quinta-feira, 5 de abril de 2007

OS COMENTÁRIOS DOS ESPECIALISTAS EM 5 DE ABRIL

Míriam Leitão
O Globo
O novo investidor
A Bovespa comemorou ontem o recorde de participação do home broker - o investidor que, do seu computador, negocia ações na bolsa. Ele representa 7,57% do total, são R$10,5 bilhões no volume mensal. O que aconteceu com a bolsa brasileira entre 1994 e 2007 é impressionante: o volume diário negociado simplesmente aumentou 14 vezes. Hoje será feito o 12º IPO deste ano. Num mercado assim, manobras e informação privilegiada devem ser combatidas rigorosamente para que não se perca a credibilidade.
O lançamento de ações tem trazido de volta muitas empresas - dos mais variados setores - à bolsa. No ano passado, foram 26 IPOs. Este ano, mal começou abril, e já é quase metade de 2006.
Mesmo com esse retorno, o número de empresas listadas é hoje ainda bem menor que as 582 de 1994. A explicação está nos vários processos de fusão e incorporação dos últimos anos e também no próprio fato de muitas empresas terem decidido sair desse mercado. Como agora há espaço para captar, as empresas estão chegando novamente. São hoje 405.
De 2003 para cá, o Ibovespa, índice que é sempre o mais comentado, dobrou em reais e triplicou em dólares, o que já é um bom indício, mas cresceu muito também o volume médio diário de negócios da bolsa brasileira. Em 2003, ano de ressaca, é bem verdade, depois da crise de confiança de 2002, a média diária em reais foi de 818 milhões. A partir daí, cresceu 50% em 2004, 32% em 2005, mais 50% em 2006 e agora outros 46%. Resultado: o volume diário quadruplicou; está em R$3,5 bilhões. Em dólar, entre 2003 e 2007, ficou 6 vezes maior.
Quem vem puxando - e sustentando - este crescimento do investimento na Bovespa são os estrangeiros. A liquidez internacional ainda está muito alta, e eles acabaram buscando mercados diferenciados para manter o retorno de seus investimentos nestes anos que foram de juros baixos nas grandes economias. Têm investido pesado no país e aumentado sua presença. Desde 2005, são o grupo com maior participação nos investimentos, atualmente 34%. Depois deles, vêm os institucionais; seguidos dos pessoa física, com 25%. Ainda que a parcela dos pessoa física não tenha mudado muito desde 2000, o número absoluto é bem maior hoje, muito devido aos tais home brokers.
A Ágora foi pioneira neste mercado, no qual está desde 2001. Hoje operam através de seu site - que tem até uma espécie de canal de televisão com informações para os investidores - 35 mil pessoas mensalmente de todos os estados do país, com crescimento mensal de 20%. Por operação, cada investidor paga R$20. Por dia, tem gente que chega a efetuar 40 operações.
- É engraçado porque, para alguns, operar virou uma espécie de game. Vejo uma grande diferença no investidor hoje: ele não quer só uma dica de em qual empresa investir, ele quer ver balanço, gráfico, quer informações sobre o setor - conta Álvaro Bandeira, da Ágora, que conhece bem o mercado financeiro.
Esse novo investidor traz mais trabalho para a CVM. Atualmente, investir não é mais exclusividade de um grupo restrito: disseminou-se. Nas últimas semanas, duas aquisições que movimentaram o mercado - a compra da Ipiranga, por Ultra, Petrobras e Braskem, e a da Varig, pela Gol - chegaram ao conhecimento dos investidores sem que fosse através de comunicado da própria empresa. Quando sai pela imprensa, a informação está sendo divulgada para todos, mas quando só um grupo de espertinhos faz seu jogo na calada da informação, a punição tem que ser exemplar.
No momento, ambos os casos estão sendo apurados pela comissão, ainda sem data para respostas. A CVM está de olho tanto na responsabilidade das diretorias de relações com investidores, como na movimentação financeira. No caso da Gol, ainda não se identificou que algum investidor específico tenha se beneficiado. Se a punição não for rápida e pesada, o investidor menor, que foi trazido para a bolsa recentemente, pode ficar arisco. E essa é a hora de transformar a bolsa numa forma de capitalizar a empresa e democratizar o capital; a hora em que os juros estão caindo. Os deslizes agora não são mais toleráveis como já foram no passado.



Merval Pereira
O Globo
Ora, ora

O presidente Lula continua errático na relação com os controladores de vôo, assumindo sempre mais uma postura de líder sindical nas negociações, para ganhar tempo e manter sempre uma porta aberta para recuos ou avanços estratégicos, do que como presidente da República, que precisa ditar um rumo e os limites das negociações. Lula ora ameaça com prisão quem se amotinar novamente, ora diz que não é preciso prender ninguém. Em contrapartida, os controladores assumem seu papel do outro lado, ora deixando vazar que podem voltar a fazer greve, ora afirmando que na Páscoa não haverá problemas nos aeroportos.
A situação do ministro da Defesa, Waldir Pires, também oscila de acordo com as conveniências políticas. Ora Lula deixa escapar, em conversas com políticos aliados, que está procurando um substituto, ora diz de voz própria que não está pensando em mudar o ministro, ainda mais ontem, que recebeu o senador Antonio Carlos Magalhães, cujo grupo político Waldir Pires um dia derrotou na Bahia e a quem, pela mesma inapetência que demonstra no ministério, devolveu o poder pouco tempo depois.
Um dos pontos que mais evidencia o quanto assunto tão estratégico está sendo tratado de maneira apressada é a desmilitarização do controle do tráfego aéreo. Depois de anunciar a decisão de iniciar o processo foi que o governo descobriu que esse é um movimento que só pode ser feito muito paulatinamente, que exige um investimento em equipamentos que não está orçado, e que, segundo os especialistas, leva em média sete anos para ser concluído com êxito.
Lembrei então de uma reunião do Clube de Madri, que reúne ex-dirigentes mundiais comprometidos com a defesa da democracia, onde foi discutida a questão da segurança nas democracias modernas, incluindo aí as diversas agências de informação, as Forças Armadas e a polícia. Os especialistas reunidos na ocasião, coordenados pelo professor Alfred Stepan, da Universidade de Columbia, em Nova York, definiram a maneira como os governos lidam com os setores de segurança como uma das ameaças à democracia em nossos tempos.
Stepan, um brasilianista pioneiro que estudou os militares no período em que estiveram no poder no Brasil, disse na ocasião que há alguns anos achava-se que simplesmente colocando-se um civil à frente de um Ministério da Defesa a questão militar nas democracias estaria resolvida. Experiências malsucedidas mostraram que é preciso ir além, e democratizar a atividade desses setores. A questão é tão complexa que os especialistas sugeriam que a reforma do sistema de segurança fosse feita simultaneamente, garantindo que as questões sejam enfrentadas de maneira sistêmica.
Era recomendada uma coordenação entre as diversas agências, para dar à troca de informações maior agilidade, tanto nos conflitos internos quanto nas ameaças externas, como o terrorismo e o tráfico de drogas. Nessa visão ideal, burocratas civis têm que ter o controle do poder nas questões de segurança, e o Ministério da Defesa tem que ter civis na sua administração em todos os níveis, assim como civis devem controlar a gestão na polícia e nos serviços de inteligência.
Também o orçamento para todos os fins militares deveria ser transparente, e aprovado pelo Congresso, não podendo haver verbas secretas, nem cláusulas a que os parlamentares não tenham acesso. Os papéis, comandos e responsabilidades teriam que ser definidos na Constituição, para não dar margem a interpretações pessoais.
A reunião foi realizada no final de 2004, quando o ministro da Defesa, o diplomata José Viegas, se demitiu, depois de um confronto com o chefe do Exército, general Francisco Albuquerque. Hoje, Viegas é embaixador na Espanha, e o general Albuquerque foi nomeado para o conselho da Petrobras.
A escolha do vice-presidente José de Alencar para acumular o cargo de ministro da Defesa foi considerada pelos especialistas em segurança um agrado do governo Lula aos militares, diante da evidente resistência dos militares a um comando civil. Os militares com isso se considerariam tratados como se tivessem uma situação acima das demais áreas do governo.
O vice-presidente, um empresário nacionalista, também era visto como o ideal para negociar com o governo investimentos para reequipamento das Forças Armadas, mas teve uma passagem apagada pelo ministério e acabou forçando a nomeação de um outro ministro, sendo substituído pelo atual, Waldir Pires.
A cada crise envolvendo o ministro da Defesa e as áreas militares, fica mais acentuada a certeza de que, apesar da importância política da decisão, o projeto de passar as Forças Armadas para o controle civil não foi executado plenamente até hoje, com as estruturas militares permanecendo no controle dos postos-chaves das três Forças, como no caso dos controladores de vôo.
E o governo continua não tendo um projeto para a efetiva implantação do Ministério da Defesa. Repetindo o erro inicial do governo Fernando Henrique de nomear um político para a função, o presidente Lula está permitindo que os militares continuem ditando o ritmo da transição, que não se completa nunca. E que regride a cada crise como a do apagão aéreo. A desmilitarização dos setores de segurança não pode ser vista como uma represália, mas como um avanço institucional do país.

