do continente seria de US$ 1,5 bilhão.
Bush anuncia pacote de ajuda para América Latina
BRUNO GARCEZ
da BBC Brasil, em Washington
O presidente americano, George W. Bush, anunciou nesta segunda-feira que os Estados Unidos gastarão milhões de dólares em programas assistenciais para ajudar a população carente na América Latina.
Bush, que inicia na quinta-feira uma viagem à região, disse que destinará milhares de dólares a programas nas áreas de educação, saúde e moradia.De acordo com Bush, os Estados Unidos pretendem ampliar um programa de moradia que já destinou mais de US$ 100 milhões para que famílias de México, Brasil e Chile possam conseguir financiamento para suas casas. A expansão prevê um gasto adicional de US$ 385 milhões.
Segundo o presidente americano, isso "ajudaria milhares de pessoas em nossa vizinhança a cumprir o sonho de ter uma casa própria". O pronunciamento de Bush ocorreu em um evento realizado nesta segunda-feira, em Washington, na sede da Câmara Hispânica de Comércio dos Estados Unidos.
Durante o evento, Bush lembrou que, na quinta-feira, ele e a mulher, Laura, iniciarão "uma viagem a Brasil, Uruguai, Colômbia, Guatemala" e acrescentou, em espanhol, "y por fin, México", arrancando risos da platéia.
Segundo Bush, os países que integram sua visita são nações que "fazem parte de uma região que deu passos largos rumo à liberdade e à prosperidade". De acordo com o presidente americano, esses países "ergueram novas democracias e adotaram e aprimoraram políticas fiscais que trazem prosperidade".
El Presidente
Em um pronunciamento entremeado de palavras em espanhol, o presidente americano disse que "apesar dos avanços, dezenas de milhões no nosso hemisfério continuam presos na pobreza".
"Minha mensagem para 'trabajadores e campesinos' é: vocês contam com um amigo nos Estados Unidos", acrescentou.
Bush disse que pediu à secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, que o acompanhará na viagem, e ao secretário do Tesouro, Henry Paulson, que desenvolvam um mecanismo que melhore a capacidade de bancos americanos e locais para dar empréstimos a pequenos empresários da América Latina. O presidente dos Estados Unidos afirmou ainda que vai enviar um navio médico da Marinha para países da América Latina e do Caribe. Os profissionais que estarão a bordo atenderão a 85 mil pacientes em Belize, Guatemala, Panamá, Nicarágua, El Salvador, Peru, Equador, Colômbia, Haiti, Trinidad e Tobago, Guiana e Suriname e farão até 1,5 mil cirurgias.
Bush destacou ainda inciativas para garantir a probidade administrativa na região, por meio do programa Milleninum Challenge Accounts (MCA), que oferece assistência financeira a nações em desenvolvimento que demonstram transparência e utilização eficiente de recursos em suas gestões.

Bush bolivariano
O presidente americano também disse que a Casa Branca vai sediar nos próximos meses uma conferência reunindo países latino-americanos e nações do hemisfério norte para debater o envio de ajuda econômica e o fortalecimento da sociedade civil em todo o hemisfério ocidental.
De acordo com Bush, o evento reunirá representantes do setor privado, organizações não-governamentais, grupos assistenciais e entidades religiosas.
O presidente americano afirma que a idéia é "compartilhar experiências para encontrar formas eficazes de construir instituições fortes e uma sociedade civil sólida". "Uma vizinhança transparente levará a uma vizinhança pacífica", acrescentou.Bush encerrou seu discurso louvando um dos heróis da América Latina: Símon Bolívar, que é reverenciado pelo líder venezuelano Hugo Chávez, um dos principais críticos do presidente americano na região.
"Você sabe, aqui perto da Casa Branca há uma estátua de um grande libertador, Símon Bolívar. Ele costuma ser comparado a George Washington. Assim como Washington, ele teve sucesso em derrotar uma forte potência colonial, e, assim como Washington, ele pertence a todos que amamos a liberdade", disse.
O presidente lembrou ainda a frase de um diplomata, segundo a qual "nem Washington nem Bolívar tiveram filhos. Portanto, nós, os americanos, devemos chamar a nós mesmos de seus filhos".

DIVERGÊNCIAS E PROTESTOS MARCAM CHEGADA DE BUSH
DA REDAÇÃO DA FOLHA DE SP
Presidente norte-americano inicia hoje, no Brasil, périplo pela América LatinaItamaraty contesta relatório dos EUA; fábrica americana é invadida por sem-terra em SP; políticos protestam; EUA se negam a discutir tarifa
As 24 horas que antecederam a chegada do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, ao Brasil foram marcadas por protestos de movimentos sociais, ONGs e partidos políticos por todo o país, inclusive no Congresso. Divergências diplomáticas e políticas entre os dois países também foram expostas.O Ministério das Relações Exteriores protestou, com termos duros, contra o relatório divulgado nesta semana pelo Departamento de Estado americano a respeito da situação dos direitos humanos no país e no mundo. O documento menciona a tentativa de compra de um dossiê por integrantes do PT contra políticos tucanos e diz que os envolvidos tinham relações estreitas com Lula.Em nota, o Itamaraty disse ontem que não reconhece a legitimidade do documento e que o governo não "aceita relatórios elaborados unilateralmente por países, segundo critérios domésticos, muitas vezes de inspiração política".Também o governador José Serra protestou contra o relatório, que apontou supostos abusos da Polícia Militar de São Paulo. Disse que gostaria de ver no relatório informações sobre Guantánamo, base norte-americana em Cuba acusada por organizações de Direitos Humanos de maltratar prisioneiros.No âmbito comercial, seguem os desacordos entre os EUA e o Brasil. O governo americano reafirmou que não atenderá a um desejo explícito do presidente Lula: a de revisão da tarifa do álcool, o que facilitaria o acesso do produto brasileiro ao cobiçado mercado americano. A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse ontem que a queda das taxas "é uma política que o Brasil tem não só o direito de defender, mas o dever".Bush, que no front internacional liderou duas ocupações militares (Iraque e Afeganistão) e na região tenta conter o avanço do venezuelano Hugo Chávez, desembarca no final da tarde de hoje em Guarulhos.ManifestaçõesAs manifestações de ontem partiram sobretudo de entidades ligadas aos sem-terra e a partidos políticos de esquerda, que criticam a postura política para a América Latina e as ações militares dos EUA.Um grupo de mulheres ligadas ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiu ontem a usina Cevasa, comandada pela empresa norte-americana Cargill, em Patrocínio Paulista (SP). As manifestantes portavam faixas com palavras de ordem como "Fora Bush!". A ocupação fez parte da jornada nacional de lutas das mulheres da Via Campesina.Representantes do MST, da CPT (Comissão Pastoral da Terra), da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e da Via Campesina condenaram, em São Paulo, o termo de acordo para o aumento da exportação de álcool do Brasil aos EUA.O conselheiro da CPT, dom Tomás Balduíno, disse que o acordo lança "uma perspectiva sinistra". João Pedro Stedile, da direção nacional do MST, disse que Bush se vale de "governos servis" da América Latina.No Rio de Janeiro, cerca de cem integrantes do MST, a maioria mulheres, invadiram a sede do BNDES. "Terra para produzir comida e não álcool para os EUA", dizia um dos cartazes que carregavam.Em Brasília, cerca de 50 militantes do PSOL fizeram um protesto no gramado em frente ao Congresso. A ex-senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) reapareceu para queimar um boneco de Bush. À tarde, deputados do PSOL estenderam uma faixa com os dizeres "Bush não é bem-vindo" no plenário da Câmara, o que gerou uma reação do presidente da Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP).O PC do B colocou faixas de protesto contra Bush em vários pontos da cidade de São Paulo ontem. A Prefeitura de São Paulo recolheu ontem cerca de 20 delas sob a justificativa de que de que é proibida a instalação de faixas na cidade.Com correspondente em Washington, a Reportagem Local, a Sucursal de Brasília, a Folha Ribeirão e a Sucursal do Rio


VIAGEM "NÃO É UMA COMPETIÇÃO", DIZEM EUA SOBRE CHÁVEZ
FOLHA DE SP
Sérgio Dávila
DE WASHINGTON
Bush inicia hoje, pelo Brasil, viagem à América Latina sob sombra da influência do presidente venezuelano na região
Governo americano volta a descartar queda da tarifa do álcool, desejada pelo Brasil, e diz que país não teria como atender a demanda interna
Não, os Estados Unidos não querem neutralizar o venezuelano Hugo Chávez e esse não é um dos motivos da viagem à América Latina do presidente George W. Bush, que começa hoje, no fim da tarde, quando o americano desembarcar no aeroporto de Guarulhos (SP).
Quem informa é o responsável do Departamento de Estado pela região, Thomas Shannon. Instado a comparar as cifras de ajuda externa que os EUA destinam à região -US$ 1,5 bilhão, segundo o orçamento do ano fiscal de 2008, que começa em outubro- e os investimentos que o venezuelano faz -Chávez gastou o mesmo total só em compras de títulos da Argentina-, o diplomata respondeu: "Isso não é uma competição".
O sistema de ajuda dos EUA à região, disse, "não é via favores ou criando relações de dependência, que é o que o presidente Chávez tenta fazer". "Queremos capacitar governos para ter parceiros fortes e independentes, mas democráticos e comprometidos com os valores políticos que nós temos."
Citaria dez tratados de livre-comércio feitos durante a gestão de Bush na região e duas propostas de tratado, "mais do que qualquer governo anterior". "Não se trata só de ajuda externa, mas de abrir nosso mercado à região e usar a ligação entre os mercados para aumentar o crescimento econômico e a criação de empregos", afirmou, em entrevista ontem, em Washington, horas antes de embarcar para o Brasil.
Shannon diria ainda que a mensagem de Chávez para a região é de "confronto, conflito, tem uma pesada dose de antiamericanismo, o que não consideramos positivo para aumentar o entendimento mútuo".
Antes, indagado sobre as críticas freqüentes e mais ou menos unânimes, vindas de ambos os lados do espectro político, segundo as quais o governo do republicano havia relegado a região a segundo plano desde o ataque terrorista de 11 de Setembro, Shannon respondeu: "Quando se trata de não dar atenção à região, sim, estão todos errados. É óbvio, não?".
Na segunda-feira, Bush anunciou um plano para a região com ações assistencialistas que lembram as de Chávez. Por mais que sua equipe e o próprio presidente neguem, ele faz seu giro latino-americano numa luta por "corações e mentes", como qualificou o jornal "The Washington Post", de um continente que vê crescer a influência do venezuelano.
Influência que Chávez conquista com seu discurso antiamericano e suas ações assistencialistas e populistas, por ironia movidas a petrodólares que obtém ao vender o produto ao governo do mesmo George W. Bush -a Venezuela é o quarto maior país exportador de petróleo dos EUA; por sua vez, o país ao norte é o maior cliente do governo de Caracas.
Em entrevista dada ontem à CNN espanhola, quando indagado se a viagem não significava também um esforço de conter o avanço de Chávez, Bush respondeu: "Essa viagem é realmente para lembrar às pessoas que nós nos importamos".É a terceira ida do presidente norte-americano à região. É também a segunda vez que visita o Brasil em seis anos de mandato. Bush esteve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no final de 2005, em Brasília, onde foi recebido com churrasco na Granja do Torto. No dia 31 de março, retribui a gentileza, ao receber Lula e Marisa em Camp David (Maryland), para um fim de semana no retiro presidencial.
Indagado se não faltaria assunto aos dois presidentes, com dois encontros tão próximos um do outro e inéditos na diplomacia brasileira, Shannon respondeu: "Nossa relação com o Brasil é tão grande que não teremos dificuldade em achar assuntos sobre o que conversar".
Shannon descartaria, porém, a queda da tarifa do álcool, um dos pontos defendidos por Lula nas discussões do memorando bilateral de biocombustíveis, que os dois presidentes devem anunciar amanhã. "Eu salientaria o fato de que o Brasil tem sido tão bem-sucedido em promover automóveis e motores "flexfuel" que, tomando pelo que os exportadores brasileiros nos dizem, o Brasil não conseguirá nem satisfazer sua demanda interna", afirmou.

FOLHA DE SÃO PAULO
BUSH DIZ ESPERAR AVANÇO EM CONVERSA SOBRE ÁLCOOL E DOHA
Presidente não fala, porém, sobre ceder em pontos que entravam negociações com Brasil
Declarações foram feitas anteontem em entrevista a jornais dos 5 países por onde republicano passará em seu tour pela América Latina
DA REDAÇÃO
O presidente dos EUA, George W. Bush, disse anteontem em entrevista a um grupo de jornais latino-americanos que espera avançar de "maneira construtiva" nas negociações da Rodada Doha de liberalização do comércio mundial com o Brasil na conversa com o colega Luiz Inácio Lula da Silva.
Também disse que quer trabalhar junto com o Brasil para compartilhar tecnologias da produção de álcool combustível. Nos dois casos, porém, não falou sobre ceder em pontos que entravam as negociações.
Bush disse que o álcool está muito mais presente na agenda americana do que na sua última visita ao Brasil, em 2005. "Já tínhamos o etanol na nossa pauta, mas agora o tema está mais forte como resultado de um padrão obrigatório para o combustível que eu determinei."
As afirmações foram feitas em entrevista a jornais de Brasil, Uruguai, Colômbia, Guatemala e México. Por escolha da Casa Branca, o jornal brasileiro foi "O Estado de S. Paulo".
O americano deu a entender que Lula o surpreendeu positivamente -"as pessoas têm reputações que as precedem, e, no entanto, ambos percebemos que compartilhamos das mesmas preocupações".
Bush alfinetou líderes de países aonde não irá, como Argentina e Venezuela. "Eu estou realmente ansioso em viajar e visitar os respectivos líderes. Esses são homens que eu respeito. Essas são pessoas cujas opiniões importam."
Questionado se procurava contrabalançar a influência de Chávez, Bush criticou o modelo de governo venezuelano. "Se o Estado tenta controlar a economia, acaba aumentando a pobreza e reduzindo oportunidades. Então, os EUA levam uma mensagem pró-mercado livre e governo livre à região."
Ele falou de sua expectativa para Cuba após a morte de Fidel Castro. "Transição não deve ser de uma figura para outra, mas de um tipo de governo para outro, baseado na democracia."
FOLHA
UMA BALA DE AÇÚCAR
CLÓVIS ROSSI
SÃO PAULO - A visita que o presidente George Walker Bush inicia hoje ao Brasil mais a viagem que seu colega Luiz Inácio Lula da Silva fará dia 31 aos Estados Unidos representam um desmentido, pelos fatos, à teoria de que há um viés anti-norte-americano na política externa brasileira. O fato é que a troca de visitas apenas confirma que raras vezes, talvez nunca (diria Lula), as relações Estados Unidos-Brasil estivem em tão bom nível.
De todo modo, a viagem de Bush acabará tendo um sabor agridoce. Doce porque o memorando de entendimento sobre cooperação no campo do etanol é "a mais positiva agenda que os Estados Unidos adotaram na região em décadas", como escreve, para o jornal canadense "Globe and Mail", a brasileira Annette Hester, especialista no mercado de energia, baseada em Calgary (Canadá). Mas ela própria introduz um "porém": "O diabo está nos detalhes e, a menos que Washington esteja pronto para realmente cooperar, toda a iniciativa poderia ser um tiro pela culatra".
Completa Pedro de Camargo Neto, talvez o brasileiro com mais experiência em negociações comerciais sobre agricultura, tanto no setor privado como no público: "A agenda da visita inclui muita coisa interessante, mas exclui o essencial: a liberalização do comércio do etanol nas Américas" (leia-se: a eliminação da sobretaxa imposta pelos Estados Unidos).
Enquanto o diabo dos detalhes não se explicita, Lula pode até dar-se ao luxo de cenas explícitas de megalomania, como gosta: há anos, vem pregando a propagação do etanol como a melhor forma de ajudar países pobres, e não só na América Latina/Caribe. Agora que Bush parece ter subido ao carro, o programa pode vir a ser no futuro uma bala de açúcar apontada ao coração de Hugo Chávez e seus petrodólares.

