domingo, 25 de março de 2007

24 E 25 DE MARÇO

OPINIÕES, REPORTAGENS,ENTREVISTAS

FUTURO MINISTRO DE IMPRENSA CRITICA CULTIVO DE MÍDIA SIMPÁTICA

KENNEDY ALENCAR
da Folha de S.Paulo, em Brasília
O jornalista Franklin Martins, 58, futuro ministro que comandará as áreas de imprensa e publicidade do governo, diz que esses "guichês serão separados". "As empresas de comunicação no Brasil, de modo geral e em sua maioria, são empresas sérias. Não aceitariam misturar os guichês. Eu sou uma pessoa séria e não aceito misturar os guichês."
Fala, porém, que a imprensa "não está numa redoma" e "será criticada sempre que avançar o sinal". Na sua visão, isso ocorre quando a mídia "pretende puxar a sociedade pelo nariz para um lado e para o outro".Indagado se o governo incentivaria a criação de órgãos de imprensa simpáticos, como prega o PT, diz: "Não cabe ao governo plantar, regar e colher veículos de comunicação simpáticos a ele".
Prega a criação de uma rede pública de TV, dizendo que ela não deve funcionar com lógica comercial. Afirma que o governo fará indicação inicial de diretoria, mas sem partidarismo. "Senti na conversa com o presidente que é TV pública e não estatal. Plural e não partidária."
Defende encontro entre Lula e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para que se mantenha agenda comum nacional que quase se perdeu na crise do mensalão devido a "luta política" entre PT e PSDB. A agenda tem cinco pontos: democracia, estabilidade monetária, responsabilidade fiscal, crescer com distribuição de renda e combater a exclusão social.
"Os dois precisam conversar. Seria muito bom para os dois e para o país, mantendo as opiniões e divergências. Cada macaco no seu galho. E, do seu galho, cada um pode conversar com o outro."
O novo ministro manterá o processo contra o jornalista Diogo Mainardi, da revista "Veja", porque ele o acusou de crimes. "Fiz o que se faz em qualquer estado de direito." Diz que tratará a Globo profissionalmente, empresa da qual foi demitido após o episódio Mainardi. "Quem olha para trás vira estátua de sal."
Diz ter "orgulho" de ter combatido a ditadura militar de 1964. "Lutei do lado certo." Com olhos marejados, demonstra emoção ao falar desse assunto. "Vivi na clandestinidade cinco anos e meio. Vivi cinco anos e meio no exílio. No entanto, não vivo mais na clandestinidade. Muita gente que torturou e matou é clandestina até hoje, até para a sua família", afirma.Indagado a respeito do que achava hoje de o manifesto dos seqüestradores do embaixador americano Charles Elbrick defender a matança de torturadores e carrascos da ditadura, afirma: "Naquela época, quem fizesse oposição ao regime estava sob o risco de ser preso, torturado e morto. Eram outras circunstâncias, circunstâncias de guerra".
Imagina que seria negado um pedido de visto de entrada nos EUA devido à sua participação no seqüestro de Elbrick, ação de um grupo formado por militantes de duas organizações guerrilheiras, a Ação Libertadora Nacional e o Movimento Revolucionário 8 de Outubro, que seqüestrou o embaixador americano para forçar a ditadura a libertar 15 presos políticos, entre os quais José Dirceu, hoje ex-ministro da Casa Civil.
"[O visto] É uma questão secundária. Tanto os Estados Unidos quanto eu sobreviveremos a esse detalhe", diz, num tom bem-humorado.
Franklin acumulará a função de secretário de imprensa com a de ministro até indicar um substituto para o cargo hoje exercido pelo jornalista André Singer. Para porta-voz, nomeará alguém de fala "concisa". Convidou o jornalista Eugênio Bucci a permanecer à frente da Radiobrás e aguarda resposta.

A SEGUIR, A ÍNTEGRA DA ENTREVISTA DADA EM SUA CASA, EM BRASÍLIA, NA TARDE DE SEXTA-FEIRA:

Folha - Por que o presidente o convidou?

Franklin Martins - A idéia do presidente é passar para a sociedade a idéia de que deseja ter uma relação de comunicação forte, mais intensa e mais profissional. Simbolicamente, ao chamar um profissional como eu, quis passar essa idéia. Comunicação é falar e ouvir. Não é só falar.
Folha - Lula é criticado por ter dado raras entrevistas coletivas no primeiro mandato.Franklin - Isso correspondeu a um momento. O presidente tem dado entrevista quase todo dia, falando ao final dos eventos.
Folha - Mas foge ao formato de coletiva e às exclusivas em que pode haver o pingue-pongue entre entrevistado e entrevistador.

Franklin - Cabe o formato de coletiva, que não é para se fazer todo dia. O presidente fará uma coletiva em breve. E cabem essas entrevistas de saída de eventos em que dará a palavra do presidente sobre o assunto do dia, o que é fundamental para os jornalistas. E cabem os formatos de conversas com jornalistas e entrevistas para órgãos de imprensa. O presidente terá uma comunicação muito mais intensa e profissional.Folha - E por que o sr. aceitou?

Franklin - Um pouco de vaidade com essa coisa de ser ministro. Gosto de desafios. Profissionalmente, estava no auge da minha carreira. Comentarista respeitado, prestigiado junto aos colegas e às fontes. Mas, no fundo, queria fazer coisas novas, diferentes. Tem a ver com as circunstâncias políticas do país. Passamos por uma crise política extremamente dura, selvagem em alguns momentos, e estamos saindo dela. Foram cometidos erros de lado, do governo e da imprensa. O povo brasileiro demonstrou maturidade. Quis a apuração dos fatos. Mas também olhou e disse: eu também quero que o país continue a melhorar, a enfrentar os seus problemas reais. Não vamos confundir disputa política com solução dos grandes problemas nacionais".
Isso baixou a intoxicação do debate político. Na campanha, quando os candidatos subiram de tom, tiveram queda nas pesquisas. O recado era "menos, gente".
Lula venceu com grande vantagem, demonstrando que a opção do eleitor não foi fortuita. Mas o eleitor disse: "Não quero perder os avanços que nós temos devido a luta política tumultuada".
Folha - Não foi só luta política. Houve escândalos de corrupção sérios. Houve o dossiegate. O sr. acha que a imprensa exagerou?
Franklin - Falando ainda como jornalista, não como ministro, a imprensa cumpriu um papel importante no primeiro momento da crise, forçando a realização das CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito). De certa forma, pautou os primeiros momentos. Trouxe à tona o caixa dois, os recebimentos de dinheiro por parlamentares. Entretanto, a partir de determinado momento, era preciso avançar e responder a uma questão crucial que eu repetia como um mantra nos comentários: "De onde veio o dinheiro do valerioduto?" Por quê?
Essa resposta permitiria que a investigação desse os passos seguintes. Hoje, não contamos a história. Há a suspeita. Evidente que o dinheiro do valerioduto foi para maior número de parlamentares do que o apontado pela CPI. O dinheiro havia sido aplicado para financiar troca de partidos, uma hipótese bastante plausível. Por que a CPI não quebrou o sigilo desses parlamentares? Não houve da parte da CPI esse interesse. E a imprensa não fez uma investigação independente para saber de onde veio e para onde foi o dinheiro do valerioduto, o que permitiu que o processo ficasse apenas com aparência de discurso político.
A partir de um determinado momento, a imprensa parou de pautar a CPI e passou a ser pautada pela CPI. Prevaleceu não a investigação, mas o discurso. E a população percebeu isso e se afastou, o que é ruim, pois nos afastou de conhecer melhor e mais o que aconteceu.
Folha - Colocar numa mesma pasta a verba publicitária do governo e a relação com a imprensa não traz o risco de tentativa de manipulação política da mídia?
Franklin - Traz. Viver é muito perigoso, como dizia Guimarães Rosa. Risco sempre existe, mas não é um risco novo. Em todos os Estados da Federação, é assim. No governo federal, sempre foi assim. Já tivemos casos em que o porta-voz do presidente [diplomata Sérgio Amaral no governo FHC] era também quem controlava a verba de publicidade. E não houve nada demais.
Folha - No segundo mandato, FHC separou as funções. E Lula as deixou assim no primeiro mandato.
Franklin - O Sérgio Amaral controlou a verba de publicidade e isso não resultou em coisa escusa, malandragem. Não houve nada.
Folha - Separar publicidade e imprensa não é uma fórmula mais imparcial?Franklin - A maioria esmagadora dos recursos de verba publicitária é das estatais. O governo não controla. As campanhas de publicidade do governo têm uma dimensão política e técnica. Vou indicar alguém da minha absoluta confiança, íntegro e com conhecimento do mercado de publicidade, com experiência de trabalho executivo, para cuidar da parte técnica. Serei responsável em última instância.
Na dimensão política, deve-se discutir qual o sentido da campanha que o governo realiza ou vai realizar. Se há dúvidas sobre um programa social do governo ou uma medida do governo, talvez caiba uma campanha para esclarecer melhor. O acompanhamento da mídia é fundamental para sentir, por exemplo, se há dúvidas sobre o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Colhe-se isso também na relação com a imprensa, que expressa as mais variadas posições da sociedade. Uma eventual inflexão da propaganda poderá esclarecer tais dúvidas.
É um conceito de unificação da comunicação do governo, não é para misturar dois guichês. Os guichês serão absolutamente separados. As empresas de comunicação no Brasil, de modo geral e em sua maioria, são empresas sérias. Não aceitariam misturar os guichês. Eu sou uma pessoa séria e não aceito misturar os guichês. O governo é sério e não aceita misturar os guichês.
Folha - Concorda com as teses do PT de que é preciso democratizar os meios de comunicação? Acha que deve ser estimulada a criação de veículos de comunicação simpáticos ao governo, dando-lhes financiamento oficial direto ou indireto?
Franklin - Essa questão de democratização dos meios de comunicação é uma fórmula na qual cabe tudo. Sou a favor, óbvio. Quanto mais democrática e plural a circulação de idéias na sociedade, melhor. Mas não cabe ao governo plantar, regar e colher órgãos de comunicação simpáticos a ele. Quem cria órgãos de comunicação é a sociedade. O governo tem uma função na relação com a imprensa: garantir a liberdade de imprensa. Ponto. O resto é a sociedade quem faz.
Folha - A rede pública de TV não corre risco de virar uma nova Radiobrás ou TV Voz do Brasil? Ela é necessária?
Franklin - É necessária. A intensidade com que essa discussão surgiu mostra que o país estava precisando discutir isso. Em qualquer discussão que se inicia, as posições, às vezes, vêm truncadas. Esse processo ajuda a avançar. O governo não pretende criar uma TV do governo, estatal. Mas estimular, fazer crescer e dar forma a uma rede pública de TV.
Folha - Com qual formato em termos editoriais, de gestão e de financiamento?Franklin - Não vai funcionar guiada pela questão comercial. Isso coloca limitações para uma série de TVs que necessitam adquirir uma determinada escala de audiência e respondem a estímulos comerciais porque são empresas que visam lucro. Essas TVs privadas não podem entrar em determinadas áreas, fazer determinadas programações, que são importantíssimas.Folha - Mas não é importante ter audiência?
Franklin - É importante. Estou falando de escala de audiência. Não tem obrigação de concorrer para liderar o horário nobre. Na Inglaterra, na época em que fui correspondente, havia duas TVs públicas, BBC 1 e BBC 2, e dois canais privados, ITV e Channel Four. A BBC 1, com programação mais educativa, competia com o Channel Four. A BBC 2, com a outra, que tinha programação mais comercial. A BBC 1 tinha audiência de seis e sete pontos, o que é um índice bom. Essa situação ajudava a melhorar o padrão de produção de todas as TVs.
Os mecanismos de gestão e de financiamento devem ser discutidos e feitos com base na experiência exitosa de outros países e aqui, como a TV Cultura, por exemplo.