Jânio de Freitas
Folha de S. Paulo
Sem ilusão
Não há como esperar alguma coisa respeitável com o sistema de terror instaurado em setores do controle aéreo
DESDE A reunião dos chamados comandantes, na verdade ministros, do Exército, da Aeronáutica e da Marinha com Lula, na terça-feira, é aconselhável poupar-se de afirmações do gênero "o regime civil e democrático está consolidado". Se algo restou dessa ilusão, em favor da qual nem as aparências Lula pôde preservar, estará no Judiciário, pode ser que se mostre no Congresso, mas no Executivo não está. A reunião não marcou apenas mais uma ruptura de Lula com sua palavra e seu compromisso, para não falarmos de honra, dever e autoridade, mas também outras rupturas.Lembremos que as reuniões agendadas para terça-feira, com a temática da crise, eram duas. A primeira, citada mais de uma vez no acordo com os insubordinados assinado, por ordem de Lula, pelo ministro Paulo Bernardo, para negociação com os controladores. Não havia menção oficial ou oficiosa à presença de Lula. A outra, convocada para o Planalto, reuniria Lula com os ministros Dilma Rousseff, Waldir Pires e Paulo Bernardo e o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito. Mas, ficou narrado aqui, "a meio do dia [segunda-feira], chamados para conversar com Lula passaram a ser os comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica". Agora se sabe que a narrativa mais precisa exclui o chamado presidencial, como iniciativa para a reunião.
Uma das poucas atitudes corretas de Lula nessa historiada, que se arrasta por meio ano, tinha sido não dar margem ao envolvimento de Exército e Marinha na crise. A tradição impôs-se: o poder se divide entre os que precisam e os que não precisam ser chamados para reuniões. Até aquela altura, os assuntos discutidos nas redondezas da Presidência, para exame com Lula na reunião programada (a não realizada), eram maneiras de atenuar o acordo com os controladores de vôo, por protelações, meias palavras e formas de desagravar a Aeronáutica na medida possível. Sem, no entanto, renegar a substância do acordo, tanto que era considerada uma medida provisória referente, embora sem maior precisão, a providências para desmilitarizar o controle aéreo
Assim estava o quadro, na face civil do governo, quando começou a reunião de Lula com os comandantes militares. Ao terminar, o acordo com os controladores não valia mais nada, a desmilitarização estava entregue aos militares que não a querem, e o comando da Aeronáutica voltava a ficar senhor único de todas as questões eclodidas desde a derrubada do avião da Gol pelo Legacy
Alguma dúvida sobre o teor da reunião? Ou sobre a atitude de Lula? Então, passemos a dois efeitos factuais, entre os muitos efeitos, do cenário criado pela reunião. "Aeronáutica retoma controle do tráfego aéreo no país", disse um título da Folha de terça-feira. Retoma, porque a oficialidade do controle abandonou o serviço, que ficou sem coordenação, direção e apoios de sábado até o decorrer do expediente de terça-feira, algumas horas depois da reunião dos comandantes com Lula. Enquanto milhares de pessoas, a bordo de cerca de 500 vôos por dia, tinham suas vidas pendentes da segurança no tráfego aéreo. Mas, como também indica a tradição, há abandono de serviço e abandono de serviço, mesmo que ambos abalem a segurança pública ou a segurança nacional.
Em vários dos setores do controle aéreo instaurou-se, e prevalece, um sistema de terror. Ameaças constantes de prisão e algemas, presença da polícia da Aeronáutica nas salas de controle, vigilância até para ir ao banheiro. E, como já ocorria e foi uma das causas da insubordinação, controle individual de número de aeronaves além não só das regras, mas da segurança aérea. Não há como esperar que disso tudo saia alguma coisa respeitável.