MINHAS PERGUNTAS A BUSH
CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - O Itamaraty e o governador José Serra não gostaram do relatório dos EUA sobre violações aos direitos humanos no Brasil. É direito deles, mas não dá para dizer que o relatório mente.
Eu, se fosse ministro ou governador de São Paulo, preferiria usar as perguntas que a Human Rights Watch faria ao presidente George Walker Bush durante sua visita ao Brasil. Duas delas:
1 - "De acordo com um relatório divulgado pela Human Rights Watch na semana passada, o governo dos EUA é responsável por desaparecimentos forçados ao manter suspeitos detidos em prisões secretas fora dos EUA. O relatório identifica 38 "desaparecidos" cujo paradeiro permanece desconhecido.
Quando é que os Estados Unidos vão revelar o destino e o paradeiro de todos os prisioneiros mantidos em prisões secretas pela CIA desde 2001?".
2 - "Em fevereiro, o Brasil e muitos outros países da América Latina assinaram a recém-adotada Convenção contra Desaparecimentos Forçados. Os EUA se recusaram a assiná-la. Por que os EUA não apóiam essa tentativa de combater uma internacionalmente reconhecida violação dos direitos humanos?"
Faria também uma cobrança em relação aos prisioneiros da chamada "guerra ao terror", mantidos ilegalmente em Guantánamo, em uma situação que Franz Kafka teria dificuldades de imaginar.
É assim: um tribunal federal decidiu, há 15 dias, que estrangeiros presos nesse pedaço de Cuba não têm direito ao amparo judicial porque Guantánamo não é dos Estados Unidos. Ou seja, os EUA criam um encrave em território cubano e "escondem" lá certos presos, que ficam, por isso, no limbo judicial, o que joga no lixo o "devido processo" de que tanto se orgulhava a democracia norte-americana e cuja ausência tanto criticam em outros países, com razão, aliás.
QUEM DÁ MAIS?
ELIANE CANTANHÊDE
BRASÍLIA - A disputa entre EUA, Venezuela e mais recentemente Brasil para manter os países da América do Sul sob controle está rendendo dividendos positivos -para os pequenos.
Os EUA têm um domínio sobre a região do tipo "manda quem pode, obedece quem tem juízo". A entrada em cena de Hugo Chávez, em 1999, abriu uma concorrência ostensiva, à custa dos petrodólares. E, no final do primeiro mandato de Lula, o Brasil abriu os olhos e viu que estava perdendo terreno.
Em novembro passado, a Folha já informava que o governo fazia mea-culpa por ter descuidado dos vizinhos e tinha decidido ter "uma presença mais ativa" nos países mais pobres da região no segundo mandato, sobretudo nos dois do Mercosul, Paraguai e Uruguai.
Bush vem aí hoje com um saco de bondades para a região e um discurso pró-combate à miséria, à la Lula. Chávez compra dívidas de Argentina e Paraguai e é um Papai Noel para Bolívia e Equador. E o Brasil, alerta, também embrulha o seu pacote para os mais pobres.
Como exemplos rápidos, o governo brasileiro doou US$ 20 milhões para o Paraguai recuperar a ponte da Amizade e R$ 20 milhões para agricultores da Bolívia, além de abrir uma linha de crédito de US$ 8 milhões para projetos de desenvolvimento no Uruguai.
Isso não é nada perto do que os EUA jogam na matança do Iraque e é apenas uma pílula diante do que eles investem na boa vontade dos latino-americanos. Mas é mais um movimento de Lula para não ver evaporar sua liderança, e ele tem vantagens: nem o Brasil tem a marca imperialista dos EUA nem o ímpeto beligerante da Venezuela.
Enquanto os grandes disputam hegemonia, os pequenos se dão bem. Não há o que reclamar, certo? PS - Serra, Cabral e Dias (PI) se aliaram ao ministro Haddad contra a DRE, mais um jeitinho de morder verbas da Educação e da Saúde.
ELIANE CANTANHÊDE
EM SÃO PAULO
O memorando de entendimentos que os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush assinam hoje empurra com a barriga qualquer decisão quanto a subsídios e taxas dos EUA contra o álcool combustível brasileiro. O texto dirá apenas que a questão será tratada nos "fóruns apropriados".
Isso deixa implícito que as negociações continuarão no âmbito da OMC (Organização Mundial do Comércio), onde EUA e Brasil já discutem a questão dos subsídios agrícolas de forma mais geral, na Rodada Doha.
O Brasil é o principal exportador mundial de álcool combustível. Dos 3,5 bilhões de litros que exporta por ano, 2,5 bilhões vão para os EUA, onde o produto recebe uma taxa de 0,54 centavos de dólar por galão, além de 2,5% de impostos alfandegários.Haverá avanços nas negociações das tarifas entre os dois países. Conforme a Folha apurou, o memorando negociado previamente entre as cúpulas dos dois governos prevê cooperação em biocombustíveis em três áreas: difusão para terceiros países, normatização e pesquisa e tecnologia.
Lula e Bush discutirão também hoje outros dois temas: a Rodada Doha e a reivindicação brasileira de obter uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Mas sem novidades. Porém, de todos os temas, o mais delicado será a ascendência do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, na região.
ENTRE LULA E BUSH, AS RUAS
ELIANE CANTANHÊDE
SÃO PAULO - Lula e seu governo se esgoelam nos gabinetes de Brasília para descartar qualquer acusação de anti-americanismo enquanto as esquerdas, inclusive algumas tradicionais bases petistas, se esfalfam nas ruas do país para comprovar justamente o contrário.
Não deixa de ser curioso registrar que o governo do PT, "de esquerda", proporciona dois encontros presidenciais num só mês -o de hoje, em São Paulo, e o do próximo dia 31, em Washington. E que os dois lados não se cansam de dizer que "nunca antes" as relações entre Brasil e EUA estiveram tão boas. Enquanto isso, as esquerdas que vão às vias de fato, se estapeando, apanhando, berrando o "fora Bush", estão menos identificadas com o governo Lula e mais com o de Hugo Chávez, na Venezuela.
Ruim para Lula? Não, muitíssimo ao contrário. Quanto mais Chávez chamar Bush de "el diablo" e quanto mais PSTU, MST e outros do gênero saírem por aí queimando bonecos de Bush, mais Lula se torna importante para o principal governo e maior mercado do mundo. O contraponto, o equilibrado, o confiável. Aquele com o qual vale a pena fazer acordos e parcerias. Até para "segurar" os tentáculos chavistas pela Argentina, pela Bolívia, pelo Equador. Por enquanto. No memorando que os dois presidentes vão assinar hoje para desenvolver o álcool combustível, está prevista a cooperação bilateral em três áreas: difusão do produto e de sua tecnologia para terceiros países, pesquisa e tecnologia e normatização e padronização (necessários para transformar o álcool em commodity internacional). Bush e seu governo não cederam na questão mais objetiva e crucial, a dos subsídios e taxas impostas ao álcool brasileiro, que está sendo empurrada para "fóruns mais apropriados". Mas o memorando é um bom acordo, digamos que um bom começo de conversa.