Folha - Quem vai escolher a diretoria?
Franklin - Evidentemente, a escolha inicial parte do governo. Mas o governo não precisa escolher os partidários do governo. Não existe ainda um formato definido. A discussão ainda não está madura. O que senti na conversa com o presidente é uma TV pública e não estatal. Plural e não partidária. Aberta para contribuição e presença das diferentes identidades regionais e não com uma programação de uma cara só. [Deve ter] programação variada, com jornalismo, com parte cultural voltada para cidadania.Isso é diferente da Radiobrás, que tem um papel que deve continuar, funciona como uma agência noticiosa do governo. Nesse aspecto, a gestão do Eugênio Bucci foi importante, sem caráter de chapa branca. Tanto que convidei-o para permanecer na Radiobrás. E ele ficou de me dar a resposta.
Folha - O governo deverá colocar recursos vinculados, haverá possibilidade de corte no orçamento dessa rede pública?
Franklin - Honestamente, ainda não tenho idéia. O governo vai ter de botar verba. Há discussões se vale a pena trabalhar com patrocínio privado, como existe na TV Cultura. Não publicidade comercial. Os modelos de financiamento e de gestão devem ser discutidos. Será bom para o Brasil ter uma TV pública.
No Brasil, a gente se assusta com tudo que significa mudança, modernidade e novidade. Depois, descobre que é muito bom. Não sei por que o Brasil se assusta com a possibilidade de ter uma BBC.
Folha - As primeiras reações de parte dos veículos privados têm sido de reticência.Franklin - Foram reações próprias de um debate inicial. Editoriais, como os da Folha, criticavam a TV do governo, mas, se for uma TV pública, a coisa muda de figura. Podemos discutir. Isso é parte do debate político. Estamos saindo de um momento muito tumultuado de disputa política. Passou a ser óbvio, de entrada, desqualificar a outra posição para não ter que entrar no mérito da discussão.
O que mais quero como ministro da comunicação social é ajudar a qualificar o debate político, o debate público. Liberdade de imprensa não é só informar, mas também qualificar o debate público. Fazer com que se exprimam as diferentes posições da sociedade, que se choquem, e a sociedade escolha a melhor.
Pode haver gente tão a favor da liberdade de imprensa quanto eu, mais a favor não tem. Meu pai foi jornalista e preso na ditadura Vargas por não aceitar o autoritarismo. Eu passei a minha juventude lutando contra a ditadura [militar de 1964].
A liberdade de imprensa é o nome que se dá ao direito de a sociedade ser informada.Folha - Como diz o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, a Constituição deseja que a imprensa seja livre, não determina que seja justa.Franklin - Isso. Quando a imprensa não é justa, ela paga um preço. Não é o Estado que paga. Paga pela crítica feita a ela pela sociedade. A imprensa também não está numa redoma. O presidente pode ser criticado, o ministro pode ser criticado, o papa pode ser criticado, a imprensa pode ser criticada e será criticada sempre que avançar o sinal. Quando ela avança o sinal? Quando vai além do trabalho de dar informação, de fazer circular a informação e de aumentar o debate público. Quando pretende puxar a sociedade pelo nariz para um lado e para o outro. Essa não é uma função da imprensa.
Folha - O sr. identifica veículos que avançam sinal hoje?
Franklin - A sociedade pode fazer essa crítica. Não sou eu quem devo fazer. Evidente, nesse período de crise, teve gente que se comportou de uma forma, teve gente que se comportou de outra. Dentro de nossas redações, há jornalistas que foram mais longe. Eu sempre disse que seríamos julgados pelo nosso comportamento, o que é positivo, não é ruim. A imprensa sairá melhor e já está saindo melhor dessa crise do que entrou. Como o governo está saindo melhor do que entrou. A crítica é o que faz pessoas crescerem desde que elas consigam perceber o que fizeram de errado. E quem critica a imprensa e muda a imprensa é a sociedade, não é o governo. Não é o leitor. O leitor de um jornal pode até estar gostando desse jornal. Mas o debate na sociedade pode levar aquele leitor a perceber que não era bem assim.