Informe JB
Jornal do Brasil
Lula é quem faz a festa no PMDB
O presidente Lula confirmou presença na residência oficial da presidência do Senado, próxima quarta-feira, quando Renan Calheiros receberá cerca de 170 peemedebistas para um jantar.
Trata-se da festança oficial de pacificação do PMDB. Estão convidados todos os 100 deputados, 20 senadores, sete governadores, cinco ministros, dois prefeitos de capital e 27 presidentes de diretórios regionais, entre outras figuras com alguma expressão no partido, como os ex-presidentes da legenda Paes de Andrade (CE) e Maguito Vilela (GO).
Uma festança para ninguém botar defeito, cujos convites começaram a ser distribuídos ontem. Renan, como anfitrião, assinou, e Michel Temer, como presidente do partido, mandou imprimir e pagar os convites. Além disso, pagará o jantar.
Não só para não serem acusados de uso da máquina pública do Senado mas também como simbologia de que os dois - que tanto brigaram na última convenção nacional do partido e na indicação dos ministros durante a reforma ministerial - agora estão em paz.
Bem, podem não estar morrendo de amores um pelo outro. Até porque, nos bastidores, a bancada do Senado e a bancada da Câmara estão disputando, palmo a palmo, o butim dos cargos de segundo escalão. Mas pelo menos resolveram parar de brigar publicamente, depois que o presidente Lula decidiu incorporar ao governo ambas as alas do partido.
Um deputado ou outro haverá de estrilar aqui ou ali, por um carguinho que perdeu ou que deixou de receber. Ou por causa de uma emenda ao Orçamento ainda não liberada. Mas a grande maioria deles estará lá, na festança da quarta-feira, posando para a foto ao lado do presidente da República, do poder.
E, sobretudo, na festança governista que Lula pretende promover nos painéis de votação do Congresso daqui para a frente.
Luta por cargos
A coluna procurou o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e fez a seguinte pergunta:
- Com os deputados reivindicando espaço igual aos dos senadores no governo, isso dobraria o número de cargos de segundo escalão para o PMDB. Será que Lula cede?
Resposta: - Só estou preocupado em defender o espaço dos deputados do PMDB. Essa é a minha função.
Ou vão acabar tirando espaço dos senadores?
Não estou olhando para o Senado. Só me preocupa o espaço para os deputados.
Comissão julgadora
Está marcada a primeira reunião dos juízes dos cargos. A comissão encarregada por Lula de discutir a distribuição do segundo escalão marcou reuniões para segunda-feira e terça-feira. Não só para trata dos cargos de segundo escalão que caberão ao PMDB, mas a todos os partidos da base. Vão chamar os presidentes e líderes aliados para discutir a lista de pretensões de cada bancada, fazer os cruzamentos e decidir quem fica com o quê.
Transpetro calma
O ex-senador Sérgio Machado (PMDB-CE) deve continuar no comando da Transpetro. Deputados e senadores do partido comunicaram ao Palácio do Planalto que não há briga interna no PMDB pelo cargo. As pressões do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), para tirar Sérgio Machado foram provocadas por um pedido do PT cearense. Lula mandou avisar que dia 11 estará no Rio para solenidade de assinatura de encomenda de navios. Uma forma de mostrar que não pretende substituir Machado.
Porteira aberta
O peemedebista Reinhold Stephanes recebeu a pasta da Agricultura já informado de que terá que manter o presidente da Embrapa e aceitar indicados de Blairo Maggi (PR) para secretário de Defesa Sanitária e presidente da Conab.
Esse Zé Dirceu...
Olha a pérola que o Zé Dirceu postou no seu blog: "O secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda anda dizendo que o governo não vai gastar mais. Investir, ele quer dizer. Mesmo que arrecade mais. Não sei em que país vive o senhor Nelson Barbosa. E a qual governo ele serve. Será que ele não está vendo a falta de recursos para modernizar o controle aéreo do país? Não está vendo a falta de recursos para os índios, o meio ambiente, a Justiça e o sistema penitenciário? Assim não dá". Dirceu acaba de comprar mais uma briga feia. Nelson Barbosa participou da montagem do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e coordenou a parte econômica da campanha pela reeleição de Lula.
Que contas?
Sabe aquelas prestações de contas anuais de todo presidente da República? Elas vão para o tribunal de Contas, que as aprova ou rejeita. Ou aprova com ressalvas. É o caso das contas do governo Lula e do último ano de Fernando henrique Cardoso. Todas, desde 2002 até agora, aprovadas com ressalvas. Mas o mais curioso: nenhuma delas foi votada pelo Congresso . Estão paradas lá. Mais: Junto com as contas do governo Fernando Collor e um pedacinho da administração Itamar. 1990, 1991 e 1992. Nunca votadas!
Em cima da Funasa
Ontem, o plenário do Tribunal de Contas da União impugnou licitação para contratação de transporte aéreo no Amazonas pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa). O órgão acaba de perder seu presidente, o peemedebista Paulo Lustosa. Mas o sucessor confirmado, Danilo Fortes, sempre foi o homem-forte do PMDB por lá.
Abin chama MST
Em palestra na ESG, o superintendente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) em Roraima, Gelio Fregapani, pediu que o MST ocupe o Estado. Para evitar que, vazio, o território brasileiro nas lonjuras amazômicas seja tomado por estrangeiros.



Eliane Cantanhede
FOLHA DE SP
Pôquer
Todos avaliam as próprias forças, enquanto blefam com os adversários. Os líderes dos controladores alardeiam que não estão nem aí para os seus empregos e para os IPMs (inquéritos policiais militares). O Planalto e a Aeronáutica juram que têm um "plano B" para a hipótese de nova greve. Há controvérsias nos dois casos, porém.
No dos controladores, o mapeamento do motim de sexta-feira mostra: a minoria que estava de plantão foi quem parou, e a maioria dos que estavam de folga preza muito, sim, seus empregos. Até porque eles sabem que, condenados, não só estarão sujeitos a penas de 4 a 8 anos de prisão como não poderão jamais ter outro emprego público, a não ser com anistia.No caso do Planalto e da Aeronáutica: nem mesmo as cúpulas das Forças Armadas têm certeza de que o "plano B" é consistente e capaz de manter os aviões voando, porque tudo depende do número de controladores que vierem a aderir a uma nova greve. O mapeamento da Aeronáutica é com base em hipóteses, não em pesquisa direta nem em ação objetiva. Ou seja: a questão, além de política e grave, está num estágio de avaliação quase aritmético. Se os controladores militares conseguirem a adesão de 10%, o tal plano do governo tem boas chances de funcionar, com "prejuízo dos usuários, mas não o caos do dia 30", como dizem oficiais da Aeronáutica. Mas, caso a adesão chegue a 30% ou 40%, não haverá contingente suficiente para cobrir a lacuna, mesmo com os da reserva e os de defesa militar.
Se os dois lados não sabem e estão num jogo de pôquer, com seus trunfos, ciladas e blefes, imagine se você vai saber? Não, não vai. Nós e eles todos só vamos realmente saber quando, e se, estourar o novo apagão. Até lá, boa Páscoa e boa viagem! Sem ironia.
Só faltava o ACM na base aliada do Lula. Não falta mais.