FOLHA DE SÃO PAULO
O ETANOL E O FUTURO
JOSÉ SERRA
Mesmo como gentis anfitriões, cabe dizer a Bush que a melhor contribuição para o impulso do etanol será derrubar as barreiras
A PASSAGEM do presidente George W. Bush pelo Brasil aqueceu o noticiário e as expectativas a respeito do etanol como combustível do futuro. Isso é proveitoso, pois dá um impulso mundial ao marketing do álcool, biocombustível pouco agressivo ao meio ambiente e que não está sujeito aos mesmos entraves políticos e econômicos que envolvem o petróleo.
Os Estados Unidos, contrariando sua tradicional retórica pró livre-comércio, estão ingressando na era do etanol amparados em regras que obstruem a formação de um mercado mundial de biocombustíveis.
A barreira norte-americana ao nosso etanol vai além da tarifa de 14 centavos de dólar/litro; outro tanto é entregue aos produtores, sob a forma de subsídio. Logo, o tamanho da barreira final é da ordem de 30 centavos de dólar/litro, montante próximo ao custo de um litro do álcool brasileiro. Ou seja, proteção de 100%! A razão é óbvia: a produção norte-americana de etanol, baseada no milho, é muito mais custosa que a nossa, baseada na cana-de-açúcar. Isso ocorre apesar da supervalorização cambial brasileira, que encarece muito as exportações. Assim, mesmo como gentis anfitriões do chefe de Estado de um país amigo, cabe mencionar ao presidente Bush que a melhor contribuição para o impulso do etanol no seu país e no mundo será derrubar essa barreira, mesmo gradualmente. Claro que há resistências domésticas de produtores e políticos de lá, mas em que país do mundo não as há?
O protecionismo tradicional dos países desenvolvidos não é o único entrave ao funcionamento de um mercado globalizado para o etanol. Os importadores não querem se sujeitar a uma oferta instável. O Japão, por exemplo, não mudará a matriz energética (elevando a 10% a participação do álcool em tanques de gasolina) sem toda a garantia de abastecimento seguro. A atual função de produção da agroindústria da cana, permitindo a mudança do álcool para o açúcar (e vice-versa), segundo as condições de mercado, favorece a incerteza.
O ingresso de capital estrangeiro nos canaviais brasileiros poderá contribuir para maior garantia de oferta do produto no mercado externo, segundo intenção de alguns investidores de focalizar a produção unicamente no álcool. Funcionariam como elemento de estabilização da oferta. Há pelo menos uma convergência entre as intenções de Bush e o Brasil.
Ele quer espalhar a produção de etanol no mundo, menor dependência de um produtor quase único (nós) e maior concorrência na formação de preços. Isso é conveniente para o Brasil, pois ajudaria a desenvolver o mercado internacional para exportações. De mais a mais, ante as condições de clima, solo e disponibilidade de terras, nem a América Latina nem a África ou a Ásia poderão desbancar o Brasil na linha de frente da produção mundial. E os EUA mal conseguirão acompanhar o crescimento de sua demanda interna projetada, sem chance de virarem grandes exportadores. Já o Brasil vai continuar a produzir o álcool (e o açúcar) mais barato do mundo. E pode crescer mais ainda. Hoje, há 7 milhões de hectares de cana, mas se sabe existir no país cerca de 90 milhões de hectares adicionais de terras facilmente cultiváveis, das quais 25 milhões adequadas para cana-de-açúcar. Dobrando a produtividade na produção de álcool por hectare em dez anos, com melhoria de rendimento e uso dos restos vegetais, a produção poderia ser multiplicada por oito. Basta investir em tecnologia.
O etanol é um sucesso que os brasileiros têm direito de comemorar, até porque não veio de graça. Os subsídios chegaram a cerca de 30 bilhões de dólares desde os anos 70. Hoje são zero. A tecnologia nacional teve papel importante para a afirmação do biocombustível verde-amarelo. Por exemplo, graças às melhorias genéticas do IAC (Instituto Agronômico de Campinas, do governo de São Paulo), a produção física de cana por hectare aumentou 40% em 20 anos. Hoje há pesquisadores do IAC em Goiás, Tocantins, Alagoas e Minas Gerais tratando de inovações nas áreas da cana.
Em São Paulo, tomou-se iniciativa essencial ao futuro do etanol no Brasil: a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa), que recebe 1% do ICMS estadual, está preparada para coordenar um grande programa de pesquisas sobre o etanol, com iniciativa privada e agências federais, em várias frentes, da tecnologia de máquinas e equipamentos ao desenvolvimento da alcoolquímica, do melhoramento das plantas (mais energia, menos sacarose) à fermentação do bagaço de cana e outros resíduos. O programa inclui pesquisas sobre os impactos sociais e ambientais. O investimento total ultrapassa 150 milhões de reais, a maior parte bancada pela Fapesp. São Paulo produz quase dois terços do álcool (e do açúcar) do país. A cana ocupa mais da metade das lavouras do Estado (excluídas as pastagens). Trata-se de concentração excessiva. Gera renda, mas acena com os riscos da monocultura. Será preciso investir no aumento da produtividade e fazer alcooldutos, mas levar a expansão adicional dos cultivos a outros Estados.
Acima de tudo, é essencial garantir as condições ambientais que cercam a cana-de-açúcar. Neste ano, São Paulo terá plantado 4,2 milhões de hectares de cana. Em pelo menos 2,5 milhões de hectares (10% do território paulista) as colheitas serão realizadas mediante queimadas! É uma aberração ecológica e um atentado à saúde das pessoas. Será dever de todos nós, governo e não governo, produtores e não produtores, corrigir essa distorção, com coragem, firmeza e sabedoria. Afinal, uma das principais razões de ser do etanol é assegurar um convívio amigável com o meio ambiente.
JOSÉ SERRA é o governador do Estado de São Paulo.
ESTADÃO
'Posição do presidente americano é dele'
Gustavo Porto, Leonêncio Nossa e Tânia Monteiro, Brasília
Segundo Dilma, Brasil não tem relações excludentes com nenhum país A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, afirmou ontem que o Brasil não tem relações excludentes com nenhum país, ao comentar as declarações do presidente dos EUA, George W. Bush, em entrevista ao Estado e outros quatro veículos de comunicação latino-americanos. Na entrevista, publicada ontem, Bush criticou o modelo estatizante do presidente venezuelano, Hugo Chávez, dizendo que ele leva à pobreza. “A posição do presidente George W. Bush é a dele. A posição do Brasil é a de manter relações com os Estados Unidos e demais países do continente americano, como a Venezuela, a Argentina e o Uruguai”, afirmou Dilma. E garantiu que “a relação do Brasil com os Estados Unidos é a melhor possível”. Dilma afirmou, contudo, que o Brasil vai insistir com os Estados Unidos na derrubada das barreiras tarifárias sobre o etanol brasileiro. “Não é possível o Brasil não defender o direito de vender o etanol nacional, que é o mais competitivo”, disse. “Vamos defender a presença do produto no mercado americano e no mercado em geral.” Segundo ela, a política de etanol deve ser igualitária, especialmente quando se “trata de uma parceria”, numa referência ao acordo que deve ser assinado amanhã entre Bush e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ministra-chefe da Casa Civil disse que a visita do presidente dos Estados Unidos poderá resultar num avanço de propostas relativas à produção etanol, como o incentivo à pesquisa e a definição de padrões e especificações do combustível, itens que precisam ser respeitados no processo de exportação.
SINTONIANa avaliação do Itamaraty, a entrevista de Bush mostrou que, nos grandes temas, como etanol, Haiti e Rodada Doha de negociações comerciais, os discursos de Brasil e EUA “estão sintonizados”. As declarações do presidente norte-americano foram consideradas indicadoras de que existem interesses comuns entre os dois países e de que as relações bilaterais só tendem a melhorar.
No Planalto, a repercussão foi ainda mais otimista. Auxiliares de Lula comentaram que a fala de Bush mostra que os dois países podem caminhar juntos em muitas questões, com na parceria para disseminar a tecnologia do etanol na América Latina e para as questões da Rodada Doha.
“Os dois presidentes estão comprometidos em que os entendimentos avancem”, comentou um assessor palaciano. Ele ressaltou que Bush foi “muito gentil” e “simpático” nas referências a Lula. “É uma demonstração clara da boa relação que tem marcado todos os encontros e conversas que eles tiveram até hoje.”AGENDA POSITIVA
O Ministério das Relações Exteriores evitou comentar temas da entrevista relacionados a outros países, como as críticas de Bush a Chávez. “Não nos cabe servir de intermediários em questões de outros países. Temos uma agenda positiva com os Estados Unidos. É isso que pretendemos discutir, e não os problemas que existem entre os dois países”, comentou um diplomata ligado ao gabinete do ministro Celso Amorim.
URUGUAIOutra questão referente a outros países sobre a qual oficialmente o governo brasileiro prefere não se posicionar é em relação aos acordos bilaterais, que o Brasil entende prejudiciais ao Mercosul. Na entrevista, Bush descartou a assinatura de acordo bilateral com o Uruguai. A própria ministra Dilma Rousseff disse que o governo brasileiro não se manifestaria sobre a declaração do presidente americano. Lula trabalhou para que o Uruguai não assinasse esse tipo de acordo bilateral, que o obrigaria a sair do Mercosul.
LULA VAI ELOGIAR 'ALIANÇA REAL' PROPOSTA NA VISITA
Denise Chrispim Marin e Tânia Monteiro, Brasília
ESTADO DE SP
Presidente brasileiro deverá arcar com desgate junto a Chávez mesmo que evite conversa sobre Venezuela
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai aproveitar seu discurso, no encontro com o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, para destacar que o tema etanol propiciou que, pela primeira vez, um chefe de Estado norte-americano chegasse ao Brasil propondo “uma aliança real”, “uma verdadeira parceria” entre os dois países. Lula vai destacar ainda que Brasil e Estados Unidos têm o que construir juntos.
Por outro lado, a visita de Bush deverá levar Lula a posição de destaque nos conflitos entre os Estados Unidos e a Venezuela do presidente Hugo Chávez. Bush desembarca na noite de hoje em São Paulo na condição de líder que tenta romper seu isolamento no plano internacional e conter a expansão da revolução bolivariana de Chávez por meio de acenos de “generosidade” à América Latina - região que vinha relegando nos últimos seis anos.A Casa Branca soube valer-se da assinatura de um acordo bilateral de cooperação na área de biocombustíveis e dos investimentos que seguirão ao Brasil como moeda de troca nas suas pretensões na América Latina.Este terceiro encontro formal entre Bush e Lula será marcado, portanto, por uma pragmática barganha.
O Palácio do Planalto alimenta a expectativa de ver as corporações americanas despejarem bilhões de dólares em investimentos na tecnologia e na produção de etanol de celulose no Brasil, nos próximos anos, bem como em obras de infra-estrutura e do setor energético listadas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Também se aproveita da passagem de Bush para refutar a existência de um viés antiamericano no governo Lula e para lançar uma nova fase de relações “renovadas” e “íntimas” entre Brasil e Estados Unidos, como defendeu o chanceler Celso Amorim.
Assessores do presidente Lula indicaram ontem que essas chances não serão perdidas. Mas ressaltaram que não há interesse nenhum de ver a Venezuela incluída na conversa entre Lula e Bush, amanhã. A inclusão desse tema, completaram, seria constrangedora para o Brasil e limitaria a capacidade de o País atuar como força estabilizadora da América do Sul. Até o momento, a receita de Lula para tourear Chávez envolvia paciência, sugestões cautelosas e raras broncas. Mesmo que essa fórmula seja preservada, dificilmente Chávez verá Lula da mesma forma depois da passagem de Bush pelo Brasil e a visita do presidente brasileiro a Camp David, em 31 de março.
DE OCASIÃO
O documento que Lula e Bush assinam amanhã abrirá formalmente o leque jurídico para a parceria no desenvolvimento da tecnologia do etanol de celulose e para a ação conjunta em potenciais mercados produtores na América Latina. O estágio embrionário dessa parceria, entretanto, vai requerer de Lula e sua delegação certa cautela ao tratar da necessária abertura do mercado americano de etanol, para evitar o aborto do projeto por Washington. Hoje, o galão (equivalente a 3,785 litros) importado do Brasil é taxado em US$ 0,54.
A idéia de um acordo de cooperação na área biocombustíveis dormia em uma gaveta de Washington desde 2001, até ser resgata recentemente pela Casa Branca para a oportuna passagem de Bush por São Paulo - a primeira parada de um roteiro que se estenderá pelo Uruguai, Colômbia, Guatemala e México. A proposta não só agrada ao governo Lula, mas responde também ao desafio de Bush de reduzir a dependência americana do petróleo e aos clamores do eleitorado americano na área ambiental
PARCERIA ESTRATÉGICA
ESTADÃO
CELSO MING
O Presidente Bush desembarca hoje em São Paulo para propor mais do que meganegócios na área do álcool. Como já é sabido, a idéia é formar uma parceria entre Estados Unidos e Brasil centrada no desenvolvimento do mercado global de biocombustíveis.
É prematuro concluir que o novo foco terá força para mudar a qualidade da relação entre os dois países e a política externa do governo Lula, como tem sido repetido. Mas ele vai nessa direção.
Até agora, os Estados Unidos apenas esporádica e marginalmente precisaram dos suprimentos de matérias-primas sul-americanas. Puderam exercer sua liderança econômica e política no mundo, de costas para seus vizinhos ao Sul, porque foram até agora grandes produtores de matérias-primas.A mudança desse quadro pode ter chegado agora, quando o governo americano se deu conta de que não pode adiar o desenvolvimento do mercado de etanol (álcool), seja por motivos de segurança estratégica (depender menos dos fornecimentos a partir de zonas conflagradas), seja por necessidade de proteção ambiental.
Em princípio, não se trata de despachar cargueiros carregados de etanol brasileiro para os portos americanos, mas de criar vasto mercado internacional para um produto cujo consumo hoje está concentrado nos Estados Unidos e no Brasil.
A nova parceria deverá ferir interesses ou levantar suspeitas aqui no Brasil. Setores do Itamaraty ainda vêem os Estados Unidos como 'o eixo do mal' cuja proximidade devesse ser evitada. É provável que, para esses, a proposta do presidente Bush não passe de nova cantada destinada a exercer dominação colonial sob outras formas.
O projeto poderá ter adversários em dois outros segmentos. O primeiro deles são algumas organizações empresariais que vêem no crescimento das exportações do etanol nova ameaça ao setor manufatureiro, na medida em que tenderão a reforçar - dizem - a entrada de dólares, a aumentar a valorização do real e, com base nisso, a desindustrialização.
Outro reduto que vê a parceria com suspeita é a CUT, que, nesse caso, faz coro a seus patrões porque teme que a criação de uma 'Arábia Saudita do etanol' desemboque na redução do emprego. Na semana passada, por exemplo, o ex-presidente da CUT e hoje ministro do Trabalho, Luiz Marinho, sugeriu que o governo institua um Imposto de Exportação para desencorajar exportações de produtos de baixo valor agregado, como o etanol.O economista Eduardo Carvalho, presidente da Unica, a entidade que defende os interesses dos usineiros, vem observando que, neste momento, não é essencial rebaixar a proteção alfandegária vigente nos Estados Unidos em favor dos produtores de milho, matéria-prima da qual os Estados Unidos obtêm a maior parte do etanol que produzem. Quem insiste em que a nova parceria só deva ser aceita sob essa condição prévia está jogando contra o sucesso da empreitada.
Enfim, esta é mais uma oportunidade para desenvolver um novo mercado para um produto eminentemente nacional. É pegar ou largar.
VENEZUELA USA PETRÓLEO BARATO PARA COMPRAR APOIO, ACUSA SUBSECRETÁRIO
Patrícia Campos Mello, correspondente, Washington
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, está “comprando favores” dos países latino-americanos com a sua assistência financeira e criando nações “dependentes de petróleo barato”. Foi com essas palavras duras que Thomas Shannon, subsecretário de Estado para o Hemisfério Ocidental, referiu-se às políticas do presidente venezuelano - a quem chamou de “o cavalheiro bolivariano”.
Shannon, que vai acompanhar o presidente George W. Bush na viagem pela América Latina, afirmou que os Estados Unidos querem estimular o sucesso econômico para que os países da região sejam independentes, enquanto o presidente venezuelano promove a dependência do petróleo com fins políticos . “Chávez tem uma mensagem de confronto, com um alto teor de antiamericanismo, e quer criar dependência de petróleo barato e assistência com fins políticos”, disse.
ETANOL
Indagado sobre a função da cooperação regional do etanol, Shannon afirmou: “Trabalhando com o Brasil na iniciativa de biocombustíveis , estamos contribuindo para que países da região tenham mais controle sobre o seu próprio destino.”
Confrontando com o fato de que a ajuda financeira oferecida por Chávez à região é muito superior à anunciada por Bush, Shannon foi firme. “Isso não é uma competição. Nós não queremos comprar favores ou criar uma relação de dependência com assistência, que é o que Chávez quer fazer.”Shannon sabe que os brasileiros pretendem retomar a questão das tarifas impostas pelo governo americano que dificultam a entrada do etanol brasileiro. Mas não indica que há abertura nesse sentido: “Essa é questão decidida pelo Congresso e não está madura para qualquer tipo de decisão.”
ESTADÃO
PARA LAFER, EUA REVÊEM SUA POLÍTICA EXTERNA
GABRIEL MANZANO FILHO
Ex-chanceler diz que Bush sabe que não pode mais agir ‘unilateralmente’ Ao afirmar em entrevista concedida ao Estado e a outros quatro jornais latino-americanos suas preocupações com a pobreza da região e admitir que há um forte protecionismo em seu país, o presidente George W. Bush deixa claro que os Estados Unidos estão reavaliando sua política externa. “É a consciência de que no mundo de hoje, interdependente, a grande potência não pode mais atuar unilateralmente”, diz o ex-chanceler Celso Lafer. As respostas dadas por Bush, segundo ele, “refletem sua preocupação com a idéia de antiamericanismo e seu empenho em sensibilizar a agenda interna norte-americana na região”.
Na conversa, Bush demonstrou “que a percepção de seu governo pela América Latina, nestes últimos meses, está um pouco melhor”, acrescenta o embaixador Rubens Barbosa. Tendo servido em Washington durante o governo Fernando Henrique Cardoso e no início do governo Lula, Barbosa - que antes foi embaixador em Londres - conhece pessoalmente e tem boa impressão do número dois da diplomacia americana, John Negromonte, e do atual encarregado de América Latina, o secretário-assistente Thomas Shannon. “É uma equipe que conhece a região e tem noção da baixa prioridade que o continente vem tendo nas recentes políticas da Casa Branca”. Ambos sabem, prossegue o embaixador, “que a longa abstinência política dos EUA no continente permitiu ao presidente venezuelano Hugo Chávez ganhar espaço e ampliar seu raio de ação”.
“Mas ao fazer as coisas do modo com vem fazendo, ele está chavizando sua viagem e isso é ruim para ele”, adverte outro ex-embaixador nos EUA, Roberto Abdenur - que deixou o posto em janeiro para se aposentar . No essencial, Abdenur diz concordar com a argumentação de Bush sobre o papel do Estado - sem o seu radicalismo, “pois há muitas ações competentes pelas quais responde o Estado, como a atuação da Petrobrás no Brasil, por exemplo”. Mas “do jeito que vão as coisas na Venezuela”, acrescenta, “está claro que, recorrendo sempre a saídas estatizantes, o horizonte não é bom”. Mas o presidente Bush, segundo ele, se mostra um tanto precipitado ao tornar o colega venezuelano o grande assunto de suas declarações. “Quanto mais critica e fala de Chávez e de seu bolivarianismo, mais ele o valoriza. Assim ele está entrando na agenda do Chávez”. Na questão do etanol, o presidente americano parece deixar de lado suas preocupações com o meio ambiente, adverte Celso Lafer. “A visão dele é de segurança econômica, sem dar a importância devida ao tema ambiental. E este deveria estar em sua agenda”, afirma. Na visão dele, caberia ao lado brasileiro realçar, além da dimensão econômica, a do desenvolvimento sustentável.FUTURO DE CUBA
A afirmação de Bush de que, no caso de Cuba, não basta trocar pessoas, mas todo um sistema de governo, e que cabe ao povo cubano decidir seu futuro, soou a esses diplomatas apenas como retórica. “Não vejo muitas mudanças”, observa Abdenur. “O que é lamentável é que, na prática, as ações americanas nas relações com o país de Fidel Castro são determinadas pela lei Helms-Burton”.
Essa lei, aprovada pelo Congresso americano em 1996, estabelece que as relações entre os dois países só voltarão a se normalizar quando os cubanos tiverem liberdade para escolher diretamente seus governantes. Existe nela até um item que determina que se depois de Fidel Castro o controle político estiver com seu irmão Raul, os outros artigos da lei continuarão em vigor.
Quanto ao antiamericanismo admitido pelo presidente Bush, Barbosa observa que “o que há é o antagonismo de algumas pessoas, não de todo um país”. E, de qualquer modo, ele não será reduzido com pacotes de ajuda como o anunciado anteontem, com assistência a alguns setores e com valores modestos. “As medidas vieram tarde e são muito pequenas”, diz o embaixador. FRASESCelso Lafer
Ex-chanceler“Há uma consciência de que a grande potência não pode mais atuar unilateralmente”Rubens Barbosa
Ex-embaixador nos EUA
“A nova equipe tem noção da baixa prioridade que o continente latino-americano vem tendo”
Roberto Abdenur
Ex-embaixador nos EUA
“Bush está chavizando sua viagem e isso é ruim para ele”