Folha - Como ministro, o sr. manterá o processo contra o jornalista Diogo Mainardi?
Franklin - Vou manter.
Folha - Por quê?
Franklin - Não estou fazendo nada contra a liberdade de imprensa. Manter o processo contra esse senhor não tem nada a ver sobre o que eu penso ou o que ele acha que eu penso. É um direito que ele tem. Isso não discuto. Entrei com processo contra ele porque ele me acusou de crimes. Me acusou de ter praticado tráfico de influência e de ter participado da quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa.
Fez essas acusações sem nenhum elemento. Mais do que isso, ele e a revista dele ["Veja"] se recusaram a publicar a minha resposta, a minha explicação. Que liberdade de imprensa é essa na qual um lado fala e sequer publica o outro lado. Fiz o que se faz em qualquer estado de direito. Quando acha que sua honra foi atingida, recorre à Justiça. Quem pode definir se essa honra foi atingida? Eu? O colunista da revista? Não, a Justiça. No processo, peço que seja publicada a minha resposta e peço reparação por danos morais.
Folha - Como ministro, não ganhará mais peso esse processo em seu favor?Franklin - A Justiça não vai agir assim porque sou ministro. Pelo ritmo no Brasil, a Justiça só terá julgado esse processo depois que eu deixar de ser ministro. Ele terá toda a oportunidade de provar que todas as acusações de que cometi crimes são verdadeiras. E, se for isso, quem vai ficar mal sou eu.
Ele também pode, se quiser, dizer: "Eu errei. Volto atrás". Mas hoje em dia pega mal para ele. Acho que dificilmente o fará. Não vou abrir mão de defender a minha honra da única forma num estado de direito, que é ir à Justiça.Folha - Esse episódio foi determinante para o seu afastamento da função de comentarista do "Jornal Nacional" e da saída da Rede Globo?Franklin - Não. Eu já havia deixado de ser comentarista do "Jornal Nacional". A direção da TV Globo chegou à conclusão de que deveria tirar toda e qualquer opinião do jornal porque ele era basicamente informativo.Folha - E em relação à saída?
Franklin - Fiz essa pergunta à direção, e eles disseram que não. A alegação que me deram é que eu estava com imagem fraca como jornalista, muita gente não me conhecia. Eu disse a eles que achava que a explicação não me convencia. A pergunta tem de ser feita à TV Globo.
Folha - O sr. tem mágoa da Rede Globo e de sua cúpula atual?
Franklin - Não. Tive oportunidades profissionais fantásticas na TV Globo.
Trabalhei lá durante oito anos e meio. Fui comentarista dos principais jornais. Participei do núcleo que coordenou a cobertura das eleições de 2002, que foi um marco na história da TV Globo. Fui diretor de jornalismo em Brasília, sempre com uma relação excepcional com a Central Globo de Jornalismo. Portanto, sou grato à TV Globo. Aconteceu uma coisa que não entendo.Folha - Como o sr. pretende se relacionar com a Globo?
Franklin - Digo sempre que não vou olhar para trás. Quem olha para trás vira estátua de sal. Tenho muitos amigos na Globo. Deve haver pessoas que não gostam de mim. Será um relacionamento profissional.
Folha - Qual é a sua avaliação da cobertura da imprensa de modo geral a respeito do governo Lula?
Franklin - Vou falar como acho que deve ser daqui para frente.
Profissional, séria, crítica, sem preconceito.
Folha - O sr. está proibido de entrar nos EUA por causa do sequestro de Charles Elbrick?
Franklin - É uma versão que corre, provavelmente verdadeira. Mas nunca pedi visto para o governo americano, até porque imagino que não me dariam. Outras pessoas que estiveram na mesma situação que a minha, de seqüestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, receberam sinais de que não conseguiriam.
Folha - O sr. vai com Lula para Washington no final do mês?Franklin - Não sei. É uma questão secundária. Tanto os Estados Unidos quanto eu sobreviveremos a esse detalhe.
Folha - O sr. participou da luta armada contra a ditadura militar de 1964. Como avalia hoje aquele período? Valeu a pena? Foi o melhor caminho?
Arrepende-se de algo? Faria diferente?
Franklin - Faria muitas coisas diferentes com a visão que tenho hoje. Não me arrependo do que é central. Lutei do lado certo. Lutei do lado da democracia contra a ditadura.
Folha - O manifesto dos seqüestradores do embaixador falava em matar carrascos e torturadores do regime militar. O que acha disso hoje?Franklin - Fica difícil discutir porque hoje não existe uma polícia como um instrumento de opressão política do Estado sobre as pessoas. Hoje, as pessoas fazem oposição livremente, falam livremente. Naquele época, quem fizesse oposição ao regime estava sob o risco de ser preso, torturado e morto. Eram outras circunstâncias, circunstâncias de guerra.Com todas as suas diferentes nuances, o povo brasileiro superou a ditadura militar. Participei das manifestações estudantis de 1968 que praticamente inviabilizaram o modelo de ditadura que eles tinham. Então, partiram para o terrorismo de Estado aberto. Em 1974, a vitória do MDB, inviabilizou o terrorismo de Estado. As diretas, em 1984, inviabilizaram a distensão que pretendia manter uma ditadura sob controle. Estive do lado certo. Tenho o maior orgulho de ter lutado. Tenho um certo pudor de bater no peito e ficar proclamando, parece que estou contando vantagem.Tenho o maior orgulho de ter lutado contra a ditadura. Posso contar tudo o que fiz, inclusive os meus erros, para os meus filhos, os meus netos, discutir abertamente na sociedade.
Os que estiveram do outro lado não podem. Vivi na clandestinidade cinco anos e meio. Vivi cinco anos e meio no exílio. No entanto, não vivo mais na clandestinidade. Muita gente que torturou e matou é clandestina até hoje, até para a sua família.
Folha - O sr. foi preso e torturado?
Franklin - Fui preso durante dois meses, mas não fui torturado. Saí um dia antes do AI-5 [ato institucional número 5, de 13 de dezembro de 1968, que suspendeu direitos políticos e tornou mais bruta a ditadura militar de 1964]. Se estou aqui até hoje, é porque sou um sujeito que teve muita sorte.Folha - O sr. participou de alguma ação em que morreram pessoas? Matou alguém?Franklin - Não, não.
Folha - Nas eleições, Lula chegou a dizer que desejava um acordo com a oposição, encontrar uma agenda comum. É possível haver algum entendimento entre PT e PSDB, duas forças com algumas características em comum, mas que se digladiam?
Franklin - No auge da crise, o Brasil correu o risco de perder uma coisa que ele construiu quase sem saber. E poderia ter perdido sem saber que construiu, que é uma agenda política comum nacional. Essa agenda tem cinco pontos. O primeiro é a democracia. Vamos resolver nossos problemas pela via democrática. Queremos eleições, queremos respeito aos direitos e garantias individuais. A oposição tem o direito de fiscalizar, mas não tem o direito de impedir o governo de governar. O governo tem o direito de governar, mas não tem o direito de impedir a opinião de se expressar. Se há uma direita no Brasil, o que se discute [risos], ela é mais democrática do que era antes. A esquerda é mais democrática do que era antes.O segundo ponto é a moeda. Queremos estabilidade monetária. Houve uma época em achávamos que podíamos conviver com a inflação alegremente graças ao overnight, ao gatilho salarial, à escala móvel de salário. O preço estamos pagando até hoje.
Terceira questão: responsabilidade fiscal. Não basta o governante ir gastando e pendurar a conta no cabide ali em frente. Temos de ter seriedade com o dinheiro público. Quarta questão. Tudo isso é muito importante, mas é preciso crescer, gerar emprego, gerar oportunidades para a juventude. E a quinta é que não basta crescer. Temos de combater a exclusão social.
Essa agenda vem sendo construída ao longo do tempo. Parte dela foi construída durante a ditadura. Parte no governo Fernando Henrique Cardoso. Parte no primeiro governo Lula. Essa agenda corresponde a um pensamento de 70% a 80% das forças políticas do país. A vantagem disso é que a luta política pode se dar num terreno razoavelmente delimitado. Nessa crise, quase jogamos isso pela janela. Se a crise tivesse ido um pouquinho mais longe e se o povo brasileiro não tivesse dito "calma, pessoal, eu não quero perder essa coisa".
Folha - O que seria ter ido mais longe? A oposição patrocinar o impeachment do Lula? O Lula tentar dar uma guinada autoritária?Franklin - Sim. Por que não partiram para o impeachment? Por que o Lula não endureceu? Porque a sociedade disse: "Não quero". Temos essa agenda comum. Grandes programas que começam a dar certo são apoiados por muito mais partidos do que os que estão no governo. O Bolsa Família era tido como uma "Bolsa Esmola". Hoje, a maioria das forças políticas reconhece que é um vigoroso programa de transferência de renda que deve ser mantido e aprimorado. É uma conquista que não dá para abrir mão. O atual programa de melhoria da qualidade da educação incorpora coisas que vieram do governo FHC. Nos últimos 25 anos, construímos coisas em comum e quase jogamos fora na crise.
Folha - Lula se queixa de FHC ter sido muito duro com ele na crise. FHC se queixa de Lula não ter mantido a cordialidade a que ele deu início com a transição de governos. O sr. acha que eles deveriam se encontrar e conversar?Franklin - Os dois precisam conversar. Seria muito bom para os dois e para o país, mantendo as opiniões e divergências. Esse negócio de agenda comum não é aderir ao governo. A oposição está na oposição por vontade do eleitor. O governo está no governo porque o eleitor mandou. Cada macaco no seu galho. E, do seu galho, cada um pode conversar com o outro.
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DEPOIS DA FESTA NA POSSE, O DUELO MAIS ESPERADO DA REPÚBLICA
Foi bonita a festa da Marta e do Walfrido, pá. Ah, do Stephanes também. Mas ficou nítido hoje de manhã no Planalto que a torcida era da petista e do mineiro. Gente saindo pelo ladrão. Uma claque que batia palmas a toda hora, ria, brincava. Até Supla botou um terno para ir à posse da mãe. Mas inovou com camisa listrada forte e sapato branco. João, o outro filho, estava esporte. Lula no maior bom humor, comemorando a esticada do PIB na véspera. O mais elogiado pelo presidente foi mesmo o seu xodó: Walfrido.
O presidente chegou a afirmar que o ministro é uma espécie de unanimidade entre os deputados e senadores, o que é até verdade, lembrando seu desempenho: conseguiu aumentar de R$ 300 milhões para R$ 1,8 bi o orçamento do Turismo no ano passado só com emendas parlamentares para a área. Agora, chegou a hora de retribuir e fazer a mágica ao contrário.
Para não sair do hábito, o presidente tascou um "nunca houve antes neste país..." - para divertimento da platéia. Dessa vez, os pontinhos foram preenchidos com "uma política tão consistente para o turismo". Lula escorregou numa pequena gafe ao elogiar Walfrido por tomar café, almoçar e jantar com deputados o tempo todo. O problema era o tonzinho meio de "eca! como ele aguenta...", traindo a falta de gosto que tem pelas lides parlamentares. Marta muito elegante de branco, sentada ao lado de Dilma, de preto. Não conversaram muito durante a solenidade. Esse é o duelo mais esperado da Esplanada. Mais dia, menos dia, rola.
enviada por Helena Chagas