Dora Kramer
ESTADO DE SP
Estaca zero
O governo diz que tem um plano B para se prevenir de novas investidas por parte dos controladores de vôo, mas, como gosta de dizer o presidente Luiz Inácio da Silva, “o dado concreto” é que não há solução à vista para a crise aérea.Por enquanto, o que se tem é apenas a promessa dos controladores de uma trégua no feriado desta semana. Greve explícita como a de sexta-feira, os sargentos também não têm mais moral nem força para fazer. Neste aspecto, o presidente da República fez o que deveria ser feito: repôs as coisas no lugar, recompôs a autoridade militar e parece ter entendido que o ato de governar pressupõe antes de tudo o respeito à lei. Até então, tal evidência não estava muito presente na mente de Lula como informa, por exemplo, a naturalidade com que ele aceita a sistemática e impune quebra da legalidade dos movimentos dos sem-terra.A salutar enquadrada dos comandos militares, sem politização da questão nem contestação à instituição Presidência da República, garantiu o ordenamento legal e, a despeito do estoque de insatisfações nas Forças Armadas, debelou o ambiente de crise aguda. Mas, daí a falar em normalidade do sistema de tráfego aéreo vai uma distância enorme. Não há tumulto, mas a situação é a mesma de quinta-feira passada. Antes do motim, havia apreensão, desinformação e incertezas. Este quadro por ora não foi alterado. A estaca voltou ao zero.
As questões que resultaram na série de sabotagens sistemáticas aos pousos e decolagens de aviões continuam em aberto. Se não há negociação possível - e não há, porque comandante militar não negocia com subordinado -, é de se perguntar o que exatamente o poder público pensa em fazer para evitar a repetição das ocorrências que marcaram os últimos seis meses de caos nos aeroportos.
A cobrança pela explicitação da solução - ou pelo menos de um plano de ação - não traduz uma posição de retrovisor. Que o governo errou, e errou feio ao menosprezar os efeitos de uma crise achando que o que não concerne aos mais pobres não é problema do governo Lula, até os aliados do presidente reconhecem.
A responsabilidade pelo passivo de inépcia está estabelecida, agora é olhar para a frente.
Mas olhar adiante não implica desconsiderar a realidade. Esta não autoriza minimamente a tranqüilidade dos passageiros, seja no que tange a horários de partidas e chegadas, seja em relação à segurança dos vôos.
A confiabilidade do sistema está solapada e nada, além de discursos e garantias de oratória, foi dito ou demonstrado para se pensar em recuperação.
Ao contrário: do passado, é preciso levar em conta as repetidas vezes em que o governo se disse no controle da situação. E do presente, a frase em portunhol de Mussum -“se quedem tranquilis” - mostra o mais triste: Lula continua fazendo piada com o infortúnio alheio.
De traições
O conceito de traição pressupõe o pré-requisito da confiança. Neste aspecto, os controladores de vôo têm mais razões que o presidente Lula para se considerarem traídos, pois firmaram um acordo avalizado por Lula e, ao presidente, jamais empenharam palavra alguma sobre suas intenções.
Há meses vinham sabotando a rotina dos vôos para deixar patente a crescente insatisfação.
Se é verdade, como se alega, que o governo o tempo todo tinha perfeita noção de suas ações, não desautorizou a Aeronáutica e seguiu um roteiro previamente estabelecido, aí incluído o recuo posterior, o acordo nunca foi para valer.
Se o objetivo era ganhar tempo, os negociadores de sexta-feira embromaram seus interlocutores de negociação. Pode até valer como tática para transpor o obstáculo na emergência, mas não vale como recíproca de confiança.
“Modus operandi”
Na próxima terça-feira, dia 10, sai uma pesquisa CNT/Sensus com o registro da opinião do público sobre a crise aérea.
Caso não sejam constatadas alterações na popularidade do presidente Lula, não faltará no governo quem diga que a repercussão negativa foi obra de preconceito e que, mais uma vez, a imprensa “perdeu”.
Se, ao contrário, os índices de aceitação tiverem oscilado para baixo, aí sim, o brasileiro pode nutrir esperanças de que o presidente, finalmente, levará o assunto a sério e agirá.
No sentido de providenciar a recuperação da popularidade que, à falta de credibilidade de desempenho e de confiabilidade ética e administrativa da coalizão partidária, sustenta o governo.
À galega
A alegação do presidente de que precisa “construir uma solução” para justificar a demissão do ministro da Defesa não está à altura do apreço que Lula diz nutrir por ele.
Já não há mais saída digna possível. O ministro foi exposto ao papel de bode expiatório (sem prejuízo da inestimável contribuição de seu desempenho para tal) de uma crise de ausência geral de gestão e continua na mesma posição.

Clóvis Rossi
Folha de S. Paulo
Ficam os anéis, ficam os dedos
Deu no noticiário on-line do "Valor Econômico": "O PP reconduziu ontem para seus quadros de direção quatro personagens dos últimos escândalos de corrupção nos quais o partido esteve envolvido. Os ex-deputados José Janene (PR), Pedro Corrêa (PE) e Severino Cavalcanti (PE), além do deputado Paulo Maluf (SP), ex-prefeito de São Paulo, foram reconduzidos para compor a Executiva nacional do PP. Janene ainda foi reconduzido ao posto de tesoureiro da legenda. A sigla é importante peça dentro da coalizão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ocupa o Ministério das Cidades, um dos mais prestigiados da Esplanada".À Folha, Mário Negromonte (BA), o líder do partido na Câmara, disse: "Temos que deixar no passado as coisas ruins". Recomendou ainda "dirigir o carro sem olhar no retrovisor". A mesma edição da Folha relatava o incidente envolvendo miss Paraná, Jéssica Pereira, durante visita aos presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Arlindo Chinaglia, de um grupo de candidatas a Miss Globo Internacional.
Jéssica deixou a bolsa, com celular, maquiagem e "outros pertences" em uma poltrona bem em frente à sala de Renan. A bolsa desapareceu. Foi, aliás, o segundo caso em duas semanas.
Cuidadosa, diplomática, quando questionada pelo site G1, das Organizações Globo, sobre se esperava que pudesse ocorrer um fato como esse dentro do Senado, a menina desviou-se: "A gente pensa nisso, mas pode acontecer com qualquer pessoa em qualquer lugar".
Jéssica disse ainda ter ficado "meio chateada, mas a gente tem que seguir em frente. Como se diz: vão-se os anéis, ficam os dedos". Faz sentido. Está seguindo o conselho de Negromonte, de não olhar no retrovisor. É um bom conselho, porque, no caso do PP, ficaram os anéis, os dedos e tudo o mais.