ESTADÃO
UMA RESPOSTA A HUGO CHÁVEZ
JORGE G. CASTAÑEDA
ARTIGO PUBLICADO NO THE WASHINGTON POST
Jorge G. Castañeda foi ministro das Relações Exteriores do México de 2000 a 2003 no governo do presidente Vicente Fox e atualmente é professor de política e estudos latino-americanos e caribenhos na Universidade de Nova York. Cada parada do iminente giro do presidente americano George W. Bush pela América Latina tem sua própria miniagenda: etanol e Rodada Doha no Brasil; um Acordo de Estrutura Comercial no Uruguai; Plano Colômbia e combate às drogas em Bogotá; imigração e segurança no México e na Guatemala. Mas há uma agenda geral para a qual essa viagem pode ser insuficiente e chegar tarde demais: a contenção de Chávez.
O equilíbrio de forças na região mudou. Não só a inclinação para a esquerda persistiu - com as vitórias na Nicarágua e no Equador, quase derrotas sem precedentes no México e no Peru, avanços inesperados na Colômbia -, mas a influência do presidente venezuelano se expandiu. Hugo Chávez aprendeu a se equilibrar ao sabor das circunstâncias e montou um conjunto impressionante de ferramentas para seduzir a região. Seu “socialismo do século 21” é uma curiosa mistura de economia estatal, subsídios sociais abrangentes, presidência perpétua, governo por decreto e teoria e práticas autoritárias, além de disputas sem quartel com Washington.Graças à receita ilimitada (por enquanto) do petróleo e um afluxo interminável de médicos, educadores e pessoal de segurança cubanos - e, em breve, suprimentos abundantes de armas russas fabricadas na Venezuela -, o novo caudilho caribenho está com a bola toda. Chávez explorou habilmente a decepção dos pobres da região com as reformas econômicas das últimas duas décadas; ele está (por enquanto) proporcionando os bens: atendimento básico à saúde, campanhas de alfabetização, controle de preços dos gêneros de primeira necessidade. Chávez estendeu seu alcance à Bolívia, onde Evo Morales o adora; à Argentina, onde ele e seu colega populista Néstor Kirchner estão preparando uma ampla manifestação anti-Bush para coincidir com a chegada do presidente americano do outro lado da baía, em Montevidéu; e cada vez mais para Equador e Nicarágua, com doações generosas. Guatemala e Paraguai poderão ser os próximos.
Embora boa parte do socialismo de Chávez seja de caráter retórico ou enraizado na política econômica, ele acarreta um sério retrocesso no âmbito dos direitos humanos e da democracia representativa. Em última instância, se Chávez deseja arruinar a economia da Venezuela, isto é problema do povo venezuelano; mas se ele procura estender sua concentração de poder na Venezuela ou alhures, isto é problema de todos. Já é hora de outros dizerem isso e empreenderem a necessária luta política e ideológica para barrar Chávez e Havana, tanto refutando suas falácias e fracassos populistas como alardeando os méritos da alternativa democrática e da economia de mercado globalizada, por imperfeita que possa ser.
George W. Bush é a pessoa menos apropriada na Terra para essa missão. Ele é imensamente impopular na América Latina - desde a viagem de Richard Nixon a Caracas em 1959, nunca houve tantos protestos previstos - e desde 11 de setembro de 2001, ele negligenciou o hemisfério. Muitos zombam que, se ele defender a democracia na América Latina tão bem como tem feito no Iraque, Deus salve os democratas latino-americanos.
A boa nova é que há alguém capaz de fazer o trabalho se receber cobertura política e ajuda financeira internacional para a tarefa. Felipe Calderón, do México, é a pessoa indicada para envolver Chávez e os irmãos Castro nas inevitáveis querelas ideológicas. Ele acredita em direitos humanos e democracia, e compreende a política macroeconômica e a necessidade de programas eficazes contra a pobreza. Ele também sabe como se entender com seu vizinho do Norte.
Calderón, um polemista jovem e convincente, é uma opção melhor que Álvaro Uribe, da Colômbia, que compartilha uma fronteira com a Venezuela. A ala esquerda do Brasil não permitirá que Luiz Inácio Lula da Silva ataque Chávez, mesmo que Lula o deseje. O Chile é um exemplo esplêndido de sucesso em políticas socialmente orientadas e sensíveis, mas a presidente Michele Bachelet não mostrou desejo de se empenhar nisso. E apesar de Oscar Arias, da Costa Rica, ter prestígio pessoal e experiência, seu país não tem.Entretanto, mesmo Calderón tem um problema. Os debates públicos de seus predecessores com Castro, Chávez e Kirchner caíram muito bem junto aos mexicanos, mas muito mal junto ao establishment tradicional do país: a velha guarda do Partido da Revolução Democrática (PRD) pró-cubano e do Partido Revolucionário Institucional (PRI). Declarado um líder ilegítimo por seu rival na disputa pela presidência, e eleito com apenas 35% dos votos, Calderón está compreensivelmente relutante em arrostar a turma do barulho sem alguma garantia de que Bush não o deixará na mão no problema da imigração como fez com Vicente Fox. Alguns acreditam que Calderón está pensando em jogar a toalha no debate ideológico e acertar os ponteiros com Caracas, Havana e Buenos Aires, deixando de lado democracia e violações de direitos humanos.
Mas se Bush finalmente for ao México levando um firme compromisso com uma reforma abrangente da imigração, e o suporte bipartidário de líderes da Câmara e do Senado para aprová-la prontamente, Calderón teria a margem de manobra necessária para travar a batalha das idéias contra a maré populista da região. Essa seria a melhor maneira de contê-la: com as idéias do México e de seus amigos, e não com tentativas pela força de Washington.
JORNAL DO BRASIL
LULA REPUDIA ACUSAÇÕES DOS EUA
TINA VIEIRA E VALDEREZ CAETANO
Visita de Bush - Governo brasileiro classifica como "inaceitáveis" as críticas feitas ao país pelo Departamento de Estado norte-americano
Brasília. Por ordem expressa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Ministério da Relações Exteriores emitiu, ontem, uma nota em que repudia as críticas feitas ao país pelo Departamento de Estado norte-americano, no relatório divulgado terça-feira sobre violações aos Direitos Humanos. Lula determinou ao ministro Celso Amorim a divulgação de uma resposta dura às acusações. A nota é curta e direta. Diz que "o governo brasileiro não reconhece a legitimidade de relatórios elaborados unilateralmente por países, segundo critérios domésticos, muitas vezes de inspiração política". - Atitudes e avaliações unilaterais sobre tais temas são inaceitáveis, pois contrariam os princípios da universalidade e da não-seletividade dos direitos humanos - diz o documento.
Ainda segundo a nota, o Brasil está aberto ao diálogo com todos os organismos internacionais e regionais de direitos humanos. O texto afirma que, no Conselho de Direitos Humanos, o Brasil tem defendido práticas de monitoramento imparcial, como o Relatório Global pelo Alto Comissariado das Nações Unidas. Por fim, registra que o país mantém convite permanente a todos os Relatores Especiais de direitos humanos da ONU, a quem garante amplo acesso a entrevistas e informações.
- O Brasil encoraja todos os países, inclusive os EUA, a adotarem a mesma postura - conclui o documento.
A manifestação do governo brasileiro ocorreu um dia depois da divulgação do relatório e na véspera da chegada do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, ao Brasil. O documento elaborado pelo Departamento de Estado norte-americano acusa integrantes das forças de segurança brasileiras de praticarem abusos.
O governador de São Paulo, José Serra, também veio a público para criticar o relatório do Departamento de Estado, que ataca a polícia do Estado. Serra questionou se o relatório é justo e sugeriu que os Estados Unidos deveriam divulgar o que acontece na base militar norte-americana em Guantánamo. - Eu gostaria de ver o relatório do Departamento de Estado sobre Guantánamo. Você não acha justo? Só para a gente poder olhar - disse Serra, que amanhã participará de um almoço com o presidente Bush. A presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Ellen Gracie, recusou-se a comentar o relatório do Departamento de Estado dos EUA, embora o documento critique a lentidão da Justiça brasileira

VALOR ECONÔMICO
LULA VAI PEDIR A BUSH QUEDA GRADUAL NA TARIFA DO ETANOL
Mauro Zanatta, Ricardo Balthazar e Aldo do Amaral Rocha
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve propor amanhã ao presidente americano, George W. Bush, durante reunião reservada em São Paulo, um acordo para reduzir de forma gradual as barreiras dos EUA ao etanol brasileiro. O alívio tarifário deve ser atrelado, porém, à elevação da produção nacional no médio prazo. Quanto mais álcool produzido no Brasil, menor seria a tarifa.
Os EUA se opõem à proposta. Thomas Shannon, secretário-assistente do Departamento de Estado para a América Latina, que acompanha Bush, disse ontem que o Brasil não tem condições de exportar etanol em grandes volumes sem prejudicar o abastecimento doméstico. "Pelo que os especialistas brasileiros nos dizem, o Brasil não será capaz de atender sua demanda interna", disse. "Focar no mercado externo neste momento parece refletir um entendimento sobre o mercado brasileiro que está no passado, e não no presente ou no futuro".
Produtores e exportadores de carne enviaram carta ao presidente Lula pedindo que ele inclua a abertura do mercado americano à carne bovina in natura na pauta de discussões com Bush.
LULA PROPORÁ QUEDA GRADUAL DE TARIFAS SOBRE O ETANOL
Mauro Zanatta
O presidente Lula também sugerirá um pacto bilateral para investir os recursos arrecadados com as taxas sobre o etanol no desenvolvimento de pesquisas para o setor nos dois países. No Brasil, parte do dinheiro ajudaria a financiar estudos com novas variedades de cana-de-açúcar mais produtivas. Nos EUA, seriam realizadas pesquisas para a produção de etanol a partir de celulose com a participação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
O gradualismo na redução das taxas seria a melhor saída diplomática para o governo brasileiro, apurou o Valor. Atenderia à pressão dos usineiros por uma ação concreta contra as tarifas, mas também daria tempo suficiente para elevar a oferta interna de álcool. E sem colocar em risco o abastecimento ou provocar instabilidades consideradas "desnecessárias". As tarifas, que valem até dezembro de 2008, dependem de uma decisão do Congresso dos EUA. "Não podemos ficar nas mãos dos usineiros. Temos que regular a oferta interna para depois estimular a exportação. Retirar a tarifa de forma gradual ajuda a evitar descontrole interno. Se deixar na mão dos usineiros, eles vão querer exportar tudo em dólar", avalia uma fonte do governo envolvida com as negociações de bastidores.
A partilha da arrecadação anual das taxas, estimada em U$$ 300 milhões, seria uma forma de "compensação" ou um sinal de "boa vontade política" do governo de Washington com um programa por eles considerado prioritário. Hoje, o etanol brasileiro paga um imposto de US$ 0,14 por litro e uma tarifa "ad valorem" de 2,5% sobre o preço do produto embarcado. Os EUA usam os recursos para bancar os subsídios de US$ 0,13 pagos aos produtores locais de etanol de milho. Em 2006, o Brasil exportou 1,77 bilhão de litros ao mercado norte-americano. Até 2013, o governo brasileiro prevê dobrar a área plantada de cana, o que seria suficiente para elevar a produção de 420 milhões para 720 milhões de toneladas por ano. A expansão planejada resultaria num aumento de 17,5 bilhões para 35 bilhões de litros até 2013. Dessa forma, o consumo doméstico estaria assegurado. O governo estima uma elevação da demanda interna de 14 bilhões para 24 bilhões até lá. Os veículos com motor "flex fuel" são a principal fonte de demanda. Hoje, há 3 milhões desses carros em circulação no país. Prevê-se um adicional de outros 9 milhões até 2013.
A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, tem discutido o tema com diversos especialistas. Nesta semana, por exemplo, o ex-ministro Roberto Rodrigues conversou por mais de duas horas com Dilma. Ontem, executivos do setor sucroalcooleiro debateram algumas soluções. Rodrigues também tem defendido alternativas à extinção pura e simples das tarifas.
Em público, porém, o governo continua a defender o fim das tarifas sobre o etanol. Durante evento na sede da Embrapa, a ministra Dilma Rousseff afirmou ontem que o governo insistirá na extinção das barreiras. "Não é possível o Brasil não defender o direito de vender o etanol nacional, que é o mais competitivo", disse. "Vamos defender a presença do produto no mercado americano e no mercado em geral." A ministra afirmou, ainda, que o acordo entre Brasil e EUA é uma "parceria". Dessa forma, tem que considerar benefícios para os dois lados. Mais cedo, em reunião com usineiros, no Planalto, Dilma debateu temas do setor, como oferta e demanda de etanol, adoção de novas tecnologias, comércio internacional, alterações na legislação e questões de infra-estrutura.
Apesar das negativas, o encontro também tratou do aumento da mistura de álcool anidro na gasolina nacional. Às vésperas do início da nova safra de cana, os usineiros temem um excesso de oferta e a queda abrupta dos preços. Por isso, querem elevar a mistura de 23% para 25%.
O ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto, emitiu sinais positivos. "O compromisso do governo é voltar a conversar isso (mistura) em abril, quando começa a nova safra. Não nos interessa um estoque excessivo de álcool", disse. Segundo ele, o preço do álcool manteve-se "estável" ao longo da entressafra. (Com agências noticiosas
VALOR ECONÔMICO
PRESIDENTES PODEM INICIAR DISCUSSÃO SOBRE ACORDO PARA EVITAR BITRIBUTAÇÃORICARDO BALTHAZAR
DE WASHINGTON
Empresas com negócios no Brasil e nos Estados Unidos querem aproveitar o clima favorável criado pela recente reaproximação entre os governos dos dois países para promover interesses que vão além da parceria no desenvolvimento de combustíveis alternativos, assunto que dominará as conversas entre os presidentes dos dois países amanhã.
O principal ponto dessa agenda é a discussão de um acordo entre o Brasil e os EUA para evitar a dupla tributação das companhias que atuam nos dois países. Autoridades dos dois governos deram sinais nos últimos meses de que estão dispostas a falar do assunto, mas dificuldades têm impedido o aprofundamento da discussão.
Na avaliação do setor privado, a renovação do interesse dos dois governos pela relação bilateral criou condições para empurrar essa conversa para frente. "Queremos acelerar as discussões com o objetivo de iniciar logo negociações formais sobre o assunto", disse ao Valor o vice-presidente executivo da seção americana do Conselho Empresarial Brasil-EUA, Mark Smith. O tema poderá entrar nas conversas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com seu colega americano, George Bush, amanhã. A questão ganhou importância no relacionamento entre os dois governos por causa do aumento da carga tributária no Brasil e dos investimentos de empresas como a Gerdau e o grupo Votorantim no mercado americano. Um assessor direto de Bush, o diretor do Conselho de Segurança Nacional para assuntos da América Latina, Daniel Fisk, disse na segunda-feira a membros da comunidade empresarial nos EUA que o presidente americano defenderá na reunião com Lula a "intensificação das negociações" de um tratado sobre bitributação, diz informe distribuído por uma pessoa que participou da conversa com Fisk.
Bush desembarca amanhã no Brasil, primeira etapa de um giro de seis dias pela América Latina. Ele passará algumas horas com Lula e depois irá para Uruguai, Colômbia, Guatemala e México. Bush e Lula terão outro encontro no fim do mês, quando Lula passará um fim de semana na casa de campo do presidente americano nos EUA.
Um acordo entre o Brasil e os EUA na área tributária permitiria que companhias dos dois países pagassem menos impostos em casa, usando como créditos os tributos recolhidos por suas subsidiárias no exterior. A discussão é tecnicamente bastante complicada e nunca foi muito longe porque os governos temem perder receitas com um acordo dessa natureza. Representantes do setor privado, funcionários do Tesouro americano e da Receita Federal no Brasil conversaram diversas vezes sobre esse assunto nos últimos meses, num sinal do interesse crescente que a questão desperta. Mas ainda não há uma determinação política para dar passos mais ousados nessa área.
Organizações como a Câmara de Comércio dos EUA e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) também querem aproveitar a visita de Bush para reacender o interesse dos governos dos dois países por questões como a eliminação de entraves burocráticos na alfândega brasileira, que têm sido discutida no âmbito de grupos interministeriais sem produzir avanços muito visíveis.
Também há pressões para incluir na agenda dos presidentes miudezas como outra antiga reivindicação privada, a extensão do prazo dos vistos concedidos pelos dois países para viagens de negócios, hoje de cinco anos. Os americanos gostariam que ele fosse ampliado para sete anos. A Fiesp defende um prazo de dez anos.
O entusiasmo dos diplomatas brasileiros e americanos com a visita tem estimulado o otimismo no setor privado, mas a situação política americana impõe limites para iniciativas muito ambiciosas. "A viagem de Bush à América Latina é importante, mas seu impacto teria sido maior se ela tivesse ocorrido há um ano", disse ao Valor o ex-embaixador dos EUA no Brasil Melvin Levitsky, que serviu em Brasília em meados dos anos 90. A menos de dois anos do fim do seu mandato, com a popularidade no chão e sem maioria no Congresso, Bush tem pouco a oferecer em algumas áreas. Embora o acordo com o Brasil para a promoção de combustíveis alternativos seja visto como uma iniciativa importante, a falta de apoio no Congresso impede que Bush discuta um ponto essencial para o Brasil, as barreiras tarifárias que encarecem nos EUA a importação do etanol brasileiro. As amarras que impedem Bush de se mover com mais desenvoltura na região são mais evidentes na área comercial. Ele tem encontrado enormes dificuldades para convencer a oposição liderada pelo Partido Democrata no Congresso a aprovar os acordos que ele assinou no ano passado para abrir o mercado americano a produtos do Peru, da Colômbia e do Panamá. "Bush está fazendo um grande esforço para recuperar a influência dos EUA na América Latina, mas está com as mãos atadas neste momento e talvez não tenha tempo suficiente para fazer algo mais significativo", disse ao Valor o professor Riordan Roett, um especialista em assuntos da região que dá aulas na Universidade Johns Hopkins.