BBC

RISCO DE SECA INTENSA NA AMAZÔNIA PODE SER 10 VEZES MAIOR EM 2030
James PainterDe Oxford
As chances de ocorrerem períodos de intensa seca na região da Amazônia podem aumentar dos atuais 5% (uma forte estiagem a cada 20 anos) para 50% em 2030 e até 90% em 2100, informam cientistas do Hadley Centre.
A informação foi apresentada durante um encontro nesta semana na Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, onde especialistas em mudanças climáticas debateram temas críticos sobre o futuro do planeta.
Um dos casos estudados por cientistas foi a forte seca ocorrida na região da Amazônia, há dois anos.
As imagens de centenas de peixes apodrecendo no rio Amazonas, o segundo maior rio do planeta, chocaram o mundo.
Eram as imagens da estiagem de 2005 na região da Amazônia. Em algumas áreas, a seca superou todos os recordes desde que se começou a medir estatísticas climáticas do local. O governo brasileiro teve de declarar estado de emergência.
O mundo pode ter esquecido a seca de dois anos atrás, mas a comunidade científica não. Especialistas tentam agora entender se o aquecimento global causou a seca e qual foi o grau de devastação causado pela seca.
Há consenso entre os cientistas de que a seca de 2005 não estava relacionada com o fenômeno El Niño, como grande parte das secas na Amazônia, mas sim com o aquecimento da superfície na área tropical do Atlântico do Norte.
'Colapso da Amazônia'
O professor de dinâmicas de mudanças climáticas da Universidade de Essex, na Grã-Bretanha, Peter Cox, diz acreditar que os mesmos fatores que causaram a estiagem devem se repetir.
"Não podemos dizer com certeza que a seca como a que ocorreu em 2005 foi causada pelo acontecimento global", disse Cox.
"Mas podemos dizer que a probabilidade de um evento como esse vai aumentar como conseqüência da mudança de clima induzida pelo homem, podendo se tornar bastante comum até o final do século", afirma Cox.
O modelo do Hadley Centre é um dos diversos GCMs (sigla em inglês para modelos de clima global) que tenta prever mudanças na Amazônia.
O modelo é conhecido por alertar para impactos catastróficos na Floresta Amazônica em um período de décadas, conhecido como "colapso da Amazônia".
Outros modelos mostram padrões muito diferentes de chuva na Amazônia, mas especialistas em Oxford acreditam que o Hadley é o mais confiável.
"O modelo do Hadley Centre faz um trabalho de credibilidade", afirma o representante brasileiro do programa International Geosphere-Biosphere, Carlos Nobre.
"O que todos os GCMs prevêem é um aumento maior da variabilidade do clima, e o modelo Hadley mostra isso muito bem."
Fator humano
Há menos dúvidas sobre o impacto e a natureza rara da seca de 2005.
"Foi muito atípica tanto pela localização como pela intensidade", diz Nobre.
"A maior parte da secas na Amazônia acontece no nordeste da floresta, mas esta começou no oeste e no sudoeste, e seu impacto se espalhou até o centro e o leste."
Próximo a Manaus, o nível do Amazonas chegou a ficar três metros abaixo da média.
Muitas comunidades dependentes do rio para transporte ficaram ilhadas com a seca dos afluentes. Pela primeira vez, houve registro de incêndios generalizados no sudoeste.
Uma nova pesquisa do cientista Luiz Aragão, do Instituto de Mudanças no Meio Ambiente de Oxford, aponta a extensão dos incêndios.
"Uma área de 2,8 mil quilômetros quadrados foi perdida devido a uma proliferação extensiva de incêndios em florestas", afirma o estudo.
A pesquisa de Aragão mostra que os incêndios ocorreram principalmente em áreas onde há atividade humana.
Em outras regiões afetadas pela seca, onde há poucas pessoas, como no sudeste do Peru, havia pouca evidência de fogos.
Alto impacto
As previsões mais alarmistas para a Amazônia indicam que a combinação de incêndios, secas, desmatamento, mudanças no uso da terra (como plantação de soja) e aquecimento global vão empurrar a Amazônia para o limite de um ciclo de destruição.
Cientistas na conferência em Oxford alertam que não sabem ainda qual é o risco exato de isso acontecer, mas falam em "corredores de probabilidade".
Há discordância sobre esses corredores.
"O modelo do Hadley Centre prevê que é, de fato, muito provável que a Amazônia seja severamente impactada pela mudança climática nas próximas décadas", disse Cox.
Mas, por mais baixa que seja a probabilidade, mudanças na Amazônia devem ter um "alto impacto" no clima global.
Como disse um dos conferencistas: "você não entraria em um avião se você soubesse que há 10% de chance de ele cair".
NEW YORK TIMES
EDITORIAL: A NOVA MOEDA DO REINO

Hugo Chávez da Venezuela passou por momentos especialmente bons importunando o presidente Bush durante suas recentes turnês pela América Latina.
Porém, demagogia e capacidade de representação não ajudarão em nada a resolver o problema da taxa de inflação de 20% da Venezuela - a maior da América Latina - e a crescente escassez de alimentos que castiga os pobres cujos interesses Chávez declama tão alto.
O maior problema da Venezuela é que não existe ninguém para questionar as decisões cada vez mais enganadas de Chávez.
A Assembléia Nacional deu a ele o poder de governar por decreto por 18 meses. Então, ao invés de endereçar seriamente os sérios problemas da Venezuela, o mestre de cerimônias contentou-se com mais espetáculos.
Como Simon Romero reportou no Times, a moeda venezuelana, o bolívar, perdeu cerca de um quinto de seu valor desde janeiro.
O governo anunciou a introdução de um novo "bolivar fuerte" - valendo mil bolívares antigos, ou aproximadamente 25 centavos de dólar. Também reintroduz uma moeda conhecida como locha - que valerá um oitavo do bolívar fuerte - que circulou pela última vez nos anos 70.
Chávez parece estar contando com um impulso psicológico de uma moeda com três zeros a menos e outra que evoca tempos mais prósperos. Mas ao chamar a atenção à recente fraqueza do bolívar e - pior ainda - à resposta inconstante do governo, as manobras poderiam minar mais ainda a confiança, ao invés de aumentá-la.
Os gastos do governo - abastecidos pelas riquezas petrolíferas da nação - aumentaram 48% no ano passado, e é uma das maiores forças dirigindo a inflação. Investimentos no setor privado, enquanto isso, enfraqueceram desde que Chávez decidiu nacionalizar empresas públicas no começo do ano.
O controle de preços destinados a ajudar os pobres a comprar comida e segurar os preços levou à uma escassez de alimentos importantes como frango e leite. Ameaças de nacionalizar supermecados e prender seus donos, os quais Chávez acusa de estocar produtos, só tornaram a situação pior.
A Venezuela ainda possui bilhões de dólares em reservas de moeda estrangeira. E Chávez usou parte de sua riqueza de petróleo para impulsionar programas sociais, incluindo alfabetização e postos de saúde, para melhorar a vida da população carente da Venezuela. Mas tememos que qualquer bem será rapidamente desfeito pela antiga fórmula de camaradagem, corrupção e incompetência.


CONVERSA AFIADA
PAULO HENRIQUE AMORIM
. A revista Carta Capital que chega hoje às bancas faz uma revelação espantosa: dois diretores do Banco Central, Mario Mesquita e Rodrigo Azevedo, realizaram, semana passada, em São Paulo e no Rio, três reuniões diferentes com, aproximadamente, 80 executivos de instituições financeiras: (clique aqui para ver o resumo no Ultimo Segundo).
. O Presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foi à reunião do Rio, mas não falou.
. As reuniões eram secretas. Ninguém poderia saber delas. Só os bancos...
. O objetivo formal era informar “ao mercado” as premissas com que o BC trabalha.
. Mas, como na platéia não tinha nenhum bobo, o resultado foi outro. Veja o que diz o Último Segundo:
“Nas exposições iniciais, os diretores do BC Mesquita e Azevedo disseram estar o País menos vulnerável, com reservas internacionais sólidas (acima de US$ 100 bilhões), mas insuficientes para ter tranqüilidade. Recado dado e assimilado: o BC vai manter a política agressiva de compra de dólares no mercado. Ou seja, a moeda não cairá abaixo de R$ 2. Afirmaram ainda que a alta recente da inflação foi pontual, mas cabe à autoridade monetária “não deixar o repique se espalhar para os demais preços da economia”. Leia-se: quem apostava em queda de meio ponto porcentual da taxa Selic na próxima reunião do Copom, saiu convicto de que ela cairá não mais que 0,25 ponto.”
. É isso aí: quer fazer uma “posiçãozinha”? Faça como bancos brasileiros e invista com a “premissa” de que o dólar não cairá abaixo de R$ 2 e a taxa Selic não vai cair menos que 0,25%.
. É espantoso.
. Por que o Mesquita e o Azevedo não mostram as suas premissas ao Congresso Nacional, numa reunião pública, na televisão?
. Por que não fazem uma reunião aberta com a CUT e a Força Sindical?
. Por que não vão à Fiesp?
. À Associação dos Aposentados?
. Por que não conversam com Sociedade Rural Brasileira?
. Com a Contag?
. Porque tem medo de “contágio”?
. O ex-diretor Afonso Bevilaqua se recusava a conversar com industriais e com membros do Governo.
. Sabe por que? Porque o Meirelles, o Bevilaqua, o Mesquita e o Azevedo são independentes – independentes de nós, sociedade brasileira.
. Eles são dependentes dos bancos, onde brevemente irão trabalhar – e ganhar um bom salário porque foram diretores do Banco Central.
. E depois saem das reuniões do Copom com aquelas atas sibilinas, num pastiche da falsa ciência dos comunicados de Alan Greenspan.
. (Greenspan, como se sabe, se aposentou como começou a carreira, como um Republicano de carteirinha. O último ato notável da gestão dele no Federal Reserve foi dar cobertura “científica” à política fiscal do Republicano George Bush – um dos maiores desastres da história da política orçamentária americana. É só ler o que diz há muito tempo o Paul Krugman, no New York Times).
. A certa altura das reuniões “científicas”, segundo relato da Carta Capital, um economista discordou do que ouvia e previu um cenário otimista sobre a capacidade de produção do Brasil. Mesquita reagiu à altura: “Vamos parar de falar de cenários róseos. Vamos discutir riscos”.
. Quer dizer, a saída de Bevilaqua do BC não muda nada.
. É por isso que os neo-liberais e seus porta-vozes na imprensa falam que o Banco Central precisa de “autonomia” de fato.
. Para que autonomia de fato? Para poder entregar o ouro aos bancos e a mais ninguém?
. A turma do Dr. Meirelles vive num Brasil à parte, não tem que dar satisfação a ninguém – a não ser aos bancos.
. E vai continuar a fazer o que sempre fez.
. Porque se tivessem um mínimo de probidade entregavam – Meirelles, Mesquita e Azevedo – a carta de demissão hoje, antes de irem buscar a Carta Capital na banca em frente ao Banco Central.
Diante do exposto, o Conversa Afiada enviou um e-mail para o assessor de imprensa do Banco Central, Jocimar Nastari, com a seguinte pergunta: “Com a reportagem de Márcia Pinheiro na Carta Capital, Henrique Meirelles, Mário Mesquita e Rodrigo Azevedo vão pedir demissão hoje?”
A pergunta foi enviada para os seguintes e-mails:
jocimar.nastari@bcb.gov.br e alexandre.pinheiro@bcb.gov.br.
Aguardamos a confirmação do recebimento do e-mail e a reposta à pergunta.
O Conversa Afiada enviou ao líder do PT na Câmara Luiz Sérgio (PT-RJ), ao líder do governo na Câmara José Múcio Monteiro (PTB-PE), ao líder da oposição na Câmara Júlio Redecker (PSDB-RS), à líder do PT no Senado Ideli Salvatti (PT-SC), ao líder do governo no Senado Romero Jucá (PMDB-RO) e à líder da oposição no Senado Lucia Vânia (PSDB-GO), a seguinte pergunta:
"Diante do fato exposto na reportagem da Carta Capital, o(a) senhor(a) considera que Henrique Meirelles e os diretores do Banco Central Mário Mesquita e Rodrigo Azevedo devem pedir demissão?"
Aguardamos respostas.