Celso Ming
O Estado de S. Paulo
O atraso dos juros

O Banco Central vem, sim, cometendo erros na avaliação do comportamento dos preços e por isso fixa os juros acima do que seria preciso para garantir o centro da meta de inflação que, neste ano, é de 4,5%. Mas esse atraso é irrelevante na valorização do real.
A demissão do desafinado secretário de Política Econômica da Fazenda, Júlio Sérgio Gomes de Almeida, não vai arrefecer as críticas, agora não mais com o argumento de que juros altos travam o crescimento, mas de que estão derrubando o dólar a níveis incompatíveis para a produção.
No ano passado, a meta de inflação foi de 4,5%, mas os preços subiram apenas 3,1%. Ou seja, os juros poderiam ter sido mais baixos. Nesse caso, mais dinheiro na economia puxaria os preços, mas a inflação ainda assim ficaria na meta. Neste ano, o problema se repete. As projeções apontam uma inflação à altura dos 3,8%, o que parece indicar que os juros podem ser mais baixos sem prejuízo para a política de metas.
A defesa do Banco Central é tecnicamente irretorquível. A economia não é uma lancha que responde em segundos a uma manobra do piloto. É um transatlântico que tem de preparar uma curva milhas antes. Uma mudança nos juros leva entre quatro e seis meses para produzir efeito e há sempre fatores fora de controle, como mudanças dos ventos internacionais ou altas ou baixas repentinas em commodities importantes, como o petróleo.
Por isso, na execução do sistema de metas, é raro a mosca do alvo ser atingida. Como os desvios são normais, existe o intervalo de tolerância, que no Brasil é de 2 pontos porcentuais. Ou seja, neste ano, a inflação estará dentro da meta se ficar no intervalo entre 2,5% e 6,5%. Assim, não haveria do que reclamar na política de juros se a inflação ficasse ao redor dos 3,5%, como apontam as projeções. Enfim, erros assim do Banco Central são do jogo.
Mas o Banco Central tem cometido erros que poderia evitar. Um deles é subestimar o efeito China, a queda dos preços dos industrializados como efeito do aumento da oferta de mercadorias asiáticas obtidas a baixo custo de mão-de-obra e de capital. Outro, relacionado com o anterior, é subestimar o efeito câmbio no mercado interno. A queda do dólar conjugada ao aumento das importações está murchando a inflação. Por subestimar esses dois dados, o Banco Central erra nas projeções dos preços administrados, cuja trajetória é determinada por regulamentações e não pela lei da oferta e da procura.
Na execução da política monetária dos dois últimos anos, acumularam-se indícios de erros assim, nem sempre corrigidos. Mas, mesmo que o Banco Central esteja atrasado, os juros altos não explicam a queda do dólar. Esse atraso não seria mais do que de um ou dois pontos porcentuais nos juros básicos (Selic). E, mesmo se o Copom reduzisse a diferença, o efeito dos juros sobre o câmbio seria pequeno, porque são outros os fatores que vão derrubando o dólar. O mergulho do prêmio de risco (agora a 165 pontos) tem mais a ver com a valorização do real do que os juros.


Carlos Heitor Cony
Folha de S. Paulo
Fiéis e infiéis
A fidelidade partidária parece que desta vez emplaca. Está sendo saudada como a panacéia para acabar com um dos males da política nacional, o troca-troca de partidos de acordo com os interesses pessoais de cada eleito.
Os mandatos não mais seriam patrimônio pessoal dos deputados, senadores e vereadores, mas do partido. Quem não se sentisse confortável em determinada legenda, perderia a representação, dando vaga a um suplente da mesma agremiação.
Em tese, nada mais justo e democrático. O problema é que, apesar da pulverização das siglas, não dispomos realmente de partidos, embora todos eles tenham programas -que ninguém lê e que dificilmente são seguidos pelos seus membros. O PT seria uma exceção, pelo menos tentou ser uma exceção até bem pouco tempo. Seu fundador, o atual presidente da República, é o primeiro a violentar as mais importantes cláusulas do programa.O antigo Partido Comunista Brasileiro também tinha um programa que era obedecido pelos seus membros. O mesmo acontecia com a finada Ação Integralista Brasileira. Ambos eram programáticos: votava-se primeiro na legenda, depois é que se pensava nos candidatos (nos tempos do integralismo, não havia eleição, mas, se houvesse, os militantes saberiam em que estavam votando).
Devolver os mandatos ao partido seria o ideal na prática política e eleitoral, mas a realidade é que, no Brasil, ninguém vota em partido. Vota em candidatos que, por isso ou aquilo, empolgam o eleitorado.No momento, não me lembro a que partido pertence o deputado Clodovil. Teve excelente votação pessoal, os que nele votaram se lixaram para o partido que o abrigou. Digamos que Clodovil decida mudar de partido e perca o mandato. Como ficarão os eleitores que nele votaram?
DF
Correio Braziliense
Dividir para sustentar
Da mesma forma que o presidente Lula precisou montar uma base política com todos os partidos para garantir apoio no Congresso, há quem diga que chegou a hora de cada ministro formar a sua rede de proteção. Em português claro: nessa história de distribuição de cargos entre todos os partidos da base, já tem gente dizendo que, se o ministro mantiver seus postos de segundo escalão só para os seus correligionários, não terá quem o defenda na hora que precisar de aliados no Congresso. Ou seja, o sujeito que tiver só a sua turma, não terá apoio das outras. Talvez por isso, o PMDB já tenha feito a sua fezinha na divisão dos cargos com os aliados: “O presidente decidiu que cada ministro será responsável pela sua equipe. É claro que o PMDB vai querer alguns postos nos seus ministérios, mas isso não significa que não possamos promover alguma troca ou atender a algum partido da coalizão. O PMDB não criará problemas nessa questão”, comentou o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).
Conversas presidenciais I
Em recente conversa com parlamentares petistas, o presidente Lula foi informado que, em termos de reforma política, dois terços da bancada deseja a eleição por lista. A briga é que tipo de lista: uns querem a lista fechada, ou seja, o partido decide a ordem dos deputados. Outros preferem a lista flexível, isto é, a votação de cada um no último pleito garantiria o seu lugar na lista partidária. Lula nem piscou. Não pretende ser candidato a deputado. Conversas presidenciais II
O presidente só se pronunciou quando o assunto foi o mandato presidencial. Lula disse que prefere cinco ou seis anos, sem direito à reeleição. Antes que as más línguas vejam segundas intenções, Lula foi categórico ao dizer que não quer saber de um terceiro mandato. Pelo menos, consecutivo. Inimigo meu
Um dos motivos por que Lula não troca o ministro da Defesa, Waldir Pires, por Aldo Rebelo (PCdoB-SP) tem relação direta com o PT paulista. É de lá que vem a maior pressão para que o ex-presidente da Câmara não volte à ribalta e, bem-sucedido, se apresente com força para disputar a prefeitura no ano que vem.
Rasteira
Conforme avisado ontem por esta coluna, o deputado Paulo Rubem Santiago (PT-PE) — aquele que foi ao Tribunal de Contas da União pedir cópia das auditorias na Infraero no Tribunal — perdeu a relatoria da Lei de Diretrizes Orçamentárias. Quem faturou a vaga foi o deputado João Leão (PP-BA). O PT alegou que a ordem do Palácio do Planalto é dividir, ao máximo, espaço com os partidos da coalizão. E para vice-líder do governo no lugar de Leão, foi indicado o deputado Valter Pinheiro (PT-BA), como uma compensação por não ter sido ministro do Desenvolvimento Agrário. Paulo Rubem, presidente da Frente Parlamentar de Combate à Corrupção, ficou a ver navios.
Coração de mãe
O governo criou uma nova vaga de vice-líder do governo na Câmara para abrigar o deputado Gilmar Machado (PT-MG), ex-presidente da Comissão Mista de Orçamento. Já no Senado, a líder do governo, Roseana Sarney (PFL-MA), quer a mesma coisa: abrir um novo posto de vice-líder na Casa. No cafezinho
Idade é covardia!/ A disputa pelas duas vagas do PMDB no Parlamento do Mercosul foi tão ferrenha que houve empate para o segundo lugar, entre a deputada Íris de Araújo (GO) e César Schirmer (RS). Quando o critério de desempate foi decidido — a vaga caberia ao mais velho —, o deputado Eunício Oliveira (foto) saiu-se com esta: “Vai que é tua, Schirmer. A Íris não vai revelar a idade nunca!”. Coincidência ou não, a deputada, que já vice-presidente nacional do PMDB, cedeu a vaga ao gaúcho e ficou como suplente do partido no Mercosul.
O conselheiro/ Entre aqueles que vêem maldade em tudo, houve quem percebesse um quê de intriga no que vazou da conversa do senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA) com o presidente Lula. Tipo assim, “não acredite tanto no que lhe diz o PMDB”. Até parece que Lula não sabe.
Por falar em PMDB…/ Depois dos senadores do PT, Lula jantará com os peemedebistas na próxima quarta-feira. O encontro será na residência oficial do Senado, ocupada atualmente pelo presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL). Ontem foram expedidos os convites para os cinco ministros, os sete governadores, os 92 deputados, os 20 senadores e outros ilustres. Pelo que se comentava à boca pequena, o convescote será financiado pelo PMDB, mas, oficialmente, ainda não foi esclarecido quem pagará a festança, o partido ou o Orçamento do Senado.
Golpe baixo/ Passada a quarta-feira sem paralisação total nos pousos e decolagens, a turma ligada ao presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, responsabilizava a oposição por espalhar o boato de um novo apagão aéreo só para não ter quorum ontem. E dito e feito: nada foi votado.