VALOR ECONÔMICO
SECRETÁRIO DE BUSH DIZ QUE BRASIL ERRA AO EXPORTAR ÁLCOOL Ricardo Balthazar
Um graduado diplomata americano afirmou ontem que o Brasil não tem condições de exportar etanol em grandes volumes sem prejudicar o abastecimento do mercado doméstico, numa resposta dura às pressões que o país tem feito para que sejam removidas as barreiras tarifárias que encarecem o álcool brasileiro nos Estados Unidos. "Pelo que os especialistas brasileiros nos dizem, o Brasil não será capaz de atender sua demanda interna", disse o secretário-assistente do Departamento de Estado dos EUA para a América Latina, Thomas Shannon. "Focar no mercado externo neste momento parece refletir um entendimento sobre o mercado brasileiro que está no passado, e não no presente ou no futuro." Os EUA cobram uma tarifa de 2,5% e uma taxa adicional equivalente a US$ 0,14 por litro nas importações de etanol. No ano passado, quando a demanda americana pelo produto explodiu e os preços subiram muito, o Brasil exportou grandes volumes do combustível para os EUA, apesar dessas barreiras. Mas esse desempenho não deve se repetir neste ano, porque a produção americana cresceu e os preços do álcool estão caindo. O Brasil vendeu no ano passado 1,7 bilhão de litros de etanol para os EUA, seis vezes o volume exportado no ano anterior e o equivalente a dois terços das importações americanas. Outros 500 mil litros foram vendidos para o mercado americano por países da América Central que têm acesso preferencial aos EUA e processam o etanol brasileiro.
As dificuldades que o Brasil poderá ter no futuro para ganhar dinheiro exportando etanol e ao mesmo tempo atender às necessidades do mercado doméstico são reconhecidas por empresários e especialistas do setor, mas esta é a primeira vez que um funcionário americano toca nessa questão numa tentativa de desqualificar as reivindicações brasileiras nesse campo. Shannon, que acompanhará o presidente George Bush em sua viagem pela América Latina a partir de hoje, repetiu ontem que não há como discutir agora as tarifas. "Esta é uma questão que depende do nosso Congresso e não está madura para qualquer tipo de resolução neste momento", afirmou. A taxa de US$ 0,14 acabou de ser renovada pelo Congresso e deve permanecer até o fim de 2008.
Eliminar essa barreira é difícil porque a indústria de etanol goza de crescente prestígio político nos EUA. Ela está se expandindo em Estados que terão papel-chave no processo de seleção dos candidatos que disputarão as eleições presidenciais de 2008. Além disso, o fim das tarifas permitiria que produtores estrangeiros fossem beneficiados por subsídios criados para estimular a indústria americana.
A taxa de US$ 0,14 foi criada em 1980 com o objetivo de compensar créditos tributários que as refinarias americanas recebem para misturar o álcool à gasolina. Os créditos incentivam as refinarias a comprar etanol e assim estimulam a produção doméstica do combustível. Se essa taxa não existisse, o álcool produzido em lugares com o Brasil se tornaria ainda mais competitivo e o benefício iria diretamente para as usinas estrangeiras. A principal associação que representa os interesses da indústria do etanol nos EUA também reagiu ontem contra as pressões do Brasil contra a tarifa. "Expandir o mercado para o etanol é um objetivo admirável", afirmou o presidente da Associação dos Combustíveis Renováveis, Bob Dinneen, num comunicado. "Mas nenhum esforço para encorajar a produção de etanol no hemisfério ou pelo mundo deveria exigir que os contribuintes americanos pagassem a conta."
Segundo Dinneen, "isso é exatamente o que o presidente Lula e o governo brasileiro estão querendo". Mencionando o bom desempenho das exportações brasileiras para os EUA no ano passado, ele disse que a tarifa não representa uma barreira à entrada do álcool brasileiro, "que usufruiu mais de 30 anos de apoio governamental desde a ditadura militar dos anos 70".
LULA E BUSH: UMA VERDADE CONVENIENTE
ANTONIO CABRERA
VALOR ECONÔMICO
Por Antonio Cabrera
"A grande lição econômica deste século é que o protecionismo asfixia o progresso e mercado livre cria prosperidade." - George Bush (pai) Se o documentário ambiental "Uma verdade inconveniente" foi agraciado com dois Oscar, o encontro dos presidentes Bush e Lula é uma incontestável oportunidade de negócios e uma colaboração Norte-Sul jamais vista em toda a nossa história. É o momento ímpar de enfrentar a quatro mãos a insegurança energética, combater a pobreza e reforçar a proteção ambiental. Se no passado afirmávamos que na América Latina o que a geografia uniu, a história desuniu, a nova geopolítica da agroenergia pode beneficiar inúmeros países e aproximar interesses até então conflitantes. Além do mais, reforça que a melhor arma para combater a pobreza é criar riquezas. Em 2005, o custo de importação do petróleo para as nações em desenvolvimento aumentou em 100 bilhões de dólares, representando muito mais do que toda a ajuda oferecida por todas as nações industrializadas. Já a questão do etanol e do biodiesel poderá proporcionar a qualquer país latino-americano a possibilidade de produzir o seu próprio combustível e reduzir tremendamente a distância entre os ricos e os pobres. Não temos atualmente nenhuma outra alternativa viável e de curto prazo como essa descortinada pelo álcool. É realmente como se a nossa "Alca se transformasse em Álcool".
De nossa parte temos consciência de que a América Latina perdeu não o bonde, mas o jato da história. Quando Hernán Cortes chegou ao planalto americano, encontrou uma cidade maior que Londres, mas não tivemos a compreensão no passado de que a humanidade não progrediria devido às novas ideologias, mas sim no desenvolvimento de novas tecnologias. Se, em 1968, no auge da febre estudantil, Nelson Rodrigues afirmava que "ser anti-americano é chique e dá mulher", hoje entendemos que o tempo é o maior crematório de ideologias. A cegueira ideológica é mais grave do que a biológica, pois uma não deixa ver, já a outra impede de pensar. Mas, aprendendo a ler o livro da História, hoje o Brasil pode oferecer mais de 40 anos de envolvimento, produção, distribuição, pesquisa e inovações tecnológicas com um "petróleo limpo e renovável". E não somente isso, pois enquanto a maioria dos países tornou terras férteis em inférteis e degradadas pelo uso intenso do homem, o Brasil caminhou na direção inversa ao recuperar áreas inóspitas como a do Cerrado para torná-las fonte de geração de riquezas, garantindo uma imensa e nova fronteira agrícola para uso na agroenergia sem atingirmos a Amazônia.
Do lado norte-americano, são incompreensíveis seus atos que permitem a livre circulação de um petróleo sujo ambientalmente, produzido em regiões instáveis e geograficamente concentrado, enquanto inibe e impõe tarifas elevadas sobre um combustível limpo, renovável, socialmente includente e de ampla geração de riquezas em todo o nosso continente. Se o foco realmente for o consumidor, o presidente Bush poderá estar dando a arrancada para nos prepararmos para um mundo sem petróleo, mais justo e equilibrado. Será que teremos um "amigo nos EUA" com essa injustificável tarifa de 0,54 dólares por galão de álcool brasileiro que adentra o mercado norte-americano? Como o Brasil exportou para lá em 2006 1,7 bilhões de litros, o tesouro americano abocanhou com essa taxa 250 milhões de dólares, que deixaram de circular no interior brasileiro. É o momento de mudarmos o antigo ditado americano de não "seguirmos o dinheiro", mas seguirmos os novos rumos da energia renovável, pois a riqueza de uma nação não pode existir como fruto da pobreza de outras nações. Os desafios deste século são imensos, mas sabemos que a humanidade tem conseguido superar obstáculos, antes inimagináveis, com o uso do conhecimento. A economia chegou a ser chamada de "ciência sinistra" na crise de energia do século 19, por ocasião da diminuição da oferta de baleias e o conseqüente aumento no custo da iluminação. Semelhantemente, os últimos relatórios ambientais causam espanto e perplexidade, mas ao mesmo tempo criam um patriotismo planetário nunca antes exercitado. O mundo detesta mudanças ou alterações de rota, mas é a única coisa que traz progresso e esperança. A somatória dos esforços brasileiros e americanos pode liderar a mudança da matriz energética em escala mundial. E não apenas no biocombustível em si, mas nas aplicações dessa biomassa em outros setores, como o alcoolquímico: enquanto o plástico de álcool se decompõe rapidamente no meio ambiente, sem causar impacto negativo e apenas em 6 meses, o plástico de petróleo precisa de longos 100 anos. Ou será futurista demais imaginar que não teremos mais carros movidos a gasolina nos próximos 30 anos?
Esse é o desafio. Quem sabe não seja a semente pelos EUA de um novo Plano Marshall Ecológico? Afinal, um antecessor de Bush, o presidente F. Roosevelt, afirmou que "na América as nações já conheceram as alegrias da independência; têm agora que aceitar as responsabilidades da interdependência". Antonio Cabrera foi ministro da Agricultura e Reforma Agrária (Collor) e secretário da Agricultura do Estado de São Paulo (Covas).
CARLOS CHAGAS
Goela sem limites

Bush chega hoje, amanhã recebe Lula, num hotel ainda sem endereço, em São Paulo. Não significa diminuição alguma nosso presidente precisar deslocar-se da capital federal para ser recebido por um presidente estrangeiro que deveria ter vindo a Brasília. Não sabemos como George W. Bush reagiria se Lula da Silva resolvesse visitar os Estados Unidos plantando-se em Seatle ou Atlanta e lá esperando o chefe do governo americano, mas tanto faz.

De concreto, apesar de promessas assistencialistas de empréstimos para educação e habitação, o visitante trará um sonoro não, quando Lula pleitear a redução das tarifas aduaneiras que os EUA levantam diante da exportação do etanol brasileiro. Essa supressão tarifária vai acabar acontecendo, mas só quando os americanos terminarem de comprar as usinas brasileiras produtoras de álcool, operação já adiantada, mesmo acontecendo sem alarde.

Que o futuro da energia no mundo está na biomassa, Washington está careca de saber, tanto pela extinção do petróleo, que tornará os preços sempre maiores, quanto pela lambança que andam fazendo no Oriente Médio. O problema é que, como no caso do petróleo, o governo Bush quer continuar no controle de tudo. Como o Brasil ocupa a pole-position em energia renovável e não poluente, porque dispomos de terra, sol e água em profusão, é bom tomar cuidado. Não que o Iraque se transfira para cá, mas porque a goela deles não tem limites.