O líder do PT na Câmara Luiz Sérgio (PT-RJ) respondeu: Ainda não tive a oportunidade de ler a reportagem de Carta Capital. Pelas informações que você me passou a questão é realmente grave e merece ser muito bem apurada. Acredito que antes tudo é preciso ouvir o que têm a dizer os dois diretores citados na matéria. Eles precisam explicar de forma clara quais eram os objetivos dessas reuniões e mesmo confirmar ou não a realização delas. Não podemos cometer o erro de julgá-los sem que lhes seja garantido o direito de se defender. Quanto a tentar atribuir ao presidente do Banco Central uma uma suposta culpa com relação a atos supostamente praticados por dois diretores é algo que considero precipitado e descabido.

Vitoriosa, UE chega aos 50 anos desunida
União foi bem-sucedida em seus projetos de abertura e unidade econômica.Crescimento acelerado trouxe problemas de desigualdade e crise de identidade.

FABIO SCHIVARTCHE E DANIEL BUARQUE

GLOBO
Uma megabalada com cem DJs de 27 países diferentes vai balançar Berlim na madrugada de sábado para domingo, quando a União Européia comemora seu aniversário de 50 anos. Estarão por lá católicos espanhóis, imigrantes muçulmanos, protestantes ingleses, descendentes do bloco comunista com sangue russo nas veias e migrantes ilegais africanos que cruzaram o Mediterrâneo para chegar à Itália -milhares de jovens formando uma salada de credos, cores e línguas diversas.
Analistas políticos ouvidos pelo G1 são unânimes em afirmar a importância de se comemorar este aniversário de 50 anos, período no qual o grupo de países se consolidou como um dos mais importantes atores da política e economia mundial.
Mas por trás dessa história de sucesso e desse congraçamento cultural celebrado com os DJs na Alemanha pulsa uma Europa muito desigual e dividida em questões vitais para o futuro da UE.
Clique aqui para ver infográfico com a história da União Européia.
Clique aqui para ver vídeos históricos da TV Globo sobre a União Européia.A conceituada revista "The Economist" resumiu os problemas a três tópicos principais: o fracasso da Constituição Européia, reprovada em referendos populares na França e na Holanda; o desencanto popular nos países que fazem parte do grupo (44% dos cidadãos europeus acham que a vida piorou desde a entrada de seus respectivos países na EU, aponta pesquisa do jornal britânico "Financial Times"); e o fraco desempenho econômico dos países do grupo nos últimos anos.
Há ainda outros problemas importantes a resolver, como a entrada da Turquia no bloco, a crise que se estabeleceu com a Rússia após os Estados Unidos negociarem a instalação de bases militares na Polônia e na República Tcheca, a falta de empregos e a maciça onda de imigrantes africanos chegando ao velho continente. Até mesmo a guerra no Iraque divide os países -entre o grupo que apóia os EUA (liderado pela Grã-Bretanha de Tony Blair) e os que não queriam a invasão do país árabe, respaldados pela ONU.
Essas questões levaram a declarações pessimistas sobre o futuro do bloco. Em 2005 o primeiro-ministro de Luxemburgo, Claude Juncker, chegou a dizer que a UE vivia uma “crise profunda”. E o francês Jacques Delors, presidente da Comissão Européia entre 1985 e 1995, alertou para um possível "desmembramento" do bloco.
Eles se referiam a problemas que se agravaram com mudanças profundas ocorridas nos últimos anos: a adoção de uma moeda única e a adesão de novos países, levando os seis originais de 50 anos atrás aos atuais 27.
“Até poucos anos atrás havia uma homogeneidade marcante na União Européia. Foi o último crescimento do grupo que mudou essa situação, com novos países-membros que têm uma memória histórica muito diferente dos últimos 50 anos”, explicou em entrevista ao G1 Antonio Missiroli, chefe dos analistas políticos do European Policy Centre, centro belga de estudos da União Européia.
“A opinião pública não teve tempo de digerir o salto de 15 para os atuais 27 países da UE”, concorda o historiador brasileiro Luiz Felipe de Alencastro, professor da universidade Sorbonne, em Paris, de onde falou ao G1.
Faz menos de três anos que dez países entraram em bloco na União européia, em maio de 2004, elevando o número de membros para 25. No início deste ano, Bulgária e Romênia aumentaram o número para 27. “Alguns desses novos países são muito desiguais”, disse Alencastro. “A Bulgária, por exemplo, é um país muito pobre, e vai precisar de muito investimento da UE para se desenvolver e chegar ao nível dos outros países. É por isso que a UE parece desunida.”
A Bulgária, por exemplo, tem um PIB (Produto Interno Bruto) per capita de 7.500 euros. Já a Alemanha, um dos países mais ricos da UE, tem um PIB per capita de 25.700 euros. Veja abaixo um mapa comparativo entre os países membros da União Européia.