Ari Cunha
Correio Braziliense
Hierarquia assegurada
Presidente Lula se opôs a qualquer punição que atingisse os controladores de vôo. Estava aberta a porta para a indisciplina. Companhias estrangeiras passaram a monitorar seus aviões em céus brasileiros. Um aparelho americano recebeu ordens para sobrevoar parte do Brasil esperando oportunidade para tomar a direção do seu país. O comandante entrou em contato com a torre americana e recebeu ordens para voar em aerolínea livre. Informou à torre de Manaus que iria voar orientado pelo seu país. E foi embora. Naquele momento a classificação da aviação brasileira sofreu forte golpe e poderia ser rebaixada da maior segurança onde se situa faz anos. E os controladores ameaçaram paralisação. Chegando ao Brasil havia promessa do presidente Lula de receber os amotinados. O bom senso da Aeronáutica prevaleceu com o apoio das Forças Armadas. Foi quando o presidente Lula declarou que ”com a faca no pescoço” o governo não decidiria. Abortou o movimento de insubordinação, e a disciplina voltou ao ambiente. Mas nem tudo está debelado porque existe a indisposição entre os civis com obediência à Aeronáutica. Cabe ao país defender a tranqüilidade que tem aviltado a existência da população que se transporta todos os dias.
A frase que foi pronunciada
“Ministro não precisa ser um Pelé. Precisa ser bom técnico para ganhar o jogo.”
Ministro Luiz Fernando Furlan se despedindo do governo e dando conselho a quem estava presente
Mudanças Armando Monteiro Neto não faz segredo. O presidente da CNI entende que a economia tem vivido processo de estagnação porque não se fazem as reformas. Sugere que, em caso de não se fazer reforma estrutural, convém introduzir agora melhorias no sistema tributário, sem apenar investimentos.
Embaixador Não é só Jaraguá, Brasília também sofre a morte do embaixador Celso Machado. Figura querida, pioneiro de Brasília, originário de família com a maior ligação com a construção da capital, sempre foi sincero em dizer e alegre em conversar. Procurador aposentado, jamais abandonou os amigos. Queria bem aos que dele gostavam ou dizia o que quisesse contra os que assim não procedessem. Vai-se Celso Machado. Seu exemplo fica em família e entre os amigos. Foi um grande exemplo de vida.
Novidade Apresentado pelo senador Sergio Zambiasi projeto de lei que obriga a identificação do apostador de loterias administradas pela Caixa. A idéia é inscrever o CPF no ato da aposta para evitar que os jogos continuem como lavanderias de dinheiro escuso.
1000 Minas e São Paulo mobilizam 1.000 vozes para a missa que o papa Bento XVI vai celebrar em São Paulo. Padre Jonas Abib e Marcelo Rossi estão empenhados na ajuda ao maestro Ricardo Mielli. As partituras já foram distribuídas em todas as paróquias.
Soltos Para inflar a musculatura ou dançar numa festa por 12 horas completamente alucinados, os jovens buscam as lojas de produtos veterinários. Vigilância Sanitária, Ministério da Agricultura, Polícia, todos estão atentos para reagir. Festas rave são o ponto de encontro onde a burocracia governamental tudo permite.
Censo 2007
No primeiro censo agropecuário do século XXI, os jovens recenseadores vão operar num questionário digital em um computador de mão. A transmissão dos dados é direta. A pesquisa começa em Mato Grosso e, até o dia 16 de abril, será estendida a todo o país. Daniel Ioshiteru Kinpara, especialista da Embrapa, explica que os dados definirão o destino das linhas de pesquisa.
Pedras Em busca de frear o tempo, pelo menos na aparência, há novidades no mercado. A Hair Brasil, Feira de Beleza que começa no dia 13 em São Paulo, traz pedras preciosas em creme que substituem preenchimento injetável. Turmalina e cristais são a atração.
História de Brasília
Nestes casos, é sempre bom que se digam os nomes: as caixas de contrabando traziam o nome do engenheiro Anastácio Maia, encarregado das obras da construção de Orós. Em outras, havia o nome de Cezar Fiúza, comerciante estabelecido em Fortaleza. (Publicado em 18/11/1960)