LULA VAI ELOGIAR 'ALIANÇA REAL' PROPOSTA NA VISITA
ESTADÃO
DENISE CHRISPIM MARIN E TÂNIA MONTEIRO
Presidente brasileiro deverá arcar com desgate junto a Chávez mesmo que evite conversa sobre Venezuela
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai aproveitar seu discurso, no encontro com o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, para destacar que o tema etanol propiciou que, pela primeira vez, um chefe de Estado norte-americano chegasse ao Brasil propondo “uma aliança real”, “uma verdadeira parceria” entre os dois países. Lula vai destacar ainda que Brasil e Estados Unidos têm o que construir juntos.
Por outro lado, a visita de Bush deverá levar Lula a posição de destaque nos conflitos entre os Estados Unidos e a Venezuela do presidente Hugo Chávez. Bush desembarca na noite de hoje em São Paulo na condição de líder que tenta romper seu isolamento no plano internacional e conter a expansão da revolução bolivariana de Chávez por meio de acenos de “generosidade” à América Latina - região que vinha relegando nos últimos seis anos.
A Casa Branca soube valer-se da assinatura de um acordo bilateral de cooperação na área de biocombustíveis e dos investimentos que seguirão ao Brasil como moeda de troca nas suas pretensões na América Latina.Este terceiro encontro formal entre Bush e Lula será marcado, portanto, por uma pragmática barganha.
O Palácio do Planalto alimenta a expectativa de ver as corporações americanas despejarem bilhões de dólares em investimentos na tecnologia e na produção de etanol de celulose no Brasil, nos próximos anos, bem como em obras de infra-estrutura e do setor energético listadas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Também se aproveita da passagem de Bush para refutar a existência de um viés antiamericano no governo Lula e para lançar uma nova fase de relações “renovadas” e “íntimas” entre Brasil e Estados Unidos, como defendeu o chanceler Celso Amorim.
Assessores do presidente Lula indicaram ontem que essas chances não serão perdidas. Mas ressaltaram que não há interesse nenhum de ver a Venezuela incluída na conversa entre Lula e Bush, amanhã. A inclusão desse tema, completaram, seria constrangedora para o Brasil e limitaria a capacidade de o País atuar como força estabilizadora da América do Sul. Até o momento, a receita de Lula para tourear Chávez envolvia paciência, sugestões cautelosas e raras broncas. Mesmo que essa fórmula seja preservada, dificilmente Chávez verá Lula da mesma forma depois da passagem de Bush pelo Brasil e a visita do presidente brasileiro a Camp David, em 31 de março.
DE OCASIÃO
O documento que Lula e Bush assinam amanhã abrirá formalmente o leque jurídico para a parceria no desenvolvimento da tecnologia do etanol de celulose e para a ação conjunta em potenciais mercados produtores na América Latina. O estágio embrionário dessa parceria, entretanto, vai requerer de Lula e sua delegação certa cautela ao tratar da necessária abertura do mercado americano de etanol, para evitar o aborto do projeto por Washington. Hoje, o galão (equivalente a 3,785 litros) importado do Brasil é taxado em US$ 0,54.
A idéia de um acordo de cooperação na área biocombustíveis dormia em uma gaveta de Washington desde 2001, até ser resgata recentemente pela Casa Branca para a oportuna passagem de Bush por São Paulo - a primeira parada de um roteiro que se estenderá pelo Uruguai, Colômbia, Guatemala e México. A proposta não só agrada ao governo Lula, mas responde também ao desafio de Bush de reduzir a dependência americana do petróleo e aos clamores do eleitorado americano na área ambiental.

NÃO É BUSH QUE CONTERÁ CHÁVEZ
JORGE G. CASTAÑEDA
O GLOBO
CIDADE DO MÉXICO. Bush tem mini-planos para cada parada deste seu giro pela América Latina: etanol e rodada de Doha no Brasil; acordos comerciais no Uruguai; Plano Colômbia e combate a drogas em Bogotá; imigração e segurança em México e Guatemala. Mas há uma agenda mais ampla que foi percebida tardiamente pelos EUA e, na verdade, pode avançar muito pouco: a contenção de Hugo Chávez.
O balanço de forças na América Latina mudou. A inclinação à esquerda persistiu, a influência de Chávez aumentou. Aqui, ele encontrou espaço e usou impressionantes ferramentas para seduzir a região. Graças a retóricas anti-EUA, lucros ilimitados com a venda de petróleo (por enquanto), um fluxo sem fim de médicos, educadores e especialistas em segurança cubanos - e, em breve, armas russas em abundância -, o novo caudilho do Caribe está fazendo a festa. Chávez foi habilidoso ao explorar o desapontamento da região, que quase não cresceu economicamente nas últimas duas décadas. Ele fornece o que está faltando a muitos países: petróleo a baixos custos, alimentos, saúde.
Chávez foi estendendo seu alcance: na Bolívia, é idolatrado por Evo Morales; na Argentina, seu colega populista Néstor Kirchner deixou-o preparar uma grande manifestação anti-Bush; Equador, Nicarágua. Guatemala e Paraguai podem ser os próximos.
Enquanto as medidas econômicas de Chávez só dizem respeito à população venezuelana - se ele quiser destruir a economia o problema é dele e de seu povo - quando o presidente busca aumentar sua concentração de poder na Venezuela ou em qualquer outro lugar o problema vira de todo o mundo. É hora de as pessoas acordarem para isso.
O problema é que George W. Bush é a pior pessoa do mundo para tentar contê-lo. Bush é extremamente impopular aqui. Muita gente aposta que, se ele defender a democracia na América Latina - como ele faz no caso do Iraque - somente Deus poderá ajudar os democratas latinos.
A boa notícia é de que há alguém capaz de fazer o trabalho, se receber apoio político e suporte financeiro: o presidente do México, Felipe Calderón. Defensor de direitos humanos e democracia, assim como entendedor de políticas macroeconômicas e das necessidade de programas eficazes de combate à pobreza, ele é capaz de travar uma queda de braço com Chávez e os irmãos Castro. Ele é mais apto do que os demais líderes da região.
A esquerda brasileira, por exemplo, não deixaria o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidar com Chávez, mesmo se ele quisesse. No Chile, exemplo esplêndido de como políticas sociais e de esquerda podem ser bem sucedidas, Michele Bachelet já provou não querer lidar com o problema. Calderón tem um problema. Partidos mexicanos alinhados a Fidel, Chávez e Kirchner protagonizaram sua conturbada recente eleição (declarando-a ilegal). O presidente, por isso, está relutante em enfrentar adversários, se Bush não lhe der respaldo. Mas, se o apoio vier, com um comprometimento sério em relação a reformas na política de imigração, por exemplo, Calderón adoraria promover debates de idéias para conter a onda populista na América Latina. Idéias são melhores do que possíveis tentativas de Washington de resolver a questão na marra.
JORGE G. CASTAÑEDA é escritor e ex-chanceler do México, e escreveu este artigo para o "Washington Post"

Lula e Bush assinarão memorando de cooperação em biocombustível Wellton Máximo Repórter da Agência Brasil

Brasília - O Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) confirmou hoje (8) que o encontro que o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, terá amanhã (9) em São Paulo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva resultará na assinatura de um memorando de entendimento entre os dois países para intensificar a cooperação no desenvolvimento de biocombustíveis.
O Itamaraty não informou se o presidente Lula abordará a sobretaxa de US$ 0,54 cobrada pelos Estados Unidos por galão de etanol adquirido do Brasil. Para o governo brasileiro, a taxa desestimula a competitividade entre o combustível brasileiro (feito da cana-de-açúcar) e o etanol americano, produzido a partir do milho. Um galão equivale a pouco mais de 3 litros.
O comércio exterior será outro assunto abordado no encontro entre os chefes de Estado. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, os presidentes discutirão o andamento das negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). O G 20, grupo de países em desenvolvimento liderado pelo Brasil, cobra das nações desenvolvidas a redução dos subsídios a produtores agrícolas para que os países em desenvolvimento possam exportar mais.
De acordo com o comunicado, Lula e Bush conversarão sobre a reforma das Nações Unidas. O Brasil quer ser incluído como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. O andamento dos grupos de trabalho criados durante a visita de Lula aos Estados Unidos, em 2003, e de Bush ao Brasil, em 2005, também será abordado no encontro.
No plano regional, conforme o Ministério das Relações Exteriores, Lula e Bush vão discutir medidas para aumentar as ações de ajuda ao Haiti em áreas como educação, saúde e saneamento.
O encontro entre os dois presidentes ocorrerá às 12h45 no Hotel Hilton Morumbi, em São Paulo. Após a conversa, Lula e Bush devem dar declaração à imprensa. Depois de visitar o Brasil, Bush segue para Uruguai, Colômbia, Guatemala e México.
O Itamaraty também divulgou a programação da visita do presidente George W. Bush ao Brasil. Confira:
Hoje (8)
20h – Chegada do presidente George W. Bush ao Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (SP)
Amanhã (9)
8h – Café da manhã oferecido pelo chanceler Celso Amorim à secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, no World Trade Center Hotel, em São Paulo10h30 – Visita de Bush ao terminal da Transpetro em Guarulhos (SP), com declaração à imprensa
12h45 – Encontro de George W. Bush com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Hotel Hilton Morumbi
14h30 – Declaração à imprensa no Hilton Morumbi
Partida de Bush do Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (SP), horário não-divulgado

LULA CONTRA O TERROR
CORREIO BRAZILIENSE
Claudio Dantas Sequeira
Governo cria lei para combater o terrorismo, e deverá usá-la como trunfo em negociação comercial com Bush
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem uma carta na manga para as negociações com George W. Bush. Quando os dois mandatários discutirem amanhã, em São Paulo, a inédita parceria comercial, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) estará reunido em Brasília para chancelar o anteprojeto da primeira lei do Brasil contra o terrorismo e seu financiamento. O documento, obtido com exclusividade pelo Correio, traduz a disposição do governo Lula em se tornar parceiro dos norte-americanos na guerra contra o terror — cruzada mundial lançada pelos EUA há quase seis anos, depois dos atentados de 11 de setembro.
Em discurso de posse no Palácio do Planalto no dia 1º de janeiro, o presidente foi enfático ao classificar como “terrorismo” a onda de atentados deflagrada pelo Comando Vermelho (CV) no Rio. A seus assessores, pediu pressa numa instrumentalização jurídica capaz de combater novos atos, prevenindo e aplicando punições específicas que não as previstas para crimes comuns. De fato, o tema vinha amadurecendo no gabinete de crise desde o primeiro mandato de Lula, muito em razão da pressão internacional.
Não à toa, a lei brasileira está baseada em 14 convenções internacionais, todas já internalizadas no escopo legal. Há normas criadas na década de 1970 sobre “repressão de atos ilícitos contra a segurança da aviação civil”, e outras recentes, como a famosa resolução 1.373, adotada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) duas semanas após os atentados contra as Torres Gêmeas e o Pentágono. Na América do Sul, são poucos os países com legislações específicas sobre terrorismo. A mais dura é a da Colômbia, que em 2003 aprovou um estatuto de normas que permitem a prisão e interceptação de comunicações sem ordem judicial. Estão na lista dos colombianos tanto a guerrilha como os paramilitares.
O Peru dispõe de um tribunal antiterror, comandado pelo juiz Pablo Talavera Elguera, responsável pelo processo contra a cúpula da guerrilha maoísta Sendero Luminoso. México e Chile têm buscado endurecer sua legislação, e o presidente argentino, Néstor Kirchner, tentou, sem sucesso, impulsionar um projeto de lei no início de seu mandato. Vale ressaltar que a lei brasileira não prescreve poderes especiais para prevenção ou investigação de suspeitos — objetos de outro projeto que, como o Correio já revelou, trata da criação de uma estrutura de combate ao terrorismo no Brasil.
Tipificação Houve um esforço para que o projeto considerasse a realidade nacional, evitando a simples importação de modelos de países vítimas do terror, como EUA, Reino Unido e Espanha. Nesse sentido, o terrorismo no Brasil é tipificado segundo sua finalidade — como diz o artigo 1º — qual seja “infundir estado de pânico ou insegurança na sociedade, intimidar Estado, organização internacional ou pessoa jurídica, nacional ou estrangeira, ou coagi-los a ação ou omissão”. O anteprojeto de lei, em seus 11 capítulos, rejeita classificar o terrorismo por suas motivações, sejam elas religiosas ou políticas. No entanto, abrange um amplo leque de ações violentas, sejam praticadas pelo crime organizado ou por movimentos sociais.
A aplicação da lei ficará a critério da interpretação do juiz. O risco latente de qualquer cidadão comum ser enquadrado tem claro objetivo de coibir radicalismos. Para efeitos ilustrativos, seriam passíveis de enquadramento fatos violentos como: a invasão do Congresso Nacional pelo MLST, a destruição do horto florestal da Aracruz Celulose pela Via Campesina, os incêndios de ônibus no Rio e em São Paulo pelo crime organizado — Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV) —, a invasão da sede do Incra em Maceió pelo MST e a destruição do guichê da TAM por passageiros indignados na crise do “apagão aéreo”. Também o seqüestro do ônibus 174 no Rio, em 2000, e até manifestações de apoio ao terrorista islâmico Osama Bin Laden, na visita de Bush a Brasília em 2005.
Tríplice fronteira Os redatores da lei asseguram que não há motivo para que grupos sociais se sintam perseguidos. O recado também vale para as comunidades árabes de Foz do Iguaçu, acusadas pelos EUA de financiar grupos radicais como os libaneses do Hezbollah e os palestinos do Hamas. O governo brasileiro compreende a atividade política desses movimentos e resiste a classificá-los como terroristas, como quer o Departamento de Estado. E não haverá listas de terroristas, pelo menos enquanto o Brasil não for vítima de um atentado.
A questão da Tríplice Fronteira é delicada. E o capítulo dedicado ao financiamento do terror foi o embrião da nova lei, esboçada entre os membros do comitê executivo da Enccla (Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro), do Ministério da Justiça. O crime só será tipificado na nova lei se provada a relação direta ou indireta com a prática terrorista, seja por parte de uma “pessoa, grupo de pessoas, associação, entidade, organização, quadrilha ou bando”.
A lei antiterror também valerá para crimes de terrorismo cometidos no exterior, “quando a vítima ou o agente for brasileiro ou, sendo de outra nacionalidade ou apátrida, tenha residência habitual ou ingresse em território nacional”. As penas variam segundo o tipo de terrorismo e prevêem pagamento de multa na maioria dos casos e detenção de cinco até 30 anos (leia o quadro nesta página). No início da semana, o anteprojeto será enviado para o Ministério da Justiça, e em seguida à Casa Civil, que o encaminhará para votação do Congresso Nacional.
PUNIÇÕES PREVISTAS
A Lei contra o Terrorismo e seu Financiamento é uma evolução da já caduca Lei de Segurança Nacional. Em seus 11 capítulos, prevê reclusão e multa de acordo com o tipo de crime. Há agravantes de pena no caso de agressão contra pessoal ou alvos militares
Atentado a bomba — de 5 a 10 anos, e multa
Atentados nuclear ou radioativo — 6 a 30 anos, e multa
Bioterrorismo — 8 a 30 anos, e multa
Terrorismo químico — 8 a 30 anos, e multa
Crimes contra pessoa e patrimônio — 5 a 20 anos, e multa
Crimes contra pessoas internacionalmente protegidas (chefes de Estado, diplomatas e funcionários internacionais) — 5 a 10 anos, e multa
Financiamento ao terrorismo — de 8 a 20 anos, e multa
Crimes contra a segurança de aeronaves, embarcações e veículos de transporte coletivo — 5 a 12 anos, e multa
Crimes contra a segurança de portos, aeroportos e estações de transporte coletivo — 5 a 12 anos, e multa
Crimes contra a segurança de plataformas fixas (exploração de petróleo e gás) — de 5 a 12 anos, e multa
Colaboração com o terrorismo — de 5 a 8 anos, e multa
Apologia ao terrorismo — de 5 a 8 anos, e multa