Constituição
Discutida originalmente em 2004 no mesmo local onde foi selado o Tratado de Roma, a Constituição Européia pretendia aprimorar o funcionamento das instituições da UE e diminuir a distância entre ela e a população dos países-membros. A população da França, entretanto, um dos países comumente citados como “locomotiva” da União Européia, rejeitou o projeto, criando um impasse político.
“O ‘não’ à Constituição foi uma conseqüência dessa aceleração na integração de países”, acredita Alencastro. “O grupo deixou de ser formado por 6 países falando francês em cima de uma mesa, cresceu demais e não conseguiu dar conta de imediato, mas a perspectiva é de aprimoramento nessa integração.”
Para Michael Calingaert, analista político do Instituto Brookings, nos Estados Unidos, a entrada desses países trouxe problemas além da questão econômica. "Trouxe percepções e idéias diferentes do que é a UE e qual sua função", disse ele em entrevista ao G1. "Agora, são 27 países discutindo tudo isso, e o processo de tomada de decisões passa a ser mais lento”,afirma. Segundo ele, é difícil imaginar como vai funcionar a união dos países a partir da rejeição da Constituição. A questão, diz, é que 50 anos é muito pouco tempo para a consolidação de uma união de países sem precedentes na história. “A União Européia é uma unidade política única e, desta forma, ambígua. Os Estados mantém soberania, mas são uma unidade em um grupo maior. Eles são unidos por estas estruturas políticas e por concordarem nessa união, mas sempre há uma tensão entre a base nacional e a continental, o que é normal e varia de tensão em cada momento.”
Para Missiroli, além de a rejeição da Constituição refletir a falta de sentimento de comunidade continental da população francesa e holandesa, ela também aumenta a desconfiança internacional no sucesso da UE. “O maior problema do ‘não’ à Constituição Européia foi que matou o que os franceses chamam de ‘finalité’. A UE se move por projetos. O projeto da Constituição seguiu o da unidade monetária, que deu certo, e o da expansão, que também deu certo. Agora, com a Constituição, houve uma crise de confiança, e se tornou mais difícil pensar novamente nessa questão, por haver outras prioridades no momento", diz Missiroli. Para ele, os próximos meses são cruciais na definição dos interesses comuns.
Conquistas
Para os analistas entrevistados pelo G1, os problemas enfrentados hoje pela UE não anulam as conquistas do bloco, que foram muito além das imaginadas em 1957, quando Bélgica, França, Alemanha Ocidental, Itália, Luxemburgo e Holanda assinaram o Tratado de Roma.
Naquela época, o mundo vivia a depressão pós-Segunda Guerra Mundial. As maiores economias européias ainda estavam se recuperando. As famílias ainda choravam seus parentes mortos. E o mundo começava a viver uma divisão ideológica e política que levaria anos depois à Guerra Fria, que dividiu o mundo em dois blocos -o capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o socialista, comandado pela então União Soviética.
"Há muito a comemorar. Quando o projeto foi criado, pretendia impedir que a Europa se desorganizasse depois da Segunda Guerra e se dividisse no confronto entre Estados Unidos e União Soviética. Era para impedir que a Europa se fragmentasse na bipolarização do mundo. E hoje a Europa é uma realidade, um importante elemento na política internacional” disse Alencastro. De fato, a Europa é hoje a segunda potência econômica mundial, atrás dos Estados Unidos. E o continente manteve até agora um sistema de bem-estar social invejado até pelos norte-americanos.
“Podemos dizer que é uma boa notícia que um continente que esteve em guerra por quase todo um século tenha conseguido se pacificar e expandir os benefícios dessa paz, prosperidade e democracia para parte da Europa, que sofreu nas décadas de pós-guerra. Essa expansão e melhoria na qualidade de vida é uma coisa única, que deve, sim, ser celebrada”, disse Missiroli. Além de conseguir juntar 500 milhões de pessoas sob uma mesma bandeira (a azul com estrelas amarelas) e fazer seus valores serem admirados através do planeta -muito mais do que os Estados Unidos-, a estabilidade serve como atração para que mais países do continente queiram aderir à EU, o que pode levar ao crescimento do bloco -e a novas polêmicas também.
Isso decorre do sucesso da experiência de países que aderiram ao grupo nas últimas décadas e tiveram uma melhora significativa em sua situação econômica e social, como a Espanha, Portugal e especialmente a Irlanda. “Pelo lado econômico, o crescimento foi espetacular. Claro que podemos dizer que muito disso poderia acontecer sem um mercado comum, mas podemos dizer com certeza que muito do desenvolvimento desses países se deu por causa da União Européia, e por isso ela é uma das duas maiores potências econômicas do planeta, juntamente com os EUA”, apontou Calingaert. Para Missiroli, o progresso dos novos membros da UE deve chegar muito rapidamente. "É só olharmos para o passado do grupo, a Irlanda, ou a Espanha, por exemplo. Os dois países entraram na União Européia muito pobres, bem abaixo do padrão de vida dos outros países, mas progrediram muito rapidamente, e hoje estão entre os mais ricos e com altas taxas de crescimento. Isso em relativamente pouco tempo. Não me surpreenderia se, em poucos anos, víssemos os tchecos, os poloneses e os eslovacos alcançando o padrão de vida da Europa Ocidental”, disse o analista.
Apesar do fraco desempenho econômico dos últimos anos, o futuro parece otimista para os europeus. Dias atrás o OECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) projetou um crescimento para este ano de 2,5% da economia para a zona do euro -contra 2% para os EUA. Para Missiroli, essa estabilização econômica vai ajudar a fortalecer entre a população o sentimento de grupo continental. “Quando isso acontecer, mesmo que continuem existindo diferenças culturais, o sentimento de comunidade vai ser muito grande, especialmente entre as gerações mais jovens.” “É possível pensar numa Europa no futuro como um Estado federal, elegendo um presidente por sufrágio universal, coisas que parecem disparates quando faladas assim, mas a moeda única também foi considerada disparate no passado”, disse Alencastro, também otimista sobre o futuro do bloco europeu.
Segundo Caliengaert, pensar num Estado único é exagero, mas sem dúvidas é possível ser otimista quanto ao fututo da União Européia. “Os franceses falam em ‘finalité’, mas acho que isso não existe. Nunca chegaremos a um ponto em que diremos que o desenvolvimento da aliança chegou ao fim. Não teremos um ‘Estados Unidos da Europa’, mas teremos uma evolução nos acordos grupais.”
CARLOS SARDENBERG
GLOBO

PARA ENTENDER O PIB

Comentando os novos números do PIB, hoje, o presidente Lula mandou ver: “O crescimento da economia, mesmo sem estar acompanhado do crescimento de investimento, se deve à extraordinária colocação de dinheiro nos programas sociais".
Não é a verdade inteira, mas é boa parte dela. E a parte principal.O PIB ficou maior e o ritmo de seu crescimento, no governo Lula, aumentou. Mas a metade desses ganhos deve-se ao crescimento do governo, nos impostos arrecadados e nos gastos.
Outra parte deve-se ao aumento do consumo das famílias, explicado especialmente pela distribuição de renda via governo (o Bolsa Família e outros programas, além do salário mínimo, pago pelo governo a mais de 17 milhões de pessoas, na forma de aposentadorias, pensões e outros benefícios).Ora, não há exemplo de país que tenha crescido de modo forte e sustentado com base só na expansão do consumo.
É preciso turbinar os investimentos no setor produtivo e na infra-estrutura, de modo a aumentar a riqueza nacional e a capacidade futura de gerar riqueza. Mas a mesma recontagem do PIB mostrou que os investimentos totais (públicos e privados) são menores do que se supunha e que o investimento do governo federal está em queda.
Conclusão rápida: o país está distribuindo, via transferências feitas pelo governo, uma renda já existente. E não está criando riqueza nova na velocidade necessária.
Não pode dar certo.
A China faz exatamente o inverso: mais investimento, menos consumo. Carlos Sardenberg comentários . Permalink

MAIS ACERCA DO O NOVO PIB
A melhor notícia está na redução da relação dívida pública líquida/PIB. Trata-se do mais importante – e mais acompanhado pelo mercado – indicador de solvência do país.
Essa relação estava em torno dos 50% do PIB, muito alta. Com os dados a serem conhecidos na semana que vem, relativos a 2006, é possível que tenha caído abaixo dos 45% já em dezembro último.
Para se ter uma idéia do tamanho dessa mudança: pelas contas antigas, somente se chegaria àquele número em 2010. Um ganho de quatro anos.
Mas, mesmo a 45%, ainda é muito alto.
Dos quatro principais países emergentes – Brasil, Rússia, China e Índia – apenas esta última tem indicador pior que o brasileiro (altíssimos 96,3%). Mas os juros reais que incidem sobre essa dívida são de 1% ao ano, contra os 8,5% do Brasil.
Para os países emergentes normais, digamos assim, sem crise atual ou que não estejam saído de crise profunda, como a Argentina, a relação dívida pública/PIB vai de 25% para baixo.
A redução dessa relação dívida/PIB se obtém pelo superávit primário, a economia que o governo faz em suas contas para o pagamento de juros.Para simplificar: quanto maior o pagamento de juros, maior a redução do endividamento. Logo, quanto maior o superávit primário, menor a dívida.A meta do governo para o superávit primário, fixada em lei, é de 4,25% do PIB, podendo cair a 3,75% caso o governo faça certos investimentos em infra-estrutura. Se o PIB é maior, claro que o superávit terá de ser maior.Mas o superávit só existe para reduzir a dívida. Se esta ficou menor, o superávit também pode ser menor. Só será maior se o governo quiser acelerar a redução da dívida – que é o que devia fazer.
Mas parece que o governo vai aproveitar para gastar mais. Carlos Sardenberg

308 PATRIOTAS, COM CHINAGLIA, ENTERRAM CPI DO APAGÃO AÉREO

O Portal G1 traz uma boa síntese de como o governo enterrou a CPI do Apagão Aéreo. Leiam. Depois retorno:
Por Leandro Colon:

Depois de duas semanas de disputa política, a base do governo venceu a oposição e aprovou na noite desta quarta-feira (21) no plenário da Câmara dos Deputados o recurso do PT que arquiva a instalação da CPI do Apagão Aéreo. Foram 308 votos a favor do recurso, 141 contrários e duas abstenções."Está anulado o ato de criação da CPI. A matéria vai ao arquivo", disse o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), ao proclamar o resultado.Os partidos de oposição (PSDB, PFL e PPS) têm agora como alternativa tentar criar uma CPI mista (com o Senado) ou torcer por uma resposta positiva do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o pedido de liminar que fizeram para garantir a criação da CPI na Câmara. A expectativa é que o STF se manifeste na semana que vem.
O recurso do PT foi aprovado em plenário depois que a base do governo venceu a resistência da oposição na tentativa de protelar a votação. Percebendo que dificilmente evitaria uma vitória do governo, a oposição aceitou um acordo e decidiu retirar os requerimentos que podiam levar a votação do recurso até a madrugada desta quinta-feira (22).Em troca, conseguiu a garantia de que a votação fosse "nominal", ou seja, com o registro de como cada deputado votou sobre o assunto. "Conseguimos, pelo menos, deixar a digital de como cada um votou", afirmou ACM Neto (PFL-BA), um dos que comandaram a ação da oposição nos últimos dias contra o recurso do PT.
"Não dá para aceitar a ditadura da minoria que quer transformar o Congresso Nacional numa delegacia de polícia", rebateu o vice-líder do governo, Henrique Fontana (PT-RS).
O resultado é mais um capítulo, ainda que não seja o final por causa do STF, da briga entre os partidos da base governista e PFL, PSDB e PPS pela CPI para investigar a crise no sistema aéreo do país.
PolêmicaA disputa começou no dia 8 de março, quando o presidente da Câmara anunciou a criação da CPI em plenário, mas aceitou um recurso do PT à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) contra sua instalação.A polêmica foi criada porque o PT pediu um efeito suspensivo que impedia a CPI até que a CCJ analisasse esse recurso. Naquele dia, a oposição criticou Chinaglia por ter colocado o efeito suspensivo em votação no plenário. Na avaliação dos partidos adversários do governo, o presidente da Câmara deveria instalar a CPI independentemente do recurso à CCJ.
Para a oposição, o efeito suspensivo jamais deveria ter sido votado, porque, ao ser aprovado pela maioria do plenário, acabou invertendo um princípio da CPI de ser um instrumento da minoria (são necessárias as assinaturas de, ao menos, um terço dos deputados para sua instalação).
Por isso, recorreu ao STF e, em protesto, iniciou um processo de obstrução das votações na Câmara para pressionar pela CPI. Já o Supremo deu até semana que vem para Chinaglia repassar informações sobre o que aconteceu na Câmara. Somente depois disso, tomará uma decisão.Na pressa para que o recurso do PT fosse aprovado pela Câmara antes da resposta do STF, a base governista agiu para aprová-lo na CCJ na terça-feira (20), depois de uma sessão tumultuada com bate-boca de todos os lados.Nesta quarta, com a ajuda de Chinaglia, que pôs o tema em votação sob protestos da oposição, foi a vez de o plenário concluí-la e enterrar a CPI até que o Supremo se manifeste.
O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), já tem pronta a resposta ao Supremo, que vai querer ouvi-lo sobre a decisão de ter posto para votar o efeito suspensivo. Dirá que foi regimental. Tudo indica que esta CPI está morta. Resta às oposições, se quiserem mesmo investigar o caso, tentar agora uma CPI Mista a partir do Senado. Parece-me muito difícil que Celso Mello, ministro do Supremo Tribunal Federal, decida contra manifestação tão expressiva da Câmara. A derrota das oposições foi numericamente muito convincente: 308 a 141. Está evidenciada também a diferença que faz um presidente da Casa alinhado com o governo.
E Chinaglia foi um ator convincente. Quando acolheu o requerimento da CPI, em 8 de março, o dirceuzista Luiz Sérgio (RJ), líder do PT na Câmara, numa questão de ordem, observou que o texto não especificava prazo de funcionamento. O presidente da Câmara e correligionário de Luiz Sérgio respondeu que isso não era necessário, já que ficava implícito que ela tinha 120 dias, com mais 60 de prorrogação, se necessário, conforme o Regimento. O líder petista também disse que faltava fato determinado. Chinaglia voltou a discordar. O outro insistiu e pediu que suas objeções fossem analisadas pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O presidente da Câmara, então, submeteu à questão de ordem ao plenário — precisava de pelo menos um terço de concordância. Conseguiu por votação simbólica.O resto vocês sabem. A CCJ detonou a CPI, concordou com os absurdos argumentos de Luiz Sérgio, o que foi agora referendado pelo plenário. De positivo, as oposições conseguiram que a votação fosse nominal, já que estava claro que iriam perder. Tão logo esteja disponível a lista de nomes, eu publico aqui. Creio que cada passageiro, em todos os aeroportos do país, devam tê-la mais ou menos à mão, para que possam sempre “rezar” os nomes dos 308 patriotas. O argumento de que falta fato determinado para a instalação da CPI, parece, é desmoralizado a cada dia.

MUNDO DO CONSUMO
MÍRIAM LEITÃO
GLOBO
O consumo, nos últimos anos, vem crescendo mais que o PIB. Esta semana, o novo cálculo do Produto Interno Bruto, mais preciso, indicou que o consumo é mais importante no produto do país do que se imaginava. Também esta semana, um levantamento amplo da Nielsen mostrou que o aumento do consumo dos 157 produtos que ela acompanha foi novamente maior que o PIB: cresceu 5,1%.
Os dados da Nielsen vêm contando uma história de ampliação do consumo desde o Plano Real. De 1994 para cá, o índice de consumo dos produtos que acompanha praticamente dobrou: cresceu 94%!. No último ano, 54% dos itens pesquisados tiveram uma venda maior, 34% ficaram estáveis e só 11% caíram. Em 2005, foram 64% os que melhoraram. Mas o recorde foi mesmo na virada da estabilização, em 1995, quando 95% dos itens melhoraram, e apenas 5% ficaram estáveis. Nenhum caiu.
- Com o fim da inflação, o cálculo é de que R$1 bilhão teriam entrado na economia naquele ano - comentou o diretor comercial da Nielsen, Arthur Bernardo Néto.
A Nielsen separa seus produtos em oito cestas de consumo. Em 2006, foram os perecíveis que mais cresceram em volume: 10,6%. Quem garantiu o número alto foram os iogurtes "funcionais", aliás, respeitando a tendência de que agora ninguém mais vai comer um alimento ou outro, e, sim, seus nutrientes. Por exemplo, não se comerá mais pão integral, mas "fibras". Os funcionais fizeram a categoria de iogurtes crescer 14%. Outra tendência: mesmo quando o mercado está mais parado, os produtos diferenciados vendem mais.
Em seis das oito cestas, houve queda de preço. Cada caso um caso, mas um ponto em comum foi a redução do tamanho das embalagens, ou mesmo a troca para embalagens mais baratas. O preço só subiu entre as bebidas alcoólicas e as não-alcoólicas. Ambas cresceram forte em volume também, em torno de 6%. Nas não-alcoólicas, o resultado foi garantido pelo suco pronto e pelas novas águas minerais com sabor.
De olho neste mercado com enorme potencial, a Coca-Cola anunciou esta semana a compra das operações da Matte Leão, empresa que cresceu 20% só no ano passado. Em 2005, a Coca começou a investir pesado em outras bebidas que não os refrigerantes. Em julho de 2005, compraram a Sucos Mais no Brasil, e, no fim de 2006, a matriz americana adquiriu a Sucos Del Valle, do México. Aqui, esperam a aprovação do Cade.
Namorávamos a Matte há alguns anos. Já estamos no segmento de chá gelado há algum tempo, mas, curiosamente, esse mercado não afeta em nada o do mate - diz Sandor Hagen, diretor de novas bebidas da Coca-Cola. A Coca-Cola ainda vê potencial de crescimento para os refrigerantes, mas enxerga um grande espaço para aumentar o consumo de outras bebidas, mais ligadas ao conceito de saúde. No caso do Matte, o que ainda falta é distribuição. Embora ele seja um ícone das praias cariocas, dificilmente é encontrado no estado vizinho, São Paulo.
Ainda que as "novas bebidas" da Coca-Cola tenham crescido o dobro dos refrigerantes, Hagen não acredita na migração de um produto para o outro. Ele acha que o consumo de outras bebidas prontas é uma tendência mundial que só agora chega ao Brasil. No Japão, conta, há anos que já se vende café pronto para o consumo. Aqui, vai ser difícil abrir mão do café quentinho na hora. Neste campo da migração dos produtos, os dados da Nielsen indicam que os sucos prontos e as bebidas à base de soja têm substituído os sucos concentrados. Enquanto os primeiros cresceram 5% e 16%, os conhecidos como "sucos de garrafa" caíram 6%. O curioso é que o suco de garrafa, com rendimento pelo menos cinco vezes maior, tem um preço nominal semelhante ao suco pronto e, mesmo assim, sua venda cai. Coisas do consumidor moderno, que pede praticidade ao extremo.
Apesar de os dados de crescimento do consumo do Brasil terem sido bons em 2006, eles foram considerados baixos na comparação com seus pares. Maiores apenas que os do México - país, segundo os especialistas, com características de consumo bastante semelhantes às nossas -, mas menores que os da Colômbia e da Argentina.
Até hoje, em 80% dos domicílios, é a mulher quem define o produto que será comprado. A Nielsen faz visitas quinzenais a 8.700 famílias no país para tentar entender melhor as decisões do consumidor e as diferenças regionais. - Percebemos que só a questão socioeconômica era insuficiente para entender o que acontecia no consumo - afirmou Mário Lynch, diretor de marketing da Nielsen.
Além disso, há uma outra questão: num país com tantas peculiaridades regionais como o Brasil, não se consegue imaginar que haverá um padrão de consumo único. O Nordeste, por exemplo, consome muito mais desodorante e quase 100% do rum, enquanto sopas prontas e chá são, devido ao calor, mais comuns no Sul. Na região, segundo os números da Nielsen, 82% dos domicílios têm máquina de lavar, contra 20% no Nordeste. Metade tem automóvel, contra 18% no Nordeste. O computador está em 24% dos lares no Sul e apenas em 8% do Nordeste, dados que combinam com os números divulgados ontem pelo IBGE. De acordo com esse mesmo levantamento do instituto, os celulares estão com presença forte em todo o país: 59,3% no total dos domicílios, 42,5% no Nordeste, 71,8% (a maior do país) no Sul e 64,4% no Sudeste.
Os computadores, cujas vendas aumentaram ano passado ajudando fortemente no crescimento registrado pela indústria, continuam bem em 2007, com a ampliação da isenção de impostos.
- Este ano será novamente dos computadores e, agora, também dos notebooks - comentou Jorge Tschorny, da Aiko, que faz computadores e celulares na Zona Franca. E que, este ano, deverá produzir cinco vezes mais computadores que em 2005.