Alberto Tamer
O Estado de S. Paulo
Brasil acerta e se aproxima dos EUA
Apesar do desentendimento quanto à exploração de petróleo no Irã, a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirma a abertura que o Brasil está dando nas suas relações com os Estados Unidos. Lula tem se afastado de Hugo Chávez - sabe-se agora que o presidente venezuelano deu assistência jurídica à Bolívia na desapropriação de refinaria brasileira - e há um clima novo quanto aos EUA. Isso é importante, representa um grande passo a frente.
No cerne desse novo relacionamento, está o álcool. Lula queixou-se da tarifa de importação de 0,54% por galão imposta pelos EUA. Mas tanto Bush quanto Lula sabem que o Brasil não tem como suprir a demanda americana nem hoje, nem em 2008. Produzimos 18 bilhões de litros, consumimos 14,1 bilhões. Exportamos 2 bilhões para os EUA, com uma receita considerável mas apenas porque porque os preços aumentaram. Não poderíamos exportar mais. Este é o momento de instalar novas usinas e ampliar o plantio de cana.
EUA TERÃO DE IMPORTAR
Só para avaliar o gigantismo da demanda americana, para substituir 15% da gasolina por álcool, os EUA precisam de 132 bilhões de litros! Eles serão obrigados a importar compulsoriamente, pois sabem que não pode usar amplamente o milho como fonte produtora de álcool por causa do risco da inflação. Os preços dos alimentos à base de milho já estão muito elevados. E mesmo que produzam combustível alternativo de outras, jamais conseguirão atender à demanda.
AGORA, INVESTIR E PRODUZIR
Dessa forma, o que temos de fazer é instalar novas usinas, atrair investimentos externos que já estão vindo para esse setor. Assim, nos transformaremos no maior exportador de álcool e sua tecnologia para o resto do mundo. Tem havido uma grande atenção sobre o imposto americano. Os EUA são nosso principal mercado, mas não são os nossos importadores finais. Está aí o primeiro-ministro italiano pedindo apoio do Brasil, estão aí a China e o Japão, já investindo em alcooldutos. A União Européia, como um todo, será a retardatária, pois está assomada por sua bizarra crise de consciência. Faz ressalva ao uso do álcool porque teme pela redução de produção de alimentos o que prejudicaria os países mais pobres que vierem a substituir lavouras por cana-de-açúcar... Ressalvas também feitas por Hugo Chávez e Fidel Castro. A Itália e outros países da comunidade já disseram não acreditar nesse risco. Ainda mais a Europa que se encontra em posição vulnerável quanto ao abastecimento de petróleo e gás do Oriente Médio e Rússia, não poderá afastar essa nova opção criada pioneiramente pelo Brasil.
ESTAMOS INDO
Hoje, estima-se que em 2012 o Brasil estará produzindo de 30 a 35 bilhões de litros, permitindo, então, triplicar ou até mesmo quadruplicar as exportações sem prejuízo do abastecimento interno. Começamos muito mais cedo e eles apenas ensaiam agora os primeiros passos de uma longa caminhada para substituir gasolina por álcool. Poderíamos mesmo atender à grande parte da demanda americana se o próximo governo fixar uma cota de 15% sem o imposto atual.
ÁLCOOL É MUITO MAIS
É preciso ficar atento para um fato muitas vezes esquecido. Produzir 30 bilhões de litros implica em aumentar consideravelmente a demanda interna de produtos industriais e, além disso, irrigar o campo com um afluxo de recursos jamais visto em prazo tão curto de tempo. Isso é o extraordinário álcool. Mesmo antes das usinas estarem operando, a riqueza está chegando ao campo, que pode se transformar em novo fator interno de crescimento.
ESTAMOS CERTOS
Em resumo, estamos no caminho certo. Fechar grandes acordos com países desenvolvidos ou emergentes sedentos pelo novo combustível. Tem surgido entrevistas bizarras de economistas e técnicos que falam apenas para aparecer nos jornais. Uns, invocam a preservação do meio ambiente, a ameaça à Amazônia ignorando, ou pretendendo ignorar, que o solo amazônico não se presta a essa cultura. Outros, que vai faltar ou encarecer alimentos pela substituição de culturas. E ainda os eternos pregadores da carência de álcool para o mercado interno com privilégio para a exportação. Aí estão a Petrobrás e as usinas prontas para fazer estoques estratégicos. Mais ainda, nosso consumo interno não crescerá na mesma proporção do externo, isto é, com uma produção esperada de 35 bilhões de litros, não faltará álcool para o Brasil.
Resumindo estamos sim no caminho certo nos esforçando para aumentar a produção, num círculo virtuoso de investimentos externo e interno, produção, geração de emprego, aumento do consumo e daí mais produção. Tudo isso estimulado pelo que sempre esta coluna defendeu, a estratégia de usar o sequioso mercado externo para trazer recursos e promover um crescimento sustentável.
A porta está aberta e já passamos por ela. Não há nada que nos impeça de avançar, pois todos os argumentos desfavoráveis já foram desmoralizados. É seguir em frente lembrando sempre que não só os EUA, mas o mundo espera por um álcool que só nós temos como produzir em grande escala e a preços competitivos



Sônia Racy
O Estado de S. Paulo
Com a saída de Gomes de Almeida, Fazenda se alinha ao BC
Diferentemente do que muitos acreditavam, o ministro Guido Mantega caminha, cada vez mais, para posições alinhadas com o pensamento mais conservador. A saída de Júlio Gomes de Almeida do cargo de secretário de Política Econômica é um sinal disto. Afinal, Gomes de Almeida simplesmente repetiu, anteontem, o que vem dizendo há anos, dentro e fora do governo Lula. Não há nenhuma novidade ou surpresa em relação às suas declarações. O economista sempre achou que câmbio e juros estão fora de lugar e, em toda oportunidade que teve, disse isso de forma indireta ou, então, como esta semana, com todas as letras.
O fato é que Mantega, ante as declarações de Gomes de Almeida, que se contrapôs às de outro secretário, Nelson Barbosa, aproveitou o ensejo e resolveu aceitar o pedido de demissão feito na segunda-feira. Não é de hoje que o agora ex-secretário vem conversando com Mantega sobre sua intenção de deixar o ministério. Isso vem ocorrendo pelo menos desde dezembro do ano passado. Por quê? Por diversos motivos. Parte das medidas montadas pelo economista, como a conta salário, foram desvirtuadas. Sugestões sobre política econômica não andaram. E, pessoalmente, Gomes de Almeida teve problemas de saúde. Passou boa parte do mês de fevereiro de cama, com uma forte pneumonia.
Não se sabe exatamente o que pode mudar com o retorno de Bernard Appy para a Secretaria de Política Econômica e com o convite a Nelson Machado para ocupar a Secretaria Executiva do Ministério. Reforma tributária? Doze entre dez tributaristas de renome não acreditam que ela possa ser feita neste ou nos próximos governos. A falta de sintonia entre União, Estados e municípios em relação ao que fazer é quase histórica. Alguns ajustes devem sair do papel, mas poucos, diante do que o País precisa para ter uma tributação eficiente e que não onere o setor produtivo. Previdência? Nesta questão, o presidente Lula foi claro: não vai mexer nisso, preferiu mexer na forma de cálculo do déficit previdenciário que hoje é menor. Agora, que as relações entre BC e Fazenda vão melhorar, lá isso vão.
IMPRESSÃO DIGITAL
Alfredo Setubal, presidente da Anbid, levou esta semana ao presidente da CVM, Marcelo Trindade, um balanço das iniciativas da associação dentro do programa de educação continuada do setor. Além de ter lançado a versão online do exame de certificação para profissionais que trabalham em agências bancárias ou que lidam com investimentos financeiros, a Anbid contabilizou em março um número recorde de 575 instituições financeiras, entre bancos, corretoras, assets, cooperativas de crédito e consultores, participando do programa.
E um total de 25 mil profissionais certificados no ano passado, quase o dobro do número registrado em 2005.
NA FRENTE
FINALIZADO
O Banco Safra concluiu a captação de R$ 300 milhões a serem liquidados em dólares. A emissão em reais é a de prazo mais longo já realizada por um banco brasileiro.
Os papéis são de 10 anos, com juros semestrais à taxa de 10,875% ao ano e preço de emissão de 99,253%.
NO AR
A Air China anuncia, semana que vem, sua primeira freqüência São Paulo-Pequim.
NO AR 2
Apesar do preço pago pela Varig - quatro vezes maior que o desembolso do Fundo Matlin -, a Gol conseguiu um “escudo” contra o alcance das ações trabalhistas da empresa.
O que está fazendo alguns funcionários da Varig pensarem que estava tudo acertado desde o começo.
MATURIDADE?
Os mercados brasileiros nem sequer piscaram com as mudanças no Ministério da Fazenda.
Estão mesmo preocupados com o número que o Departamento do Trabalho dos EUA irá divulgar amanhã para o payroll de março.
GIGANTE
Entrou em operação ontem a maior bolsa de valores do mundo e a primeira transatlântica: terá uma média diária de negociação acima de 78 bilhões, 4.500 empresas cotadas e presença em sete das maiores cidades do mundo. Cinco na Europa.
Trata-se da fusão da Nyse com a Euronext, o que significa a união dos mercados de Nova York, Paris, Amsterdã, Bruxelas, Londres, Lisboa e Chicago.
GUERRA
A CEF está licitando um novo fornecedor de vale-refeição. E os empresários do ramo estão atentos. Acham que na licitação não há exigência de comprovação de solidez financeira compatível para quem vai receber mais de R$ 1 bilhão para administrar.
Quatro competidores chegaram a pedir anulação da licitação. Como não foram atendidos, já estão se preparando para uma batalha.
ACELERADO
O impostômetro criado pela Associação Comercial de São Paulo não pára. De 1º de janeiro até a tarde de ontem, os impostos pagos no Brasil já estavam batendo na casa dos R$ 442 bilhões. Ou quase R$ 1.200 por brasileiro.
Considerando apenas São Paulo, os impostos já somam quase R$ 91 bilhões, ou R$ 2.245 por pessoa.