LULA REPUDIA ACUSAÇÕES DOS EUA
TINA VIEIRA E VALDEREZ CAETANO
JORNAL DO BRASIL

Visita de Bush - Governo brasileiro classifica como "inaceitáveis" as críticas feitas ao país pelo Departamento de Estado norte-americano
Por ordem expressa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Ministério da Relações Exteriores emitiu, ontem, uma nota em que repudia as críticas feitas ao país pelo Departamento de Estado norte-americano, no relatório divulgado terça-feira sobre violações aos Direitos Humanos. Lula determinou ao ministro Celso Amorim a divulgação de uma resposta dura às acusações. A nota é curta e direta. Diz que "o governo brasileiro não reconhece a legitimidade de relatórios elaborados unilateralmente por países, segundo critérios domésticos, muitas vezes de inspiração política".
- Atitudes e avaliações unilaterais sobre tais temas são inaceitáveis, pois contrariam os princípios da universalidade e da não-seletividade dos direitos humanos - diz o documento.
Ainda segundo a nota, o Brasil está aberto ao diálogo com todos os organismos internacionais e regionais de direitos humanos. O texto afirma que, no Conselho de Direitos Humanos, o Brasil tem defendido práticas de monitoramento imparcial, como o Relatório Global pelo Alto Comissariado das Nações Unidas. Por fim, registra que o país mantém convite permanente a todos os Relatores Especiais de direitos humanos da ONU, a quem garante amplo acesso a entrevistas e informações.
- O Brasil encoraja todos os países, inclusive os EUA, a adotarem a mesma postura - conclui o documento.
A manifestação do governo brasileiro ocorreu um dia depois da divulgação do relatório e na véspera da chegada do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, ao Brasil. O documento elaborado pelo Departamento de Estado norte-americano acusa integrantes das forças de segurança brasileiras de praticarem abusos.
O governador de São Paulo, José Serra, também veio a público para criticar o relatório do Departamento de Estado, que ataca a polícia do Estado. Serra questionou se o relatório é justo e sugeriu que os Estados Unidos deveriam divulgar o que acontece na base militar norte-americana em Guantánamo.
- Eu gostaria de ver o relatório do Departamento de Estado sobre Guantánamo. Você não acha justo? Só para a gente poder olhar - disse Serra, que amanhã participará de um almoço com o presidente Bush.
A presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Ellen Gracie, recusou-se a comentar o relatório do Departamento de Estado dos EUA, embora o documento critique a lentidão da Justiça brasileira.

CHEGADA DE BUSH VAI PARAR SP
FLÁVIO FREIRE E LUIZ KAWAGUTI*
GLOBO
Quatro mil agentes de segurança estarão nas ruas, e avenidas serão fechadas
Assim que desembarcar no Brasil, no fim da tarde de hoje, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, mobilizará um exército de mais de quatro mil homens em torno de sua segurança, o que deverá parar São Paulo. Policiais, fuzileiros, atiradores de elite, agentes do FBI e soldados brasileiros serão responsáveis por monitorar todos os passos que ele der durante as quase 24 horas que permanecerá no Brasil. Para evitar transtorno, o espaço aéreo de São Paulo será interditado toda vez que o presidente americano se locomover num de seus helicópteros. A pedido do governo americano, a Infraero alterou a rota dos aviões, para que nenhuma aeronave sobrevoe locais onde Bush estiver até o fim da tarde de amanhã, quando seguirá para o Uruguai.
A visita de Bush é cercada de atenção por causa dos protestos que ele deve enfrentar e do medo de eventuais ataques terroristas. Comandado pelo FBI, o esquema de segurança vem fazendo varredura pelos locais onde Bush passará há cerca de dois meses. Além dos quatro mil homens, outros 800 estão de prontidão.
Limusine blindada até o hotel em SP
Para coordenar o esquema foi montado o Comando de Operações de Segurança Integrada (Cosi), órgão do Exército responsável por comandar as ações de Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal, Guarda Civil Metropolitana, Corpo de Bombeiros e Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). O responsável pelas operações será o general-de-divisão João Carlos Vilela Morgero, ex-comandante do Exército na missão de paz no Haiti e atual comandante da 2ª Divisão de Exército.
Ao chegar, Bush seguirá numa limusine blindada do Aeroporto Internacional de São Paulo para o Hotel Hilton, onde ficará hospedado, no Brooklin. Cerca de mil homens, entre policiais civis, militares e federais, além de agentes do FBI e soldados do Exército, acompanharão o percurso, que será feito por uma pista especialmente interditada das marginais Tietê e Pinheiros. Dois helicópteros do Exército acompanharão o cortejo, assim como 60 carros com seguranças americanos. Atiradores de elite estarão espalhados em prédios pelo caminho. No total, 1.200 fuzileiros também estarão concentrados em 35 pontos da cidade, com armamento pesado.
Embora tenham reservado três hotéis, numa estratégia para despistar eventuais ações de terroristas, o mais provável é que Bush e a sua mulher, Laura, ocupem mesmo a suíte presidencial do hotel Hilton, totalmente fechado para a comitiva presidencial americana. Nos últimos dias, agentes secretos à paisana fizeram incursões por ruas de uma favela ao lado do hotel.
A agenda de compromissos de George W. Bush começa amanhã cedo. Ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bush conhecerá a unidade da Transpetro, em Guarulhos, onde darão início às negociações sobre a importação do etanol brasileiro. O calcanhar de Aquiles está na tarifa de US$0,58 por galão, imposta pelos Estados Unidos. O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), que participa do evento, disse que, se tiver oportunidade, pedirá ao presidente americano o fim da tarifa.
De Guarulhos, Bush e Lula voltam para São Paulo de helicóptero. O governo americano trouxe dois aparelhos, assim como todo o combustível que será usado pela comitiva americana. Num almoço reservado no Hotel Hilton, os presidentes dos Estados Unidos e do Brasil retomarão as conversas sobre etanol brasileiro. Também estarão na pauta tratados diplomáticos entre os dois países.
Trabalhadores da área revistados
Enquanto Bush estiver no Brasil, funcionários de empresas da região serão revistados ao entrar no com plexo onde está instalado o hotel. Nenhum carro poderá ser estacionado nas ruas das imediações, que terão o trânsito permitido só à comitiva americana. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), porém, não informa quais ruas serão interditadas.
A previsão é que Bush falará à imprensa uma única vez, em entrevista no salão principal do hotel, por volta das 14h30m. Em agenda paralela, a primeira-dama Laura Bush, acompanhada de Marisa Letícia, mulher de Lula, visitará as ONGs Aprendiz e Alfasol. A primeira oferece cursos profissionalizantes a cerca de 200 jovens entre 14 e 20 anos de idade. Já a Alfasol faz parte do programa Alfabetização Solidária.
Também reforçando o caráter social, Bush, antes de embarcar para o Uruguai, visitará as instalações da Meninos do Morumbi, uma ONG que cuida de três mil crianças da Favela Paraisópolis.
Policiais do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) da Polícia Civil fizeram varredura no prédio da ONG nos últimos dias. Lá, Bush conhecerá o trabalho desenvolvido com as crianças e assistirá à apresentação de um coral. Todas as crianças que participarão do evento passarão por uma revista pessoal, além de detectores de metal e material explosivo.
Do Morumbi, o presidente George W. Bush deve seguir direto para o aeroporto internacional de Guarulhos, de onde segue para o Uruguai no fim da tarde.


'É O COMEÇO DE UM NOVO DIÁLOGO. INTERESSA AOS DOIS'
MARÍLIA MARTINS
GLOBO
Para economista, Brasil "está confortável"
Fishlow se diz "cautelosamente otimista" com viagem
O economista Albert Fishlow, diretor do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Columbia, está cautelosamente otimista. Ele considera que a visita de George W. Bush ao Brasil pode significar o início de novas relações entre os dois países, mas acha que os brasileiros não devem esperar demais de um presidente sem maioria no Congresso americano. "Não vai haver grandes fluxos de dinheiro dos EUA para a América Latina ou para o Brasil. Nem os brasileiros deveriam esperar por isto. O que vai reduzir a pobreza é a adoção de uma política mais eficaz por parte do governo brasileiro", diz Fishlow.
O que se pode esperar da visita do presidente Bush?
ALBERT FISHLOW: A viagem representa a tentativa do governo Bush de estabelecer novas relações com seus aliados na América Latina, e foi provocada pelo crescente antiamericanismo no continente. É a tentativa de neutralizar esse sentimento e de criar uma oposição ao discurso populista de Hugo Chávez. O Brasil não tem uma política antiamericana, mas tampouco tem política a favor dos EUA. Por isso, está confortável para receber as propostas de Bush e analisá-las segundo seus interesses. Pode ser o início de novas relações diplomáticas e comerciais entre os dois países.
O presidente Bush pode oferecer vantagens comerciais?
FISHLOW: Ele não tem condições de oferecer a eliminação da tarifa alfandegária sobre o etanol brasileiro. O Congresso não aprovaria isso. É preciso que os produtores brasileiros entendam: os produtores americanos produzem etanol a partir do milho e este processo de produção industrial é mais caro que o da cana-de-açúcar. A sobretaxa é a forma de proteger os lucros dos produtores americanos. O que Bush tem a oferecer é ajuda para a pesquisa tecnológica e para a produção, no Brasil e em países da América Central. Isso pode dar uma nova escala de produção para o etanol brasileiro e sinalizar num futuro breve uma redução da dependência do petróleo no continente.
Os centros de produção de etanol em países da América Central, que poderiam exportar para os EUA sem pagar sobretaxa, seriam uma saída para um acordo comercial mais favorável ao Brasil?
FISHLOW: O etanol brasileiro já entra no mercado americano via El Salvador. Mas a escala da importação será discutida, porque os produtores americanos não podem sair prejudicados desses acordos. A ajuda americana é mínima diante do que a América Latina precisa. Não se deve esperar solução mágica de Bush. Ele não terá muito a oferecer.
E a ajuda aos pobres da América Latina?
FISHLOW: Não vai haver grandes fluxos de dinheiro dos EUA para a América Latina ou para o Brasil. Nem os brasileiros deveriam esperar por isto. O que vai reduzir a pobreza é a adoção de uma política mais eficaz por parte do governo brasileiro de aumentar os investimentos, reduzir os juros, investir em educação, aumentar a poupança doméstica. Isso sim ajudaria muitíssimo a reduzir a pobreza e a miséria, porque permitiriam uma maior crescimento.
Mas a pobreza no Brasil vem sendo reduzida.
FISHLOW: Sim. A política do Bolsa Família foi importantíssima para esse resultado e permitiu que Lula fosse reeleito. Mas não basta. É preciso investir em educação, e sobretudo na qualidade dessa educação. É preciso fazer o país crescer. Esse é o grande desafio atual. .
Pode haver acordo comercial em outros itens?
FISHLOW: A idéia de um acordo bilateral entre EUA e Brasil é muito antiga. Mas duvido que uma abertura maior do mercado americano esteja na mesa de negociações. E não interessa no momento ao Brasil porque o obrigaria a rever sua política favorável ao Mercosul.
E por que o senhor se considera um otimista?
FISHLOW: Lula visitará os EUA em março, e novas rodadas de negociação estão por vir. É o começo de um novo diálogo. Interessa aos EUA e ao Brasil que haja um novo líder na América Latina, e que o Brasil ocupe esse lugar de liderança.
O ESTADO DE SÃO PAULO
AMERICANO TEM IMAGEM RUIM NA REGIÃO CARLOS MARCHI
Segundo estudo, Bush tenta pegar carona na popularidade de Lula A aproximação entre Brasil e EUA se dá num momento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o líder nacional que tem melhor imagem nos países latino-americanos, enquanto o presidente George W. Bush detém a pior, afirma estudo do instituto Ipsos Public Affairs a que o Estado teve acesso. O Ipsos conclui que Bush está “tomando emprestada” a popularidade de Lula para marcar a sua presença no continente.O estudo revela que Lula tem 55% de aprovação no Brasil, enquanto Bush tem 32% nos EUA. Mas Lula tem um saldo (imagem positiva menos imagem negativa) de 36 pontos porcentuais no Brasil, 39 na Bolívia e 37 no Peru, enquanto Bush tem saldo negativo de 43 na Bolívia, 55 no Brasil e 3 no Peru. COINCIDÊNCIASA aproximação política dos dois países conjuga interesses de ambos, afirma o estudo: o Brasil tem interesse em gerar empregos com a exportação de etanol e os EUA querem reduzir o papel estratégico do petróleo árabe, o que ajudaria a diminuir a ação do terrorismo.
Em outros países latino-americanos, Lula tem uma imagem bem melhor que a do presidente Hugo Chávez, da Venezuela, que tanto se esforça para liderar a região. Chávez tem um saldo de 18 pontos positivos na Bolívia (que tem ajudado com muitos recursos), mas saldos negativos de 21 pontos no Brasil e 51 pontos no Peru.
O boliviano Evo Morales tem um saldo positivo de 64 pontos em seu país, mas ostenta 12 pontos negativos no Brasil e 21 pontos negativos no Peru. No Brasil, Chávez tem imagem negativa para 36% e positiva para 15%; Evo tem imagem positiva para 37% e imagem negativa para 25%; e Bush, imagem negativa para 71% e positiva para apenas 16%.
Os brasileiros torcem o nariz para os EUA: a imagem daquele país é muito negativa para 21%, um pouco negativa para 23%, um pouco positiva para 32% e muito positiva para 9%. Apesar de classificarem Evo Morales por uma ótica positiva, os brasileiros são maciçamente contrários à nacionalização das refinarias da Petrobrás na Bolívia: 55% desaprovam o ato do presidente boliviano e 22% o aprovam. Alheios a um grave problema mundial, 40% dos brasileiros disseram nunca ter ouvido falar de aquecimento global.O estudo mostra que, a despeito das coincidências que unem Brasil e EUA, as realidades dos dois países são bem diversas. As principais preocupações do eleitor brasileiro são falta de emprego (59%), violência urbana (45%), baixos salários (30%), assistência médica (29%) e tráfico de drogas (27%); as maiores preocupações do eleitor americano são terrorismo (80%), educação (69%), custo da saúde (68%), economia (68%) e previdência (64%).