CHÁVEZ FORMALIZA PARTIDO ÚNICO
Três grandes legendas da base de apoio do presidente, no entanto, ainda não se dissolveram apesar do ultimato
CARACAS. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, lança hoje o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), legenda que pretende fundir todos os partidos que dão sustentação a seu governo. A cerimônia de juramento será realizada no Teatro Caracas com os dois mil primeiros filiados, que passaram por um processo de seleção que vetou qualquer tipo de militância política anterior. Apesar da proposta de unificação, três partidos ainda não foram dissolvidos, o que pode gerar rupturas na base política do presidente. Os partidos Podemos (de centro-esquerda), Pátria para Todos (trabalhista) e Comunista da Venezuela, que em dezembro passado somaram 1,7 milhão de votos e reelegeram Chávez, foram intimados na semana passada pelo presidente a se somar ao PSUV ou passar para a oposição.
Espera-se que em 19 de abril - dia em que se comemora o início do movimento de independência da Venezuela - sejam juramentados mais 10 mil filiados, e o primeiro congresso do partido está marcado para 15 de agosto. - Na seleção dos promotores do novo partido foi considerado como requisito fundamental o fato do interessado de não ter tido qualquer atividade ou militância política prévia, para impedir a burocratização precoce do partido - disse o general Alberto Muller, membro da Comissão Assessora do PSUV e do Estado-Maior Presidencial. - Não queremos o estabelecimento de elites que dominem o movimento.
A estrutura de direção do PSUV dependerá dos porta-vozes, que devem ser eleitos pelas bases. Os três grandes partidos que sustentavam o governo dizem que a nova legenda não tem uma definição ideológica nem programática. O governo, no entanto, alega que sem ideologia é a antiga estrutura partidária.

Os partidos políticos acabaram virando maquinários eleitorais, para os quais o projeto político e a ética não eram objeto de estudo. O novo partido não foi formado para apoiar um governo e sim um projeto político. É indispensável para se chegar ao socialismo do século XXI - disse Muller. A proposta do PSUV foi lançada por Chávez logo após sua reeleição. Segundo o presidente, a mudança da estrutura partidária e "uma profunda reforma na Constituição de 1999" serão fundamentais em seu mandato. Diretores dos partidos pediram tempo a Chávez
Mas a dissolução das três grandes legendas que o apoiavam não dá sinais de que será fácil. Diretores dos partidos pediram um tempo, para que as decisões sejam tomadas em convenções.
Já o Movimento Quinta República (MVR), presidido pelo próprio Chávez e que nas eleições presidenciais passadas conseguiu 4,8 milhões de votos, aceitou ser dissolvido desde dezembro passado.
O MVR nunca foi propriamente um partido e sim um instrumento político a serviço do carisma do presidente e, sem ele, não poderia sobreviver - disse a historiadora Margarita López.
Para ela, apesar da relutância em sua base de apoio, uma porção significativa das forças de governo apoiará qualquer iniciativa tomada pelo presidente: - Eles estão unidos a esse projeto por um laço afetivo com o presidente, e confiam em seu julgamento.

DIRCEU TEM DIREITO A PEDIR ANISTIA, DIZ TOFFOLI

SILVANA DE FREITAS
da Folha de S.Paulo, em Brasília
O novo advogado-geral da União, ministro José Antonio Dias Toffoli, 39, defende o foro privilegiado para autoridades públicas e diz que o ex-deputado José Dirceu (PT), cassado 2005, tem o direito de pedir a sua anistia. Na Casa Civil, Dirceu foi chefe de Toffoli. Para ele, a decisão da Câmara será política, não técnica.
Ele disse que são "antagônicos" os motivos que levaram às cassações de Dirceu e de Roberto Jefferson, autor das acusações sobre o mensalão. O primeiro teria perdido o mandato por ser chefe do mensalão, e o segundo, por não ter comprovado a existência do esquema. Sobre o foro privilegiado, ele disse que o defende como advogado, desde 2002, e que não fala em nome do PT.
Natural de Marília, Toffoli é formado em direito pela USP. Nos últimos 13 anos, trabalhou como assessor jurídico ou advogado do PT. Foi o defensor do presidente Lula nas três últimas campanhas eleitorais.
FOLHA - O sr. atuou principalmente na advocacia privada antes de assumir a AGU. Como separar a atividade privada da pública?
JOSÉ ANTONIO TOFFOLI - Não é a primeira vez que um advogado da iniciativa privada ocupa esse cargo. Não há nenhuma excepcionalidade nisso.Eu saí do escritório [de advocacia], me desliguei da sociedade. Agora sou um servidor público.
FOLHA - O seu estilo de trabalho será diferente? O sr. pretende participar mais das discussões políticas de projetos polêmicos?
TOFFOLI - O ministro Álvaro Augusto Ribeiro Costa [seu antecessor] deixou a casa bastante em ordem. Meu estilo é diferente. Sem descuidar das questões do advogado-geral, vou procurar mostrar mais o que é a advocacia pública e ter um trabalho de acompanhamento das questões gerais do governo. FOLHA - O sr. trabalhou na Casa Civil. É amigo de José Dirceu?
TOFFOLI - Sou, mas não posso dizer que tenho com ele a mesma relação que tenho com o [Arlindo] Chinaglia [de quem foi assessor]. Com Dirceu, trabalhei diretamente pela primeira vez na Casa Civil. O contato profissional anterior tinha sido como advogado do PT.
FOLHA - O sr. estava na Casa Civil quando surgiu o escândalo do mensalão. Qual é a avaliação que você faz da denúncia criminal do procurador-geral da República? TOFFOLI - Não analisei a denúncia, não posso me manifestar sobre algo que não conheço.
FOLHA - A denúncia afirma é que o mensalão era negociado dentro da Casa Civil e que Dirceu era chefe de uma organização criminosa.
TOFFOLI - Enquanto estive na Casa Civil nunca ouvi falar em mensalão. Não posso falar sobre o que desconheço, o que não vi, o que não sei e que nem mesmo sei se existe. O curioso é que o Roberto Jefferson foi cassado por não ter comprovado o mensalão, e Dirceu, por ser chefe do mensalão. São dois relatórios, submetidos ao mesmo plenário, com situações absolutamente antagônicas.
FOLHA - Nesse sentido, seria correta a anistia do José Dirceu?
TOFFOLI - Requerer a anistia é um direito político de qualquer pessoa condenada. A anistia é um instituto previsto na Constituição. O Congresso é que vai decidir se o José Dirceu ou qualquer pessoa que tenha sido condenada, em qualquer situação, pode ou não ser anistiada.
FOLHA - O sr. acha que a Câmara deveria conceder a anistia?
TOFFOLI - Essa não é uma questão técnica, é política, assim como a cassação de parlamentar.
FOLHA - Há uma grande polêmica em torno do foro privilegiado. Qual é a sua opinião sobre o tema?
TOFFOLI - Primeiro, quando se fala em foro privilegiado, se usa uma terminologia que não é adequada. O correto é prerrogativa de foro em razão da função. Segundo, confunde-se foro privilegiado com impunidade, com impossibilidade de investigação, que é outra inverdade.
FOLHA - O STF nunca condenou nenhum deputado, senador ou ministro. O foro privilegiado parece não facilitar a punição. Em alguns casos, não há absolvição, mas a prescrição por demora no julgamento.
TOFFOLI - A existência do foro não impede a investigação, não impede que haja uma ação penal contra a autoridade. Ela até dificulta a defesa, porque não permite que o advogado faça o que no linguajar popular é conhecido como chicana. Quando o julgamento é em uma instância definitiva, a possibilidade de prescrição é muito menor. Além disso, a absolvição não quer dizer impunidade.
FOLHA - O sr. concorda com a não-aplicação da Lei de Improbidade aos agentes políticos?
TOFFOLI - Em novembro de 2002, acompanhei atentamente o voto do ministro Nelson Jobim nesse caso, da ação de improbidade contra o ex-ministro Ronaldo Sardenberg. Eu concordo com a posição do ministro Jobim, desde aquele momento. Não é porque eu agora estou na AGU, que faz a defesa do Sardenberg.
O voto dele foi o seguinte: a Lei de Improbidade tem uma sanção que é a perda de cargo. Como o STF já decidiu reiteradamente que impeachment, destituição de mandato por crime de responsabilidade, é de natureza penal, então esse tipo de ação só pode ser proposta no foro da função aquela autoridade. Não quer dizer que não possa ser proposta e que o Ministério Público esteja sendo atado