Tereza Cruvinel
GLOBO
O tranco e seus efeitos
Os feriados da Páscoa chegam com o sobressalto da semana dissipado. Problemas há, mas o pior passou nesta crise militar gerada pela crise da aviação civil - apesar do ceticismo dos brasileiros quanto à normalidade do sistema, prometida pela Aeronáutica. Aos protagonistas do episódio, do presidente da República aos sargentos, cabe tirar lições do episódio. Nele, o presidente Lula executou uma de suas mais bruscas manobras de reposicionamento político. Mas também a Aeronáutica fez valer o ditado: "Porta arrombada, cadeado nela". Está fazendo agora tudo o que não fez em seis meses de crise no setor.
O débito, é bom dizer, é do comandante anterior, brigadeiro Bueno, e não de Juniti Saito, que entrou há pouco, pegou o temporal e está saindo fortalecido.
Entre sexta-feira à noite, quando o ministro Paulo Bernardo optou pela negociação com os controladores rebelados - depois de Saito admitir que a Aeronáutica não tinha plano B para o caso de uma greve geral após as prisões - e a tarde de terça-feira, quando o mesmo Paulo Bernardo avisou-os de que o acordo caducara (por força da reação dos militares), o presidente Lula executou sua mais brusca mudança de conduta no governo. Na véspera, em reunião com os comandantes das três armas, deve ter vivido um de seus momentos mais difíceis. Mais uma vez, ele explicitou sua criticada facilidade para mudar de posição, faltar a compromissos e abandonar aliados, em nome de seus objetivos políticos. Mas pode-se ver também nessa disposição para retroceder e trocar de caminho a abertura para corrigir erros em nome do interesse público - ainda que isso lhe custe danos à vaidade e à própria imagem.
É óbvio que Lula cometeu um grande equívoco, subestimando a questão hierárquica com uma visão sindical do problema. Não foi a primeira vez que se meteu em grandes confusões e teve que recuar. Em todas, faltou-lhe o aconselhamento correto de auxiliares mais próximos, em sua maioria muito reverentes, mais dispostos a concordar do que a ponderar. Foi o que ocorreu, por exemplo, na decisão de expulsar do Brasil o jornalista americano Larry Rohter. O então ministro Márcio Thomaz Bastos construiu o recuo. Mas foi desta vez que um ato seu resultou em maior ameaça à estabilidade de seu governo. Ele mesmo administrou o recuo, expondo o ministro Paulo Bernardo, que empenhara sua palavra aos controladores.
A capacidade de recuar, corrigir-se e mudar de rota para evitar o pior o diferencia de um personagem muito evocado estes dias, o ex-presidente João Goulart. Lula deixou os sargentos de lado para se realinhar à hierarquia militar, homenageando a disciplina com que transigira inicialmente, querendo ou não. Jango fez o contrário muitas vezes, e, de forma fatal, comparecendo ao famoso evento (também de sargentos) no Automóvel Club, um provocação à cúpula militar, que a seguir o derrubou. Fora avisado, mas não recuou.
Um alto oficial da Aeronáutica dizia ontem que todos ali ficaram muito chocados e revoltados mas compreenderam, a começar por Juniti Saito, que Lula "não agiu com dolo". Ou seja, intencionalmente. Isso não o redime, é claro, mas conhecer as sinuosidades de seu processo decisório é relevante para compreender seu governo.
Mas não foi Lula o único a corrigir-se neste episódio, depois do sobressalto. A ele bem se aplica também o ditado: "Porta arrombada, cadeado nela". Os controladores-sargentos agora se dão conta de que são militares e sujeitos a regras disciplinares próprias. Desligados da corporação, trabalhando nos Cindactas, parecem ter se esquecido disso. Acordaram até para o fato de que, com a desmilitarização do setor, perderiam regalias, como a moradia e o bom hospital militar.
A Aeronáutica agora tem um plano B. Garante que será capaz de mobilizar controladores substitutos no caso de uma outra (improvável) paralisação. Mas por que não fez isso antes, se há seis meses vêm ocorrendo operações padrão que foram ensaios de greve? Verdade que isso não é com Saito, mas com seu antecessor. Agora se sabe que pelo menos dois "problemas técnicos" foram atos de sabotagem: o estrago num equipamento de comunicação em Brasília, que necessitou de um técnico estrangeiro para ser consertado, e o problema de Cumbica, no equipamento de pouso guiado sob nevoeiro. Mas por que a Aeronáutica não investigou a suspeita de sabotagem, há tanto tempo mencionada?
Tudo aconteceu porque havia déficit de disciplina, de autoridade e de competência. Foi preciso um susto desses para tirar todos da letargia e do nevoeiro mental.
Bronca de Lula nos senadores petistas. Só dois ou três defenderam o governo na crise de 2005. Suplicy, Paim e Delcídio nem pareciam petistas. O outro lado do PP
Os pepistas asseguram que os mensaleiros não dominam a nova Executiva, que tem a hegemonia do grupo que sempre os combateu. A começar do presidente Nélio Dias, que tem como primeiro vice o senador Francisco Dornelles. A segunda vice ficou com o deputado Ricardo Barros. Benedito Domingos é o secretário-geral e Esperidião Amin, o presidente do Conselho Consultivo. O tesoureiro-geral escolhido foi Leodegard Tiscosky (SC). José Janene foi eleito seu suplente como primeiro tesoureiro. Já Pedro Corrêa, cassado, e Severino, que renunciou para escapar da cassação, são mesmo vogais da Executiva.