FOLHA DE SÃO PAULO
SUBSÍDIOS DOS EUA SÃO "NEFASTOS", DIZ LULA
Presidente deu a declaração em Brasília, um dia antes de se encontrar com o presidente George W. Bush em São Paulo
Petista disse esperar um acordo com o presidente norte-americano para que os países pobres tenham chance de se desenvolver
Pedro Dias Leite, Eduardo Scolese e Cláudia Dianni
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No dia da chegada de George W. Bush ao Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em Brasília, que os subsídios dos EUA para a agricultura são "nefastos" para o livre comércio. Ele se encontra com o presidente norte-americano hoje, em São Paulo.
Lula afirmou que conversará com Bush sobre o tema e que espera chegar a um acordo para que "nas próximas três a quatro semanas possamos anunciar ao mundo que finalmente os países mais pobres terão uma chance de se desenvolver".
O presidente deixou claro que entende as pressões internas de Bush, ao cobrar uma igualdade na concorrência. "O que nós queremos é que os EUA possam diminuir os subsídios, tão importantes para os agricultores americanos, mas tão nefastos para o livre comércio que tanto apregoamos", disse o brasileiro, de improviso, ao final de encontro com o presidente alemão, Horst Köhler, no Palácio do Planalto.
A declaração revela mais um ponto de discórdia entre os governos do Brasil e dos EUA, que, nesta semana, mostraram ter visões políticas e comerciais distintas. Se for seguido o roteiro das chancelarias dos dois presidentes, será uma conversa de surdo-mudo, com Bush querendo discutir o venezuelano Hugo Chávez, o que o petista resiste a fazer, e Lula pedindo o fim da barreira ao álcool combustível, o que Bush já disse que não acontecerá.O assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, reforçou o discurso improvisado do presidente ao afirmar ontem que, se os EUA querem ajudar a América Latina, deveriam cortar subsídios agrícolas.
"Estamos interessados em um processo de interação econômica em torno de temas concretos e, se os Estados Unidos querem nos ajudar, uma das formas importantes é eliminar os subsídios agrícolas que hoje em dia constituem um verdadeira muralha de proteção à economia norte americana."Mais tarde, no Itamaraty, Lula disse estar "confiante" em relação à possibilidade de, no encontro de hoje com Bush, conseguir alguma sinalização sobre eventual redução ou o fim da taxação ao álcool brasileiro.Segundo Garcia, o propósito da visita de Bush não é pedir intermediação na relação dos EUA com a Venezuela. "Não acredito que o presidente Bush faça esse pedido. O Brasil sempre esteve disposto a participar de qualquer processo que facilite as relações, mas não acho que seja o caso. Acho que esse problema pode ser perfeitamente ser resolvido no âmbito das relações bilaterais".DohaNo encontro com Köhler, Lula pediu ajuda para destravar a Rodada Doha de liberalização do comércio mundial, paralisada em julho por desentendimentos entre os EUA e a União Européia sobre o alcance da redução dos subsídios agrícolas.
De acordo com Garcia, Lula fez um apelo ao alemão para que montadoras alemãs continuem o processo de ajuste dos motores ao álcool.

DESTAQUES DA MIDIA DE HOJE, SEXTA FEIRA

REPERCUSSÃO NA MÍDIA
NEW YORK TIMES
Com ironia, o jornal deu o título “Obrigado, sr. Chávez”, agradecendo ao presidente venezuelano por haver forçado o presidente George W. Bush a elaborar “uma política mais progressista” para a América Latina. A Venezuela não está no roteiro, “mas o fascínio de Chávez vai, sim, estar na mente de Bush enquanto ele viajar”. E o Times avisa : “Se é necessário que a demagogia de Chávez force Washington a uma política mais progressista na região, que assim seja”.
THE NEW YORK TIMES
O site do jornal The New York Times destacava ontem a tentativa do presidente George W. Bush de resgatar a credibilidade do seu governo na região: “Bush tenta fazer amigos na hostil América Latina.” Segundo a reportagem, o governo americano é “profundamente impopular” na região e o Brasil poderia atuar como um contrapeso à influência do presidente venezuelano, Hugo Chávez.
O texto acrescenta que a Guerra do Iraque e a falta de investimentos na região levariam milhares de manifestantes às ruas.
CNN
O governo dos EUA nem sempre consegue crédito por sua generosidade com os pobres da América Latina, disse o presidente Bush em entrevista à CNN hispânica, antes de partir para a viagem ao continente. “O contribuinte americano tem sido muito generoso na ajuda aos vizinhos, e muito disso é dinheiro para justiça social. Por isso eu me chateio quando dizem os EUA não nos dão muita atenção aos pobres da região”.
LOS ANGELES TIMES
Editorial do Los Angeles Times ironiza os papéis dos presidentes Bush e Lula em declarações recentes - o conservador presidente americano falando em “trabajadores y campesinos”, enquanto o líder esquerdista do Brasil protestava contra o protecionismo agrícola e defendia o fim de barreiras.
“Essa inversão de papéis fala muito a respeito das pressões políticas sobre ambos”, avalia o editorial, indicando que a tendência é de não atingir os objetivos de nenhum dos presidentes.
EL CLARÍN
As expectativas de amplas conversas sobre política regional durante a visita de Bush ao Brasil “perderam alento”. É o que diz reportagem do diário argentino El Clarín. Em artigo da professora de política internacional Monica Hirst ao jornal, o giro é assim retratado: “A vantagem de ser imperador é que, havendo vontade política, sempre se dispõe de algo para oferecer aos súditos.” E destaca: “Brasil, Uruguai e Colômbia foram eleitos como destinos. Mas é ao primeiro que se dirigem as maiores tentativas de sedução.”
LE MONDE
Segundo a edição eletrônica de ontem do Le Monde, “Bush tenta recuperar sua influência sobre a América Latina”.
Em entrevista ao jornal, George Couffignal, professor de Ciências Políticas no Instituto de Altos Estudos da América Latina, analisa a viagem do presidente americano como um gesto para resgatar prestígio, “depois do malogro do projeto de criação de uma área de livre comércio nas Américas”, projeto que deveria ter sido posto em prática em 2005, mas “foi enterrado em Mar del Plata”.
EL PAÍS
Diversos jornais ressaltaram os protestos liderados por Chávez contra Bush. Um deles foi o El País, do Uruguai: “Expectativa na Argentina pela chegada de Chávez e Morales.” O periódico descreve o ato organizado pelas mães da Praça de Maio e a provável ida de Evo Morales, presidente da Bolívia, ao Estadio del Ferrocarril, em Buenos Aires. A presença de Bush próximo dali, na cidade uruguaia de Colônia, é “pura coincidência”, disseram fontes da embaixada venezuelana na Argentina.
FOLHA DE SÃO PAULO
- Lula ataca protecionismo dos EUA
- O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que os subsídios norte-americanos para a agricultura são "nefastos para o livre comércio". Ele se reúne hoje com o presidente George W. Bush _que chegou às 20h04 de ontem no aeroporto de Cumbica, em São Paulo. "Queremos que os EUA possam diminuir subsídios", declarou, após encontro com o presidente alemão, Horst Köhler, em Brasília.
- O etanol e o futuro - JOSÉ SERRA - A passagem do presidente George W. Bush pelo Brasil aqueceu o noticiário e as expectativas a respeito do etanol como combustível do futuro. Isso é proveitoso, pois dá um impulso mundial ao marketing do álcool, biocombustível pouco agressivo ao meio ambiente e que não está sujeito aos mesmos entraves políticos e econômicos que envolvem o petróleo. Os Estados Unidos, contrariando sua tradicional retórica pró livre-comércio, estão ingressando na era do etanol amparados em regras que obstruem a formação de um mercado mundial de biocombustíveis
O ESTADO DE SÃO PAULO
- Lula insistirá com Bush na queda de barreira ao etanol
- O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai pedir hoje ao presidente americano, George W. Bush, a redução da sobretaxa imposta pelos EUA ao álcool produzido no Brasil. O próprio Lula sinalizou essa disposição, confirmada por dois ministros, e chegou a dizer que está confiante, ao ser questionado ontem sobre o assunto. O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, manifestou confiança na negociação. Para o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, o melhor argumento do Brasil é a intenção americana de transformar o etanol em mercadoria padronizada e negociada em todo o mundo - uma commodity. Bush chegou ontem à noite a São Paulo e foi para o Hilton Hotel, no Morumbi. No encontro entre os dois presidentes, hoje, eles darão aval para seus governos trabalharem pela consolidação de democracias frágeis, especialmente da África. O governo americano daria a colaboração financeira; o Brasil, a informatização do processo eleitoral.
- Frase - Silas Rondeau - Ministro de Minas e Energia "O álcool precisa ter o tratamento do petróleo, que não tem nenhuma barreira"
O GLOBO
- Lula diz que subsídios dos EUA são 'nefastos'
- No dia da chegada de Bush, o presidente Lula subiu o tom das críticas e chamou de "nefastos" os subsídios dados pelo governo americano a seus produtores agrícolas. "o que queremos é que os Estados Unidos possam diminuir os subsídios, tão importantes para os agricultores americanos, mas tão nefastos ao livre comércio", disse Lula, que hoje assina com Bush memorando de cooperação para produção de etanol que terá termos genéricos e não estabelecerá prazos. A chegada de Bush foi marcada por protestos em várias cidades do país e forte esquema de segurança. Na Avenida Paulista, houve confronto entre polícia e manifestantes. O ato de repúdio a Bush organizado por Chávez para hoje em Buenos Aires foi esvaziado: o boliviano Evo Morales e o argentino Néstor Kirchner não participarão. Na Colômbia, a polícia acusou as Farc de ter um plano para sabotar a visita de Bush, domingo.
- Merval Pereira - Todos sabem ser altamente improvável qualquer mudança dos EUA em relação aos subsídios. Por que Lula insiste nisso?
- Miriam Leitão - Bush vive a contradição de importar sem taxa o petróleo do inimigo Chávez e impor fortes barreiras ao etanol do amigo Lula.
- Como outras atividades rapidinhas, é provável que a visita de Bush valha mais pela expectativa do que pela realização
- No dia da chegada de Bush, o presidente Lula subiu o tom das críticas e chamou de "nefastos" os subsídios dados pelo governo americano a seus produtores agrícolas. "o que queremos é que os Estados Unidos possam diminuir os subsídios, tão importantes para os agricultores americanos, mas tão nefastos ao livre comércio", disse Lula, que hoje assina com Bush memorando de cooperação para produção de etanol que terá termos genéricos e não estabelecerá prazos. A chegada de Bush foi marcada por protestos em várias cidades do país e forte esquema de segurança. Na Avenida Paulista, houve confronto entre polícia e manifestantes. O ato de repúdio a Bush organizado por Chávez para hoje em Buenos Aires foi esvaziado: o boliviano Evo Morales e o argentino Néstor Kirchner não participarão. Na Colômbia, a polícia acusou as Farc de ter um plano para sabotar a visita de Bush, domingo.
- Merval Pereira - Todos sabem ser altamente improvável qualquer mudança dos EUA em relação aos subsídios. Por que Lula insiste nisso?
- Miriam Leitão - Bush vive a contradição de importar sem taxa o petróleo do inimigo Chávez e impor fortes barreiras ao etanol do amigo Lula.
GAZETA MERCANTIL
- Lula aceita na OMC corte flexível de apoio
- No encontro de hoje com o presidente americano George W. Bush, o presidente Lula vai anunciar que os países do G-20, do qual o Brasil faz parte, aceitam que as tarifas protecionistas para agricultura sejam flexibilizadas em função do tamanho e da condição econômica de cada um. Ou seja, os cortes dos subsídios serão mais expressivos para os países mais pobres. Lula acredita que a proposta poderá ser levada à Organização Mundial do Comércio (OMC) em até quatro semanas. Ontem, o presidente disse que o protecionismo é "nefasto". "o que nós queremos é que os EUA possam diminuir os subsídios, tão importantes para os agricultores americanos, mas tão nefastos ao livre comércio que nós apregoamos".
Não é de hoje que a agropecuária brasileira é vista como uma ameaça aos produtores americanos. Numa tentativa de neutralizar a concorrência exercida pelos produtos daqui, os EUA criaram barreiras alfandegárias e não tarifárias, como ocorre com a carne bovina "in natura" brasileira. Para o etanol, a competitividade brasileira é compensada por meio de uma sobretaxa de US$ 0,54 por galão.
Sobre o etanol, interessa ao Brasil e aos EUA manter parceria para troca de tecnologia na fabricação do álcool a partir de celulose. Bush dirá a Lula que o governo americano já disponibilizou US$ 1 bilhão para essa pesquisa nos EUA.
Bush chegou ontem ao Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, às 20h05 e às 20h20 saiu com a comitiva dividida em 41 carros. Com ele estavam mias de 50 pessoas, incluindo a secretária de Estado, Condoleezza Rice, e o assessor de assuntos de Segurança Nacional, Stephen Hadky.
ESTADO DE MINAS
- A visita do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, ao Brasil, gerou manifestações em todo o país, ontem. O maior protesto, promovido por estudantes, sindicalistas e grupos de esquerda, parou a Avenida Paulista, na região central de São Paulo, onde o avião com a comitiva presidencial norte-americana aterrissou por volta das 20h. Houve confronto entre os manifestantes, estimados em 6 mil pela PM, e os policiais, que usaram bombas de gás. Cinco pessoas ficaram feridas. Hoje, Bush tem um encontro com o presidente Lula, quando deverão assinar um memorando de cooperação para o desenvolvimento de biocombustíveis
JORNAL DO BRASIL
- Visita inconveniente
- Hospedado no Brasil desde a noite de ontem, o presidente americano George Bush não viu o confronto entre policiais e 6 mil manifestantes que protestavam contra visita. A Avenida Paulista, principal rua de São Paulo, virou uma praça de guerra: de um lado, pedras e paus: de outro, bombas de gás e de borracha e gás de pimenta. Houve protestos contra Bush em todo o país. - O presidente Lula vai propor hoje a George Bush que os ricos reduzam rapidamente o que chama de "subsídios nefastos" sobre produtos exportados por países pobres